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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Mural

Jornalismo exercido pela própria população

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Mensagem N°19027
De: Carmen Netto Data: Sábado 9/12/2006 19:30:46
Cidade: Belo Horizonte

Relembrando os Natais da Infância


“Quero neste Natal me renovar, renascer em mim mesma, quero multiplicar meus olhos para verem mais”.
Cecília Meireles


Dezembro chegou. E chegou envolvido pelo Espírito do Natal, dominado pela presença do Cristo-menino.
Paira no ar o mistério do Natal. É um mês ao mesmo tempo alegre e triste. É uma época em que recordações, saudades e perdas afloram com mais força.
Ao ver as luzes tremeluzindo por toda cidade, minha chama interior também acendeu iluminando meu caminho à procura dos Natais da minha infância.
Ao iniciar a caminhada bateu uma angústia. Por que a angústia no Natal? Perguntei-me. Neste momento não consegui resposta e saí a procura dos Natais de minha infância, onde se esconderam? Em que curva do caminho ficaram?
Não desanimo. Saio à procura e vou acha-los. Já se disse que o Natal é época de milagres; o meu aconteceu porque um menino que veio há 2000 anos, me pegou pela mão e levou-me a Janaúba entre 1945 e 1950.
Aqueles Natais perdidos do passado retornaram inteiros, com a força do momento atual. Na época em que vivi em Janaúba tinha entre sete a dez anos. A cidade estava começando a arrancada de seu desenvolvimento para se tornar hoje o segundo pólo econômico do Norte de Minas.
Ruas sem calçamento, casas modestas, vida simples.
Na Rua Francisco Sá, onde morávamos, aos dias eram acrescidas mais esperança e alegria. Começavam os preparativos para o Natal. O ápice era o nosso presépio, onde o menino Jesus era o despojamento, a entrega, a felicidade suprema de nada possuir...
Também nossa árvore de Natal era tão linda! Tão ingênua, tão caipira, mas tão brasileira...
Em novembro já começávamos a juntar latinhas vazias de sardinha e marmelada para plantarmos o arroz. Mamãe orientava Ana e Geraldinha para ajudar-nos.
Plantávamos nos primeiros dias de dezembro, para que dia 23, estivessem verdes e viçosos para enfeitar a serra do presépio.
Depois arranjar carvão vegetal na padaria, moê-lo, mistura-lo com purpurina. Esta mistura era passada em papel de saco de cimento, umedecido com grude. Colocávamos em seguida para secar, sob o sol abrasador de dezembro.
O presépio era montado em uma mesa de canto, onde se colocavam caixotes de madeira. Cobria-se este suporte com os papéis pintados, imitando serras e grutas.
A manjedoura era coberta com areia branca do Rio Gorutuba, e na entrada da gruta a estrela-guia feita de papelão e revestida de purpurina, simbolizava um novo tempo, um novo caminho.
Depois, de armado o presépio, íamos lavar as mãos sujas pelo carvão para dispor as figuras que representavam a natividade.
Maria, José, o menino Jesus deitado em seu bercinho de palha, com as mãozinhas abertas, a nos acolher.
O galo anunciando a boa nova, o burro, o boi, próximos para esquentar o menino com seu bafo. Carneiros, ovelhas, pastores e camelos.
Descendo a serra, os reis magos.
Nosso arroz plantado estava grande, de um verde bonito, alegrava o presépio. Naquela gruta, no silêncio da vida, na noite de luz, Maria nos oferecia o Salvador-Jesus.
Depois de montado o presépio, era a vez de fazermos nossa árvore de Natal. Papai era quem liderava.
Dia marcado, lá íamos nós à procura do galho mais bonito para representá-la. Como a cidade era pequena naquela época, suas redondezas eram cercadas por juazeiros, pitombeiras, umbuzeiros.
Nossa árvore de natal era sempre um galho de pitombeira. Papai escolhia o maior e mais bonito! Como era tempo de pitomba, dos galhos pendiam os cachos dourados da fruta.
Trazíamos com cuidado o galho escolhido e o colocávamos numa lata vazia de querosene jacaré, firmando-a com pedras. Uma folha de papel crepom vermelha cobria a lata.
Agora, era começar a enfeitar nossa árvore.
Já estavam prontas as guirlandas, também de papel crepom de todas as cores: vermelhas, azuis, rosas brancas, amarelas... Juntamente com as guirlandas balões de várias cores completavam a decoração.
Impacientes, a noite do dia 24 custava a chegar. Mamãe rezava no presépio depois íamos para um cômodo da casa onde foi a loja, e de portas abertas recebíamos quem passasse, principalmente crianças que não tinham seu Natal.
Pastorinhas chegavam, cantando ternas e singelas canções de Natal, nos emocionando e levando-nos abrir mais nosso coração e deixando entrar toda a alegria daquela noite diferente.
Mamãe servia bolo com cobertura de glacê de laranja, refrescos, groselha, balas, doces e biscoitinhos. Todos se confraternizavam. Parecia que a centelha do Natal acendia em todos o fogo crepitante da vida, a alegria de viver e compartilhar.
Íamos deitar quando a noite já ia alta e as estrelas claras brilhavam na atmosfera, tão presentes quanto há dois mil anos atrás. No dia 25, a alegria de achar os presentes juntos aos sapatinhos, sob nossas camas.
Lembrando Machado de Assis, “mudou o Natal ou mudei eu? O Natal é o mesmo em sua essência, em seu mistério”.
Mudaram-se os tempos. Globalização trazendo árvores de Natal com neve, renas, nozes, castanhas, papais Noéis que dançam consumismo exagerado, Natal artificial...
Respeito as mudanças, procuro integrar-me a elas. Mas, neste Natal quero reencontrar a simplicidade, a singeleza dos Natais da infância.
Quero repartir a esperança com quem não a tem, estender a mão para ajudar o outro.
Constatei que quero reencontrar hoje a simplicidade e o encantamento dos Natais da infância, os Natais em Janaúba e compartilha-los com minha família e meus amigos.
Envolvi-me no manto da saudade, não aquela saudade que machuca, mas aquela saudade boa que agradece a vida vivida.
Sempre no Natal preciso de um tempo só para mim. Arrumo minhas emoções e minha casa. Resgato para mim mesma os Natais da infância tão simples, tão despojados...
Quero viver este tempo de Natal recuperando pessoas, vivências, saudades.
É um tempo de reflexão. Quero ver além do consumismo, “além do que todo mundo vê”.
Estou pacificada, reencontrei meus Natais! Singelos, mas tão felizes!
E agradecida me valho de Rubem Alves:
“O Natal é um poema
O Deus-menino é só amor.
Criança é riso, brinquedo, alegria
Por isso gosto muito do menino Jesus”.

