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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 27 de abril de 2024


Roberto Elísio   
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Por Roberto Elísio - 6/10/2015 19:10:13
(...) Recebi, com a especialíssima atenção que sempre dedico a tudo que vem de você, as mensagens a propósito do meu escrito sobre o centenário do imortal Orlando Silva. Agradeço-lhe as referências generosas. São suspeitas, porém, pelo fato de você ser um dos meus mais queridos e velhos amigos. Quanto ao reparo delicadamente feito pela Iara Tribuzzi, que você informa ser “natural de Salinas e residente em BH”, apresso-me em esclarecer. O grande sucesso “Nada além”, de autoria de Custódio Mesquita (música) e Mário Lago (letra) foi gravado pela primeira vez em 1938 e imortalizado pela beleza da voz e o poder interpretativo do eterno “Cantor das Multidões”. No linguajar usual do cancioneiro popular brasileiro, referir-se a alguém como “o criador” de determinada composição, é o mesmo que identificar quem, pela primeira vez, gravou aquela determinada composição. O criador do sucesso da composição “Nada além” foi Orlando Silva. O autor da música de sucesso foi Custódio Mesquita. E o autor da letra de sucesso foi Mário Lago. E não custa repetir que o ano do sucesso foi 1938, quando nenhum de nós (eu, você e, sem dúvida alguma, a autora do comentário) ainda havia nascido. Peço-lhe a gentileza, se possível, de encaminhar esse esclarecimento à Iara. Saudosos abraços, Roberto Elísio.

Em tempo: hoje é terça-feira. Como a noite já desceu, também estou descendo para o botequim tradicional, em direção ao qual o nosso Fausto Matta-Machado já deve ter descido. O nosso Zé Bento, o outro dos três antigos ocupantes da mesma mesa, infelizmente decidiu tomar rumo contrário. Subiu.

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(N. da Redação - O jornalista Roberto Elísio foi Editor de Política e Diretor de Redaçao do Estado de Minas. Primoroso redator, é um dos maiores especialistas em Orlando Silva, no Brasil. Naturalmente, nasceu na imperial cidade de Santa Luzia.)


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Por Roberto Elísio - 2/10/2015 16:59:20
O centenário do imortal seresteiro

Roberto Elísio

Um grupo de luzienses composto por representantes de velha guarda e de gerações intermediárias está cuidando de fazer realizar no mês de outubro próximo, se possível no dia 3, uma emocionada serenata na cidade, para marcar o centenário de nascimento de Orlando Silva, o maior cantor brasileiro de todos os tempos, como unanimemente o consideram os mais respeitáveis estudiosos da evolução histórica do nosso cancioneiro popular. Em termos de beleza de voz e de poder interpretativo, do samba rasgado às suaves valsas e canções seresteiras, nunca qualquer outro se nivelou a ele. Nem antes nem depois da notável trajetória do menino pobre nascido no dia 3 de outubro de 1915 no Bairro do Engenho de Dentro, no subúrbio do Rio de Janeiro, e que com apenas 18 anos de idade já se tornara uma referência no cenário artístico do país, que passou a aclamá-lo como “O Cantor das Multidões”. Sua morte, em 7 de agosto 1978, antes de completar 63 anos, emocionou o Brasil inteiro. O sepultamento, no dia seguinte, parou o Rio. Como nunca ocorrera antes, nem depois, segundo registrado recentemente pela revista “Veja”.
As gerações mais jovens de Santa Luzia, que não conheceram Orlando Silva, certamente nada sabem também sobre sua extraordinária importância na história da música popular brasileira. Basta lembrar que ele surgiu justamente na era de ouro do rádio, que apresentava, entre outros nomes de sucesso, três astros então já nacionalmente consagrados: Francisco Alves, “O rei da voz”, Sílvio Caldas, “O seresteiro do Brasil”, e Carlos Galhardo, “O cantor que dispensa adjetivos”. Embora tenha aparecido depois, Orlando, em pouco tempo, já era considerado o maior de todos eles, tanto em vendagem de discos quanto à empolgação que despertava junto ao público de todas as idades, classes sociais e sexo. No início da década de 40, uma apresentação dele em Belo Horizonte, mais precisamente no auditório da Rádio Guarani, na esquina da Rua São Paulo com Avenida Afonso Pena, acabou por exigir a presença no local da polícia Militar, que teve de intervir e instalar nas imediações um forte cordão de isolamento, a fim de impedir que centenas de fãs mais exaltadas continuassem rasgando o seu terno para guardar um pedaço do pano como troféu..
Uma comissão em nível nacional, instituída no Rio – e da qual faz parte inclusive o senador José Serra, ex-governador de São Paulo, ex-ministro e ex-candidato à Presidência da República – está elaborando, desde janeiro, cuidadosa programação para celebrar a passagem do centenário de nascimento do insuperável criador de “Carinhoso”, “Sertaneja”, “Nada além”, “A jardineira”, “Lábios que eu beijei” e dezenas de outros sucessos inesquecíveis que tanto enriqueceram a alma musical do Brasil. E como a ciência já se encarregou de dizer que as palavras não se perdem no tempo, porque permanecem vagando indefinidamente pela imensidão do universo, a voz do grande Orlando Silva também passou a pertencer à história das madrugadas seresteiras de Santa Luzia, essa romântica e doce cidade que a mão divina plantou há mais de três séculos à margem do Rio das Velhas e à sombra simbólica da Serra da Piedade. No auge de seu mais estrondoso sucesso, no final da década de 50 e início dos anos 1960, “O cantor das multidões” esteve por duas vezes iluminando a noite luziense com a beleza de suas interpretações, trazido pelas mãos do saudoso jornalista Antônio Tibúrcio Henriques, que Orlando tinha como um de seus maiores amigos em Minas Gerais: a primeira, durante show no velho Cine Trianon, onde lançou, inclusive, uma marcha de Carnaval que ainda não havia sequer gravado. A letra, da qual me lembro do início ao fim com muita saudade, fala em flores vegetais e em flor mulher: “Eu era apaixonado pela rosa/ Depois apareceu a margarida/ Gostei da magnólia mais formosa/ Hortênsia sempre foi a minha vida/ Camélia, violeta e outras flores/ Chegaram a tomar conta de mim/ Confesso que elas são os meus amores/ Mas tá faltando flor no meu jardim/ Bem me quer, mal me quer/ Essa flor é a mulher”. A outra presença na cidade ocorreu no Clube Social Luziense. Orlando não aceitou qualquer pagamento de cachê pelas apresentações, ao saber que a renda dos espetáculos se destinaria ao custeio dos festejos em honra da padroeira da cidade. Os shows de Orlando continuaram depois pelas ruas centrais de Santa Luzia, que se transformou na capital mineira da seresta. Choveu gente de várias regiões do Estado, das áreas urbanas e rurais, como foi o caso do nosso sempre jovial Dodô da Cachoeira, que veio a cavalo de sua fazenda, embora ela ficasse mais de 20 quilômetros de distância do centro, e rompeu a madrugada em meio a violões e clarinetas no acompanhamento ao insubstituível intérprete de “Caprichos do destino”.
É exatamente no Clube Social Luziense, local da última apresentação de Orlando Silva na cidade, que a comissão formada em Santa Luzia sob o comando do advogado, compositor e clarinetista Vicente Sandim pretende celebrar os 100 anos de nascimento do maior cantor brasileiro de todos os tempos. As instalações da agremiação, bastante desgastadas em decorrência de um longo período de inatividade, estão sendo restauradas por iniciativa da conterrânea Matilde Franco Diniz, atual responsável pela sua manutenção. Ela vem se mobilizando no sentido de colocar o recinto em ponto de bala para a reverência à memória de quem, inclusive tendo como base o cenário colonial de Santa Luzia, tanto encantou o país com suas admiráveis interpretações.
Orlando Silva, o ser humano, morreu antes de completar 63 anos de idade. A beleza incomparável de sua voz, todavia, permanecerá para sempre. Foi imortalizada pelas modernas técnicas de reprodução sonora e pelo milagre da saudade...
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(N. da Redação - O jornalista Roberto Elísio foi Editor de Política e Diretor de Redaçao do Estado de Minas. Primoroso redator, é um dos maiores especialistas em Orlando Silva, no Brasil. Naturalmente, nasceu na imperial cidade de Santa Luzia.)