Carmen Netto Victória
Natal de 2000.

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Mensagem N°19001
De: Waldyr Senna Data: Sexta 8/12/2006 13:01:25
Cidade: Montes Claros

Festa de arromba

Waldyr Senna Batista

A adesão à festa de arromba que a direção da Câmara municipal pretende realizar para congraçamento “entre vereadores e servidores do legislativo” e que o jornalista Jorge Silveira, com muita propriedade, considerou um despropósito, porque custeada com recursos do contribuinte, parece ter superado as previsões iniciais. Tanto é assim que foi publicado “aviso de retificação de edital” em que o número de garçons a serem contratados sobe de oito para quinze. Quer dizer: despropósito em dobro.
Essa festança alimenta a impressão, que alguns têm, aqui do lado de fora, de que a Câmara não precisa guardar relação com a realidade do município, embora seja por ele integralmente mantida. A prefeitura está em crise, contingenciando despesas desde cafezinho e papel higiênico, até o consumo de água, combustíveis e energia elétrica, sem falar na queda de qualidade de serviços rotineiros, como coleta de lixo, e os vereadores se dão o luxo de fazer festa servida por quinze garçons. Imagine-se o custo dos demais componentes, como bebidas e comida.
O estado de penúria que impera no executivo é ignorado pelos integrantes do legislativo que, todo mês, com absoluta prioridade, recebe a parcela de recursos que a lei lhe garante, calculada na base de 6% da arrecadação, sem que dele se exija publicar prestação de contas para conhecimento de quem banca o gasto, o contribuinte.
Os servidores do executivo ganham salários de fome, congelados há anos, enquanto os da Câmara são remunerados em níveis muito superiores, revistos anualmente em percentuais expressivos. Os ocupantes de cargos de confiança na prefeitura tiveram seus vencimentos reduzidos, como forma de contribuir para amenizar a crise que assola as finanças municipais, mas os vereadores, que custam aos cofres públicos R$ 16 mil por mês, cada um, continuam embolsando o que eles próprios estabelecem como remuneração, às vezes até com práticas que levantam suspeitas, como ocorreu com oito deles, que vêm de ser denunciados à Justiça federal, pelo Ministério público, depois de terem sido presos e algemados, sob acusação de usarem recibos falsos para comprovar despesas de gabinete.
É no mínimo estranha essa disparidade, que agride o bom senso da população que paga impostos e recebe da prefeitura serviços incompatíveis com o nível de importância da cidade, haja vista o estado lastimável das ruas, praticamente intransitáveis, devido aos buracos e aos remendos mal feitos.
Já passa da hora de se introduzirem medidas que corrijam essa desigualdade verificada entre as duas instituições, mediante a adoção de critérios que respeitem a realidade financeira do município como um todo. A Câmara tem de dar sua quota de sacrifício nessa fase crítica, em que a prefeitura reduz atividades, elimina investimentos, busca financiamentos bancários para reposição de equipamentos, está sufocada por precatórios impagáveis, começa a atrasar o pagamento da folha de pessoal e confessa a impossibilidade de quitar a do 13º salário.
A contribuição do legislativo pode começar, por exemplo, com a revisão da forma de repasse dos recursos provenientes do executivo. A lei não estabelece percentual obrigatório, apenas fixa o teto de “até 6%” da receita própria do município. A transferência deveria tomar por base a prestação de contas mensal da Câmara: a prefeitura reembolsaria os gastos efetivamente realizados, até o limite legal. O legislativo não precisa acumular dinheiro em caixa, que sua atual direção apelida de “sobras”, levando-o a sonhar com projetos mirabolantes, como a construção de nova sede e a realização desse estapafúrdio congraçamento de Natal.
Não se explica, por outro lado, ter sido reduzida, de 21 para 15 vereadores, a composição da câmara e continuarem no mesmo patamar os gastos. Ou as tais “sobras” estão elevadíssimas ou criaram-se despesas de custeio apenas para dar fim ao dinheiro que chega ao legislativo como se caísse do céu.
O legislativo é essencial ao funcionamento do município, até por exigência constitucional. O que não se pode aceitar é que acabe transformando-se em peso insuportável para o contribuinte. Ainda há tempo de se cancelar a realização dessa festa de arromba.