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Por Roberto Elísio - 15/4/2015 10:54:22
História e vida feitas de canções

Roberto Elísio

Remexendo dia desses em velhos livros que conservo como verdadeiras relíquias, voltou-me às mãos o excelente “A canção no tempo – 85 anos de músicas brasileiras: 1901-1957”, de autoria de Jairo Severiano e Zuza Homem de Melo, duas das mais respeitáveis autoridades sobre o assunto. A primeira edição da obra chegou ao mercado editorial em 1997 e alcançou tanto sucesso que impôs uma segunda edição um ano depois. A capa da publicação exibe uma fotografia da sambista Marília Batista (13/04/1918 – 09/07/1990) ao violão, tendo ao seu lado, atento e de braços cruzados a ouvi-la, o sempre citado Noel Rosa, um dos nossos maiores compositores populares de todos os tempos, embora tenha vivido apenas 27 anos: nasceu em 11 de dezembro de 1910 e morreu em 4 de maio de 1937, no Rio de Janeiro. A um canto, aparece também o então quase menino Orlando Silva (Rio, 03/10/1915 – 07/08/1978), que se tornaria pouquíssimo tempo depois no até hoje insuperável “Cantor das Multidões”.
A 4ª capa da preciosa publicação traz a foto, dançando, de outras duas figuras imortais da história e da vida musical brasileira. A moça é a cantora Carmen Miranda, que nasceu em Portugal no dia 9 de fevereiro de 1909 (mas que veio para o Brasil com menos de um ano de idade), e morreu nos Estados Unidos, onde fazia uma série de shows, em 5 de agosto de 1955. Seu par na pose, circunspecto, de terno e gravata, é o consagrado compositor mineiro Ary Barroso, nascido em Ubá em 7 de novembro de 1903 e que morreu no Rio de Janeiro a 9 de fevereiro de 1964, em pleno Carnaval, por ironia do destino um dos temas preferidos pelo talento de suas criações.
Este pequeno relato entra aqui, porque o livro me foi trazido a Santa Luzia por especialíssima gentileza de um amigo muito querido, de extrema sensibilidade, e que durante muitos anos foi meu companheiro de trabalho na redação do “Estado de Minas”, nos velhos e saudosos tempos da Rua Goiás: o jornalista montesclarense Paulo Narciso, hoje titular de cartório por concurso e proprietário da principal emissora de Rádio de sua acolhedora terra natal. Paulinho carrega um espírito que se assemelha muito ao estilo luziense de ser, como Montes Claros, onde ele nasceu e mora, tem muito do comportamento lírico-seresteiro da Santa Luzia de sempre. Ele me trouxe o livro de presente no dia de meu aniversário, no já distante ano de 1999, quando aqui veio para tomar mais uma cerveja, das muitas que já consumimos juntos ao longo da vida. Sua dedicatória representa a reafirmação de uma amizade que o passar da vida só soube consolidar: “Para Roberto Elísio, no dia de suas bodas, estes índices tão recorrentes em 30 anos de constante camaradagem e aprendizado, sempre e sempre reunidos pelo lirismo, insuperável, que a noite inspira a todos nós, “homens do interior mineiro”. Com a estima do Paulo Narciso, na Imperial Cidade de Santa Luzia, em 29/01/1999.”
Os “índices recorrentes em 30 anos de constante camaradagem” se referem ao conteúdo do livro, que relaciona, classifica e analisa as canções que o povo brasileiro – e, por decorrência natural, de Santa Luzia e de Montes Claros - consagrou através dos anos de 1901 a 1957, oferecendo uma abrangente visão musical de toda aquela época, considerada a fase áurea da música popular no Brasil. É a história musical da primeira metade do século XX no país, cantada por suas canções de maior sucesso, “das modinhas de Eduardo das Neves, Cadete e Baiano da Casa Édison, às composições pré-bossa nova de Dolores Duran, Luiz Bonfá e Antônio Carlos Jobim nos anos cinquenta.
O cenário de toda a narrativa do livro se concentra no Rio de Janeiro, a eterna capital brasileira da música, da poesia popular e do lirismo que caracterizava a vida docemente malandra de outros tempos. Para nós, luzienses, a romântica viagem ao passado é quase a mesma. Basta trocar a referência à Casa Edison pelo Bar Natal e madrugadas da Rua Direita. Outros são também os personagens a se recordar: Gê e Rolando de Brito, Vicente Malaquias, Antônio Tibúrcio Henriques, Modestino Neto e Fontenele. O encantamento que a música inspira é idêntico no Rio de Janeiro, em Santa Luzia e na incorrigível seresteira Montes Claros do meu amigo Paulinho Narciso. É só fechar os olhos...

(Roberto Elísio é jornalista em BH; foi editor de Política e Diretor de Redação do jornal Estado de Minas)


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Por Roberto Elísio - 1/5/2012 17:42:38
Foi-se também o Oswaldo

Roberto Elísio - Jornal Hoje em Dia

Durante alguns anos - e em duas oportunidades - tentei manter por maior tempo em minha terra natal, Santa Luzia, um suplemento quinzenal voltado exclusivamente para os assuntos locais. Primeiro, na década de 60, ao lado do meu sempre tão saudoso conterrâneo e parente Jaime Carlos Afonso Teixeira, o incorrigível sonhador Afonso de Marieta, lançamos o "Carta Branca", que teve duração efêmera. Nossa cidade ainda era quase uma só família, muito longe de se transformar num pujante parque industrial, muito menos de sofrer a convulsionante explosão geográfica dos dias atuais.
Algum tempo depois, tendo como companheiro o igualmente saudoso conterrâneo e amigo João Batista Machado Maia, o João Pedra, entregamos ao leitor o "Correio Luziense", que teve o mesmo destino da publicação que o precedeu: deixou de circular por absoluta falta de anunciantes e, por decorrência, sobreveio sua inevitável morte por carência de recursos mínimos para manter viva a publicação.
Imagino, portanto, as enormes dificuldades enfrentadas pelo jornalista Oswaldo Antunes, que por puro idealismo e disposição incontida de servir à sua cidade, por longos e longos anos lá manteve "O Jornal de Montes Claros", depois de haver pertencido, nas décadas de 40 e 50 do século passado, ao quadro de redatores políticos do antigo "O Diário", trabalhando lado a lado com intelectuais da expressão de Hélio Pelegrino, Edgard da Matta Machado, Alphonsus de Guimarães Filho, Otto Lara Resende, Fernando Sabino, José Mendonça e Milton Amado.
Oswaldo morreu no último dia 11, aos 88 anos de idade. É mais um que desfalca uma das mais brilhantes gerações da Imprensa mineira, à época militando entre os jornais "Estado de Minas", "Diário da Tarde","Folha de Minas", "Diário de Minas" e "O Diário", todos eles, ou quase todos eles, contando com o talento de outros montes-clarenses ilustres, como Hermenegildo Chaves, o inesquecível Monzeca.
Formando-se em 1951 pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, o jornalista Oswaldo Antunes retornou a Montes Claros, já então em caráter definitivo, para assumir, dois anos depois, o comando do seu jornal. Como jamais se ligou a grupos econômicos ou políticos, fiel a um jornalismo exercido mais por força de uma vocação do que pelas possíveis benesses da profissão, sofreu incompreensões, amargou decepções, ingratidões e injustiças. Afinal, a tudo relevou, convencido de que nem só de espinhos são feitos os caminhos da vida.
Talvez por isto - ou exatamente por isto - a morte o levou em paz consigo mesmo. O legado que ofereceu, como já ressaltado aqui ao lado, em bela crônica de seu conterrâneo, também jornalista e também escritor Manoel Hygino dos Santos, foi a cristalina transparência de sua própria vida.
Numa das últimas vezes em que tive oportunidade de visitar Montes Claros - que considero minha segunda cidade pelos numerosos amigos que de lá me distinguem e pelo amor às serenatas que tanto a identificam com a minha doce Santa Luzia - revi Oswaldo Antunes. Como sempre, sereno, meio visionário, alma de poeta, coração de menino, exemplo para tantos que vieram depois dele exercer o jornalismo, a última profissão romântica do mundo. Agora, foi-se também o bom Oswaldo Antunes.