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Mensagem N°18964
De: Ruth Tupinambá Data: Quinta 7/12/2006 11:23:04
Cidade: M. Claros

ANTIGO CINE MONTES CLAROS - "Minha filha, vá dormir, para você ir ao cinema. Hoje é quinta-feira, continuação da série "O Cavaleiro das Sombras", com William Desmond...” Era a voz tão querida do papai advertindo-me de que, se quisesse ir, teria que "puxar um ronco", porque as sessões daquele tempo terminavam com a primeira cantada do galo. Papai adorava cinema. Trabalhava medindo fazendas, era agrimensor, e nada o segurava no acampamento nas quintas-feiras. Viajava oito a dez léguas no lombo de um burro para não perder os filmes seriados. Oh, como esperávamos, cheios de ansiedade, o dia de irmos ao cinema! Era só uma vez por semana. E que saudades eu sinto agora do nosso pobre Cine Montes Claros, tão desprovido de beleza e conforto! Funcionava a reboque, graças ao esforço tremendo e incalculável dos seus primeiros donos. Um grande galpão com bancos compridos, assim era ele. Uma campainha começava a tinir logo que anoitecia, avisando a população de que naquela noite haveria sessão. Quase todas as famílias se movimentavam, aos bandos, enquanto as empregadas e as crianças iam à frente, levando as cadeiras numa correria procurando se localizarem o mais perto possível da minúscula tela. O cinema contava com poucos lugares bons e às famílias mais exigentes era permitido levarem suas cadeiras de palhinha. E ainda vejo entrando na praça Dr. Carlos, atravessando o jardim mal gramado e cercado por fios de arame farpado, as famílias de seu Chico Peres, seu Mário Veloso, João Fróes, de Etelvino Teixeira, e mais embaixo seu Antônio dos Anjos, Fróes Netto, Juca Salgado, seu Carlos Sapé, todos moradores da pequenina e singela praça Dr. Carlos... O papai levava-me pela mão, eu era ainda bem pequena e ia pulando alegre, de pedra em pedra, escolhendo as mais altas daquele interminável "pé-de-moleque", enquanto minhas irmãs mais velhas e já mocinhas, iam ao seu lado, muito compenetradas e já de salto alto e "boquinhas de coração". O cinema enchia. O barulho do motor desorientava a gente, mas, mesmo assim, todo mundo conversava em voz alta, animadamente contando anedotas, fazendo "negocinhos", trocando palpites para o jogo-de-bicho completamente à vontade, como se estivesse em casa, enquanto esperávamos pela fita. Nego do Ó, Zé Maniquinista e Manezim Enjambrado iam sempre buscá-la em Bocaiúva, pois, eram os heróis do volante e únicos possuidores do "Fordeco 24". João Cândido (irmão do Juca de Chichico) era uma grande alma, um destes tipos inesquecíveis que toda cidade possui. Prestimoso e inteligente ao extremo, era o operador do Cinema Montes Claros. Entendia de projetores e motores sem nunca ter saído desta terra, arranjava sempre uma folgazinha e vinha conversar com espectadores, atendendo uns e outros no que fosse possível, procurando distraí-los com sua experiência. De vez em quando, o empresário João Paculdino passava afobado e vermelho e, atravessando o cinema, ia lá na frente dar uma satisfação pelo atraso: - "A fita já está nos Paus Pretos, dizia ele, e não demorará muito a chegar, mais um pouco de paciência"... Não existiam estradas, e os "chaufeurs" faziam milagres. Depois deste aviso ainda esperávamos mais de duas horas. A meninada já cochilava, empanturrada com amendoins e pipocas e, nestas alturas, o cinema desabava com a molecada assoviando, batendo nas cadeiras e jogando cascas de amendoins em todas as direções. Dulce e Adail Sarmento, Tonico de Naná, Artur dos Anjos, bem humorados, esmeravam-se nas melodiosas valsas. Era pena que os namorados não tivessem a liberdade dos de hoje. Contentavam-se com os olhares de longe, de um extremo ao outro, localizando sua eleita, chegando quase a destroncarem os pescoços, felizes em mandarem o "baleiro" entregar um pacotinho de balas coloridas, que de longe ela, feliz, agradecia com um olhar cheio de admiração e ternura. Finalmente, a campainha tocava mais forte, a luz se apagava e todos se voltavam atentos para a tela. O piano de Dulce e as clarinetas de Adail, Tonico e Arthur dos Anjos faziam um esforço tremendo, procurando suplantar o barulho do motor. O filme era mudo, mas a orquestra fazia o complemento, tocando as músicas alegres ou tristes de acordo com os acontecimentos da tela. E quando estávamos no maior entusiasmo, vibrando e