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Por Roberto Elísio - 30/8/2011 09:26:47
Eternas lembranças

Roberto Elísio - Jornal Hoje em Dia

Acompanhado de atencioso cartão do empresário Jamil Curi, dirigente da Regional Norte da Fiemg e incentivador do conjunto desde 2005, chega-me às mãos uma relíquia: o CD "Vozes em Serenata", que acaba de ser lançado pelo Grupo de Seresta "João Chaves", da suave Montes Claros, cidade que sempre me concedeu a graça de muitas amizades extremamente queridas.
Montes Claros é sui-generis: consegue manter a sua pureza de alma e de sentimento, apesar da onda de violência que tomou conta dos novos tempos e das velhas cidades, contra a qual, dolorosamente, nem ela nem minha doce Santa Luzia foram vacinadas.
Evidentemente não com os mesmos componentes em sua integralidade - o correr da vida é cruel, dele ninguém escapa - faz algumas décadas o Grupo de Seresta "João Chaves" gravou excelente LP, que me foi, à época, presenteado pelo saudosíssimo amigo Mário Ribeiro, médico e ex-prefeito do município. Tenho-o até hoje, como, também, mantenho em pleno funcionamento um velho toca-discos, daqueles na base da agulha deslizando sobre a cera. Ouço-o sempre, quase invariavelmente sozinho. O título do LP era o mesmo deste artigo, embora no singular: "Eterna lembrança".
O repertório do atual lançamento inclui algumas composições não tão antigas quanto as anteriores, algumas inclusive não marcadamente de seresta. A predominância absoluta, porém, é de canções de um tempo mais distante, justamente aquelas que tornam eternas as lembranças.
Constava do LP a modinha "Saudade", de Jaime Redondo. Consta do CD a modinha "Saudade", de Jaime Redondo, que, se compôs mais alguma coisa, nem precisava: "Saudade", somente ela, já justificaria perante o tempo a existência de seu autor: "Saudade, mal-estar que se bem diz/ Que fere, mas não deixa cicatriz./ Saudade doce bem que me tortura/ E o coração machuca com doçura".
Ou, então, esta ternura de passagem poeticamente evocativa: "Saudade de rever os meus/ Saudade dos sorrisos teus/ Saudade, quem é que não tem/ Só mesmo alguém/ Que nunca quis bem".
O Grupo de Seresta "João Chaves" foi fundado há 44 anos e se mantém absolutamente fiel ao espírito do saudoso montes-clarense que lhe dá nome, imortalizado por excepcionais composições que desafiam tempo e gostos. É o caso do "Amo-te muito/ Como as flores amam/ O frio orvalho que o infinito chora".
Seus atuais integrantes, pela ordem expressa na própria contracapa do CD, são Adélcio Saraiva, Ademar Toledo, Alice Navarro, Marlene Oliveira, Marlene Cunha, Terezinha Jardim, Terezinha Fróes, Luiz Porfírio, Josefina de Paula, Hélio Saraiva, Valderez Costa e Paula, Ney Barbosa, Marta Marcondes e Mafalda Mafra, herdeiros e continuadores do culto às tradicionais serenatas na terra dos jornalistas Manoel Hygino dos Santos, Paulo Narciso, Adriano Souto e Carlos Lindenberg (este por adoção) e dos saudosos Robson Costa e Hermenegildo Chaves (irmão do patrono do conjunto musical), ao lado de quem tive a ventura de trabalhar longos anos na velha redação do "Estado de Minas".
E em se falando em serenata e em Montes Claros, não se pode deixar de destacar os mestres João Vale Maurício e Luiz de Paula, dos mais festejados poetas e seresteiros do Norte de Minas
As "Vozes em Serenata" reconduzem à memória histórias e figuras indelevelmente queridas: "É a ti, flor do Céu" ressuscita a imagem suave de minha avó Nhazinha, mãe de minha mãe; "Sinfonia da mata" recoloca ao meu lado o insubstituível Sanica com seu violão;
"Em você" reaparece o inesquecível primo e amigo Camilo Teixeira da Costa, debaixo da sacada de um dos casarios da Rua Direita, na nossa doce Santa Luzia do passado: "Você traduz/ Sonhos de luz/ Anjo divino/ Qual uma dádiva do Céu/ Do meu destino". Já a valsa "Sertaneja", criação insuperável de Orlando Silva - perdoem-me - faz-me recordar de mim mesmo. Timidamente escondido lá atrás dos anos que me envelheceram.