torcendo para que o "cowboy" matasse o bandido e fugisse com a mocinha, ouvia-se um forte estalo, baralhava-se tudo, apareciam na tela números de cabeça para baixo e o barulho era ensurdecedor... Oh, tristeza! A fita arrebentara-se. De repente acendiam-se as luzes e levava mais de uma hora para o conserto. Enquanto esperávamos, começavam os comentários. Todo mundo gesticulava, tomava partido dos artistas, dava sugestões, discordava de certas passagens do filme e safam até pescoções dos mais exaltados, em quem discordasse de suas opiniões. Não se admitia que o herói morresse ou bancasse o patife. Durante uma sessão acontecia de a fita se arrebentar dez a quinze vezes, e todos, pacientemente, esperavam. Quase de madrugada, os meninos acordavam assustados quando aparecia na tela o letreiro: "Volte na próxima semana..." e o filme ficava no ar, numa parte bem emocionante. A gente ficava triste, saía com as pernas dormentes e o corpo todo doído. Mas, aí é que vinha o melhor. Passávamos oito dias vivendo o filme e comentando o que se passara na tela, querendo adivinhar o que viria na próxima semana. E surgiam muitas apostas. No dia seguinte, eu já acordava com a voz gritada e forte do Augustão conversando, na rua, com Sebastião Peba e Augusto Candeeiro. Estes não perdiam uma sessão e como era divertido ouví-los. Éramos vizinhos na rua Cel. Celestino e Padre Teixeira. Por mais de duas horas eles comentavam os episódios, esquentando-se num sol preguiçoso de mês de junho. Aos poucos, os amigos infalíveis vinham chegando: Joãozinho de Sra. França, Zé Teixeira, o velho Maçarico com seus espertos rapazinhos - Geraldo, Candinho (mais tarde Cabo Santana) e Tião mais velho e mais letrado e que já trabalhava na tipografia da Gazeta do Norte e era sempre solicitado para ensinar-lhes a pronunciar os nomes revezados dos artistas daquele tempo: Laura La Plante, William Desmond, Clara Baw, Mary Pick Ford, Douglas Fairbanks, Emil Janmings, eram os ídolos dos velhos e crianças. Ninguém sabia inglês ou outra língua estrangeira qualquer. Assim eram os simples moradores da "Rua de Baixo", mas tinham gosto, inteligência e eram verdadeiros artistas quando executavam os lindos "dobrados" na Banda Euterpe Montes-clarense. Os meninos fantasiavam-se de "cowboy" com enormes chapéus de palha à moda "Tom-Mix", montados em cabos de vassoura, escarreiravam-se dando tiros, com a boca, durante oito dias, à espera da próxima sessão. Hoje escutando pelo rádio a cerimônia da inauguração do novo Cine Montes Claros, tudo isto me veio à mente, como um filme cômico e movimentado. Que saudades senti dos meus oito anos! Como tudo era simples e bom, e como as crianças contentavam-se com tão pouco! Meu pobre cineminha de ontem, desapareceu. Todos o esqueceram, assim como seus primeiros donos. Mas, ele não poderia morrer para sempre. Havia alguém que o faria renascer e o seu nome surgiria novamente, prestigiando os que tanto lutaram e desejaram, naquele tempo distante, uma distração para a gente simples daquela Montes Claros. Hoje, tudo mudou. A cidade é limpa, ajardinada, cheirosa e asfaltada. As famílias antigas já não vêm aos bandos ao chamado da estridente campainha. Desapareceram quase todas, e as crianças têm sua hora certa. Ao invés disto, os modernos carros deslizam confortáveis, macios e silenciosos, quase como cochichos de namorados, trazendo os casais amorosos ao cinema e em filas enormes num colorido maravilhoso quase interrompem as ruas... Hoje, também, um belo e moderno prédio se erguera no mesmo local do "galpão" de João Paculdino, e um cinema com todas as técnicas e modernos aparelhos proporcionando luxo, conforto aos espectadores exigentes da nossa cidade civilizada. Parabéns, Mário, você foi o mágico que fez essa transformação. Com o coração ainda cheio de saudades, eu lhe envio esta mensagem de agradecimento. Você não deixou meu cineminha desaparecer, você o transformou, para alegria de todos. A lembrança do meu cineminha de outrora ficou guardada para sempre, apenas, no coração de uma saudosista. Todos o esqueceram! E de seu novo "Cine Montes Claros", Mário, você poderá orgulhar-se: todos lembrar-se-ão dele, no futuro. Será um marco de civilização, a prova do seu esforço, inteligência, entusiasmo e amor por esta terra e, mais ainda, um grande e precioso presente à nossa querida Montes Claros. (Do caderno de Reminiscências. Janeiro de 1970)

***

(Com relação à mensagem N° 18964, de 07.12.2006, quero aguçar a memória de nossa grande Ruth Tupinambá, dedicando-lhe uma foto propaganda, tirada de um cartaz montado há mais de sessenta e cinco anos, de um dos muitos filmes que passaram no antigo Cine Theatro Montes Claros.
À esquerda da foto, está o meu pai José Gomes de Oliveira. Essa fita, como assim eram chamadas os filmes que passavam nas sessões de cinema daquela epóca, foi um dos maiores sucessos da sétima arte, segundo relatos de quem a assistiu.
Também, para que ela rememore aqueles tempos, segue a foto do antigo Cine Theatro Montes Claros.
Saudações Montes-clarenses
Wagner Gomes)

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Mensagem N°18938
De: Web Outros Data: Quarta 6/12/2006 10:53:22
Cidade: Belo Horizonte

Em Rosa, os mistérios

Manoel Hygino dos Santos (Jornal Hoje em Dia, 06/12/2006)

Há inexplicáveis coisas em torno e dentro das pessoas, algo além de nossa vã filosofia, como disse o bardo de Straford. Pois Luiz de Paula Ferreira, prosador, poeta, compositor e industrial guardou um recorte de um jornal da capital, edição de 26 de novembro de 1967, com o artigo de Guimarães Rosa, “Vida-Arte-e mais?”
Aparentemente, nada demais. Mas acontece que a publicação do artigo ocorreu no sétimo dia da morte do escritor de Cordisburgo, o que chamou a atenção e o espírito investigativo do jornalista Paulo Narciso. Quando teria sido redigido? Bem antes, certamente.
São indagações que surgem e dúvidas que persistem. Rosa fora talvez, como cidadão, um homem comum. Mas, na verdade, demonstrou pairar sobre sua personalidade algo superior. A própria morte, três dias após a solene posse na Academia Brasileira de Letras, provoca uma indagação sobre o inexorável e sua consumação.
Sabe-se que foi eminentemente religioso, como escreveu o também imortal Dom Marcos Barbosa. Eduardo Almeida Reis, autor de vários bons livros, carioca de nascimento, que passou parte da vida no Rio, conhece, de fontes fidedignas, fragmentos da biografia de pessoas importantes e confirma o ilustre prelado sobre Rosa.
Eduardo me contou que Guimarães Rosa costumava telefonar para determinada senhora, também muito crente em Deus, e os dois, ligados a seus aparelhos, rezavam o rosário à noite. Há ainda fatos e gestos curiosos, contados num belo e excelente livro editado pela Giordano, que o editor gentilmente me enviou autografado.
Tudo isso é, como disse Paulo Narciso, um grande mistério que desafia o homem e seu pragmatismo. Caber-lhe-á, talvez, aprofundar-se no fascinante tema, que merecerá maior atenção da comunidade literária ao se aproximar o centenário do nascimento de Rosa: em 2008.
Pois no seu artigo, o autor de Cordisburgo faz confissão inequívoca: “Tenho de segredar que - embora por formação ou índole oponha escrúpulo crítico a fenômenos paranormais e em princípio rechace a experimentação metapsíquica - minha vida sempre e cedo se teceu de sutil gênero de fatos. Sonhos premonitórios, telepatia, intuições, séries encadeadas fortuitas, toda a sorte de avisos e pressentimentos. Dadas vezes, a chance de topar, sem busca, pessoas, coisas e informações necessárias”.
Teria pressentido a morte?
Na publicação de quase 30 anos, Rosa confessa que sítios, personagens, episódios de suas narrativas pareciam ter-lhe sido prontas, como se dizia das composições de Chopin. O autor de “Sagarana” confessa mais:
“No plano da arte e criação - já de si em boa parte subliminar ou supraconsciente, entremeando-se nos bojos do mistério e equivalente às vezes quase à reza - decerto se propõem mais essas manifestações”.
Rosa revela ter iniciado um romance (“A fazedora de velas”). Sua personagem enfermou, e só falava de sua doença grave, inconjurável, quase cósmica, e a tristeza a ele se transmitiu. Jogou as páginas na gaveta.
“Mas as coisas impalpáveis andavam já em movimento. Daí a meses, ano-e-meio, adoeci, e a doença imitava, ponto por ponto, a do narrador! Então? Más coincidências destas calam-se com cuidado, e claro não se comentam”.

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Mensagem N°18925
De: Carmen Netto Data: Terça 5/12/2006 20:33:53
Cidade: Belo Horizonte

Para a familia de Virgílio de Paula
Lembro-me mais do menino Virgílio de Paula: calça branca, suspensório e camisa valísere xadrez sempre ao lado do irmão Walmor. Fazendo parte dos muralistas do Montesclaros.com reencontrei-o nos textos lindos, tão montes-clarenses que escrevia . Mudou-se para o mundo encantado, deixando muita saudade. Parafraseando John Donne "Virgílio era um pedaço de Montes Claros, uma parte do todo. A morte de qualquer um me diminui, porque estou envolvida no gênero humano. E por isto, os sinos não dobram só por Virgílio, eles dobram também por Montes Claros e também por nós que o perdemos. Minha solidariedade a D. Fina, Valéria, Virgínia e a sua filha Patrícia. Que a misericórdia divina as amparem nesse momento de perda.

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Mensagem N°18906
De: Flavio Pinto Data: Terça 5/12/2006 11:47:45
Cidade: Belo Horizonte/MG

A POESIA DE VIRGÍLIO

A gente mantinha - desde algum tempo - correspondência pela internet.
Não muito freqüente, porém de valiosa consistência, principalmente quando me mostrava alguns escritos de sua lavra, na maioria lindos poemas, sempre retratando com sentimento fatos e personagens da nossa história - brasileira ou universal – guiado pela alma sensível e apaixonada do verdadeiro poeta.
Pelo seu próprio jeito de ser, calado e mais na dele, hesitava em publicá-los e vez por outra me perguntava o que achava.
Quando eu lhe cobrava, brincando, que já estava passando da hora de “mostrar pro mundo”, ele só dizia: “Será?”
Abraçando D.Fina, Virgínia, Valéria e Patrícia - nesta triste hora - peço permissão para publicar um, aqui no Mural, que bem expressa esta face poética do historiador, escritor e muralista Virgílio Abreu de Paula, pouco conhecida de muitos, mas não menos brilhante e imortal.