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Por Roberto Elísio - 15/5/2011 09:36:54
Evolução que dói

Roberto Elísio (Hoje em Dia)


A ordem natural das coisas obedece a um processo de evolução inevitável, mas dói nos que já vêm um pouco mais lá de trás - como é o caso do modesto autor destas linhas - a ampliação dos espaços em branco na tradicional fisionomia humana da imprensa mineira. Na segunda quinzena de abril passado, mais dois desfalques irreparáveis: Jader de Oliveira e Júlio Corrêia e Silva se foram sem nos dar tempo de uma despedida mais de perto: Jader morreu em Londres, onde residia há quase 40 anos, emprestando a seriedade de sua competência profissional à BBC, emissora de conceito internacional vinculada ao Governo da Inglaterra, dotada, porém, de razoável independência editorial. O boníssimo Júlio Corrêia e Silva cruzou os braços sobre o peito em Brasília. Morava por lá faz muitos anos, depois de se aposentar como funcionário do jornal "Estado de Minas" e do Ministério da Agricultura.
O jornalista Jader de Oliveira, que ainda recentemente lançara em Belo Horizonte o seu livro de memórias - a que deu o delicioso título de "Tempo mais que perfeito" - foi um dos meus primeiros chefes na imprensa mineira, nos saudosos anos do velho "Diário de Minas". Primeiro, no 3º andar do número 150 da Rua dos Carijós, em cima do antigo Restaurante Bico de Lacre. Depois, numa certa casa da Avenida Bias Fortes, de propriedade do então dono do jornal, o ex-prefeito de Belo Horizonte Otacílio Negrão de Lima. E, mais tarde, num pequeno prédio da Praça Raul Soares, onde acabou fechando suas portas em definitivo. Trabalhávamos ambos na "seção de esportes", nome que no organograma das redações antecedeu à moderna denominação de "editoria de Esportes".
Cada qual de nós tomou o seu rumo, até nos reencontrarmos na década de 70 na extinta redação da Rua Goiás, então sede do jornal "Estado de Minas", do qual Jader foi correspondente na Inglaterra. Todos os anos vinha passar férias em Belo Horizonte, onde um festival de homenagens sempre o aguardava, de preferência em rodas memoráveis nos melhores botequins da Capital. Por vezes, dávamos uma esticada à sempre seresteira Santa Luzia do Rio das Velhas. Jader se rendia então ao som das cordas de um violão saudoso.
O suave Júlio Corrêia e Silva pertencia aos quadros administrativos, mas, antes, pertencia à alma da velha redação da Rua Goiás, onde trabalhou durante anos, antes de se transferir para Brasília. Vinha dos tempos de Geraldo Teixeira da Costa, Hermenegildo Chaves e Pedro Aguinaldo Fulgêncio, rompendo as madrugadas no trabalho de encerramento da edição do jornal, a que se chamava de fechamento da primeira página. Passou pelo companheirismo de José Sílvio de Carvalho, também já não mais entre nós, e, nos últimos tempos, ao lado de seu grande amigo Dídimo de Paiva. Também vinha sempre a Belo Horizonte, para o tradicional reencontro com os velhos amigos, filhos, netos e bisnetos que ele tanto cultivava. Já enxergava pouco. Os anos lhe pesavam dolorosamente sobre os ombros. Jamais, no entanto, abateram a jovialidade de seu espírito.
Como a ordem natural das coisas obedece a um processo de evolução inevitável, Jader de Oliveira e Júlio Corrêia e Silva não estão mais por aqui. Isto dói. E como!
(N. da Redação - Roberto Elísio ainda não registrou. Mas a imprensa mineira acaba de perder o ameno Geraldo Magalhães. Ex-seminarista em Roma, humanista, dirtor de cinema, discreto, culto e bom, foi editor da Segunda Seção nos melhores anos do jornal Estado de Minas. Tinha 76 anos.)




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Iara Tribuzi
Iara Tribuzzi
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Manoel Hygino
Afonso Cláudio
Alberto Sena
Augusto Vieira
Avay Miranda
Carmen Netto
Dário Cotrim
Dário Teixeira Cotrim
Davidson Caldeira
Edes Barbosa
Efemérides - Nelson Vianna
Enoque Alves
Flavio Pinto
Genival Tourinho
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Haroldo Lívio
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