Abraços a todos.
Flavio Pinto

IRACUNHÃ
Virgílio de Paula (2005)
Em festa a tribo
E o velho cansado
Sozinho consigo
Relembra o passado,
O tempo já ido
De jovem ousado
Audaz, destemido
Feroz, arrojado.

- De que serve a vida
Doente e só?
Que triste legado
Do fado sem dó.
Não importa morrer.
Desvalido, magoado,
Que serve viver?

Mas vê, de repente
Visagem encantada
No meio da gente
Que enche a taba
Uma bela tupi.
Seus lisos cabelos
Sua pele bronzeada
Seu rosto moreno...
- Igual nunca vi.

Da vida a chama
Sente reluzir
O fogo do amor
Aquece-lhe a alma
Por que não amar?
Por que não sentir,
Mesmo em segredo,
O doce calor?
Melhor que penar,
Seu sol ressurgir.

E feliz se descobre
Guardando segura
Na mente e no peito
A imagem tão nobre
A bela figura
O porte perfeito
Da doce cunha
Da doce criatura,
Iracunhã.

Perdido de amores
À sombra deitado
O céu contemplando
De nuvens tomado
Qual flocos de lã
Ao sol da tardinha
Se esquece das dores
E vê, fascinado,
Sua doce indiazinha,
Iracunhã.

Na mata sozinho
Pergunta ao vento:
Por que só agora?
Por que nesse tempo,
Com o corpo desfeito.
Por que não outrora
Que, com alento no peito
Caçava, pescava,
Lutava com afã?
Por que nessa hora?
Por que, oh Tupã?
Só agora a miragem
Da doce Selvagem,
Iracunhã?

De que vale o canto das águas
Entre as pedras limosas do rio?
E o estrondo da catadupa?
Se o sabiá geme suas mágoas
Se trina, alegre, o canário,
Se chora triste a jaçanã?
Um som apenas escuta
E ouve, quase em delírio
A voz meiga, entoada,
De sua doce Iracunhã.

Quando o vento sopra, sereno
Espalhando o perfume das flores
E a abelha, tonta de ciúme
Beija a flor numa orgia pagã
A despeito de tantos olores
Só sente, ama, o perfume
O perfume suave, ameno,
De sua doce Iracunhã.

E ao deitar o corpo exaurido
Numa prece pede a Tupã:

- Que os deuses de amor imbuídos
Aliados a Jaci, tua irmã,
Te protejam dos fluidos medonhos
Emanados do vil Anhangá.
Te revejo, talvez em meus sonhos
Onde sempre, sempre estás,
Ou nas nuvens efêmeras, douradas
Pela luz do sol da manhã.
Minha doce querida, minha amada
Minha doce Iracunhã

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Mensagem N°18588
De: Carmen Netto Data: Quarta 22/11/2006 15:00:54
Cidade: BHTE

Para matar as saudades dos nossos cinemas.


Aqueles Cinemas e Seus Filmes Maravilhosos

Montes Claros teve sua fase áurea de cinemas. Eles eram o universo de diversão da cidade. Cines São Luís, Montes Claros, Cel. Ribeiro; cines Ipiranga na rua Melo Viana, Cine Nova Olinda na avenida Ovídio de Abreu e por último o cine Fátima considerado na época um dos melhores do interior de Minas. Vivíamos sob o signo do cinema. Imitávamos os penteados, as roupas, às vezes até os costumes que a Vênus Platinada Hollywood mostrava em seus filmes.
Ir ao cinema naquela época, era mais que uma simples distração, era como uma necessidade de viver ilusão, sair da realidade. A gente se preparava para exercer o sagrado direito ao refúgio no mundo dos grandes romances, das músicas temas, da vida encenada nas telas e que se eternizaram em nossas memórias. Para sair da rotina, da mesmice do cotidiano, ir ao cinema, entrar na tela e sumir com os heróis dos filmes, era um hábito. Por que não ir com Humphrei Bogart para Casablanca, com Gregory Peck para Roma, ou com Clarck Gable para Atlanta? Vivíamos sob o encantamento do cinema, vínhamos de uma meninice embalada pela fábrica de sonhos de Hollywood. Filmes água-com-áçúcar, épicos, grandes dramas, faroestes, policiais; as chanchadas da Atlântida com Grande Otelo e Oscarito, os desenhos de Walt Disney. Os musicais da Metro faziam grande sucesso e levavam a sonhos e fantasia. Os filmes em Tecnicolor, cinemascope e som estereofônico enlouqueciam nossa imaginação. Sonhávamos com as façanhas de Tarzan, vivíamos as peripécias da 2ª Guerra Mundial: bombardeios em Londres, espionagem em Paris, Truculência na Alemanha. Amamos, odiamos e invejamos Scarlet O’hara. Adoramos Natascha em “Guerra e Paz”. Apaixonamos por Jeniffer Jones e William Holder em “Suplício de uma saudade”. A paixão por esse filme foi tanta, que, ao escutar a música tema “Love is many splendor thing” todo mundo chorava. A moda chinesa invadiu nosso tropical Brasil e ganhei um vestido de cetim estampado azul-turquesa igual ao que Jeniffer Jones usava nesse filme.
“Pic-nic” com Kim Novak e William Holden arrebentou corações, quando ela, ao som de “Moonglow” descia uma escadinha e caía nos braços do mesmo. Sensualidade e sedução à flor da pele.
Debora Kerr e Burt Lancaster protagonizaram o beijo mais bonito do cinema em “A um passo da eternidade”, quando envolvidos pela espuma das ondas do Pacífico, seus lábios se encontraram pouco antes de “Pearl Harbor” ser bombardeada pelos japoneses. E os faroestes? Garry Cooper saía do “Saloon”, montava em seu cavalo e desaparecia nas savanas americanas. E o duelo entre o bandido e o mocinho na rua deserta do povoado Rolos de capim, rodopiavam ao sabor do vento, os espectadores num silêncio absoluto, aguardando o tiro mortal, quando um gaiato gritou: Êta São João da Ponte! A platéia veio abaixo na risada, pois foi numa época de brigas e tiroteios na vizinha cidade. O gordoe o magro faziam rir ao lado dos Três Patetas e Cantiflas. O público juvenil vibrava com John Wayne , Charles Starret, Roy Rogers, Randoeph Scott, batendo os pés e gritando: É isso aí, dá-lhe uma direita! Os seriados Nioka, Flash Gordon, A Deusa de Joba eram o melhor da matinê. Ai de quem procedesse mal durante a semana, o castigo era perder a matinê.
No cine Cel. Ribeiro, passava às sextas-feiras a sessão das 22 horas. Eram filmes proibidos para menores de 18 anos. A maioria dos filmes eram franceses. Resolvemos assistir “Les Amants” com Michele Morgan ou seria Martine Carol? Coração disparado, maquiagem mais carregada, lá fomos nós. Cinema lotado de casais, homens e rapazes. Uma de nós, lembrou de Altininho que era comissário de menores, e, se ele aparecesse e pedisse a carteirinha, seria o vexame. O filme começa em preto e branco, nós discretamente na última fila, assombradas com o filme e a nossa ousadia em assistí-lo. Já quase no final ficamos próximas à cortina e assim que o FIM apareceu, saímos em desabalada carreira, rua Camilo Prates abaixo, quase meia-noite, e pé-ante-pé, chegamos em casa. Graças a Deus nossas mães não desconfiaram e foi a primeira e última vez que, aos dezesseis anos não respeitamos a censura. Hoje, “Les Amants” passaria tranqüilamente em qualquer sessão da tarde.
Bons tempos! Filmes mexicanos e seus dramas, o neo-realismo italiano, a “nouvelle-vague”, francesa engatinhando.
Vivíamos cinematograficamente amando William Holden, Rock Hudson, James Dean, Tyrone Power, Gary Grant e invejando Elizabeth Taylor, Vivam Leight, Kim Novak, Deborah Kerr, Jeniffer Jones. Ingênua geração que através da era de ouro de Hollywood viveu os sonhos mais lindos de sua juventude. Despreparadas para o mundo que nos esperava, fomos a geração sanduíche imprensada sob o rigor vitoriano de nossas famílias e a abertura dos anos 70, onde a liberdade extrapolou para a liberalidade dos costumes e tempos novos surgiram.

Carmen Netto

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Mensagem N°18585
De: Flavio Pinto Data: Quarta 22/11/2006 13:04:39
Cidade: Belo Horizonte-MG

PALMEIRA DA MINHA TERRA


Ah, Velha Palmeira !

És mais respeitada e falada, muito mais agora, do que aquelas outras, famosas, de Gonçalves Dias, eis que, muito antigamente - quando do mar vinham caravelas trazidas pelo vento – nelas, só, e apenas, cantava o sabiá.

E aqui hoje, já bem longe no tempo e do mar, quem vos canta são os poetas de todas as gerações, nestes longínquos e românticos gerais de Guimarães.

Cinqüenta e oito anos se passaram e até hoje sua morte ainda provoca fascínio e mistério nessa lira maravilhosa de ontem e d’agora.

E linda, ela continua lá, na Praça da Matriz, fora do jardim, como bem mostra o retrato antigo ao ser lhe aplicado um moderno “zoom”, com seu passado e sua glória de ser a protetora de quem a procurou para não morrer, participante ocular da aguerrida história de nossa gente.

Na velha praça, em frente à casa que a acolheu, viu nascer, e que um dia, por razões de somenos, pediu suplicante a sua morte, esqueceram-se do Velho da Palmeira, Camilo Philinto Prates que ali ficava, à sua sombra, meditando coisas da política e como fazer a nossa própria história..

Paira, entretanto, uma dúvida, posto que sobre o seu nascimento, 25 de novembro de 1872, plantada pelas mãos do Cônego Chaves, nunca houve nem mera sombra de discordância.

Qual seria o exato ano em que, a vis machadadas de vândalos, inicialmente lentas e depois com vigor de profissionais, ela, tristemente, transformou-se em lenha e depois, para alegria do futuro, na poesia eterna de João Chaves?

Nelson Vianna, em seu livro “Serões Montesclarenses” foi esclarecedor, tanto na data do nascimento, quando da sua morte : “...foi plantada na tarde de 25 de novembro de 1872 uma palmeira. Era linda e enfeitava a praça com suas verdes palmas, com sua elegância fidalga, até a tarde de 18 de fevereiro de 1948, quando foi sadicamente sacrificada por mãos profanas.”

Virgínia Abreu de Paula, com sua acuidade e determinação – que respeito muito – no estabelecimento da verdade histórica, coloca dúvidas sobre a data da morte, conforme suas palavras, ao resolver “... investigar mais alguma coisa num caderno de meu pai , onde ele rabiscava notas que nunca foram publicadas ”. E a data da derrubada, de acordo com a linda crônica não publicada de seu pai, passou a ser 1949, a pedido de uma senhora cuja casa estaria ameaçada pela Palmeira.

Sem este acesso privilegiado, familiar, restou-me, pobre e curioso mortal, recorrer, também, ao seu saudoso pai , Hermes de Paula, nosso mais talentoso historiador cujo livro “Montes Claros, Sua Gente e seus Costumes”, edição de 1957, que guardo e conservo com o maior carinho, é até hoje, para mim, a mais fidedigna fonte de pesquisas dessa nobre história montes-clarense.

Na página 384, deste magnífico livro, no capítulo intitulado “Miscelânea Histórica”, Dr. Hermes escreveu o seguinte texto : “Em fevereiro de 1948, O Prof.Athos Braga, vice-prefeito em exercício mandou derrubar o velho babaçu plantado na praça Dr.Chaves e que ameaçava cair na casa do Sr.José Barbosa Neto. Isto deu motivo a muita crônica e poesia, lamentando o ocorrido...”.


Abraços a todos

Flavio Pinto



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Mensagem N°18210
De: Carmen Netto Data: Quarta 8/11/2006 15:15:33
Cidade: Bhte

Memória olfativa de Montes Claros

As ruas, praças e becos de Montes Claros sempre tiveram cheiros peculiares, cheiros do passado que nos visitam em sonhos e dizem presentes ao chamado da saudade. Aromas eternos.
Saindo para a escola na manhã ensolarada, começava todo um itinerário aromático. Primeiro era o cheiro das “Padaria Brasil” e “Santo Antônio”, assando fornadas e fornadas do pão de sal, inundando a vizinhança com o odor delicioso de pão novo.
O próximo aroma vinha da torrefação do “Café Indiano” e do “Café Primor” nas ruas Cel. Prates e Viúva Francisco Ribeiro. A esse paraíso olfativo, seguiam ondas de odor fétido das matérias primas usadas pelo “Curtume Montes Claros” na industrialização do couro. O mau cheiro ia desaparecendo no corredor do Melo, cujos estábulos e árvores – frondosas mangueiras – principalmente davam a impressão de mergulhar numa fazenda.
Das residências da cidade, a maioria com jardins onde vicejavam roseiras, cravos, dálias, surgia o cheiro de calda de açúcar, da carne assando, do bolo no forno, da baunilha, do cravo e da canela...
Ao passar na porta da Farmácia de seu Mário Veloso sentia o cheiro de álcool, do éter e iodo lembrando machucados e dores.
Subindo a avenida Francisco Sá em direção a Estação da Estrada de Ferro Central do Brasil, sentia-se uma mistura do perfume de eucalipto e fumaça dos trens de ferro a vapor, com lenha queimada ou carvão mineral.
As carroças que rodavam em suas ruas espalhavam o cheiro do suor do animal, às vezes acrescidos de excrementos deixados pelos burros ou cavalos. Os carros de boi, na sua cantoria deixavam escapar o cheiro de lenha recém –cortada.
Sábado, é dia de feira. No mercado municipal, centenas de odores se misturam, deixando no ar um perfume inesquecível; carne de sol, beijús, farinha de mandioca, milho tenro na espiga, cominho e coentro moídos na hora, casca de laranja-da-terra prontinha para virar doce. Tudo isso, mais cajás-mangas, pañas, jambo, murici, verduras e legumes frescos ainda molhados de orvalho. Caldo de cana, queijos, requeijões, cachaça, rapadura e todos os aromas do sertão.
À partir de novembro, o cheiro do pequi, fruto-rei do cerrado invade a cidade com seu perfume intenso e amarelo vibrante.
As primeiras chuvas batendo no telhado e na terra poeirentas, emanavam o perfume acolhedor de terra molhada, enchendo de esperança ô coração do sertanejo.
A noite chegava devagar e o jardim da praça Dr. Chaves era uma festa de odores, aromas e fragrâncias. O ar cheirando a jasmim, manacá e dama da noite.
Na rua Simeão Ribeiro o cheiro de pipoca na porta do Cine São Luiz, e , ao lado no Café de Zim Prates, o cheiro do biscoito de farinha, feito por Dona Pretinha – o melhor que já comi na vida – e hoje ainda existe pelas mãos abençoadas de Nazaré Prates.
No “footing” da Rua 15, os perfumes L’emant, Lorigan, Promessa, Flor de maçã, Miss France, Madera do Oriente, se misturavam aos cheiros de Brilhantina Coty, Gostora e sabonete Libeboy dos rapazes. Perfumes singelos, sedutores exóticos, eróticos...
Paisagem, aromas, odores, sons e cores foram um pano de fundo de minhas vivências, e os invoco em minhas solidões. Eles me fazem companhia, principalmente quando sinto o mundo amedrontado, dolorido, em pânico. Nasce então uma saudade imensa do tempo que passou, da vida simples, do tempo que Montes Claros tinha “alma de aldeã”.
Os odores naturais foram sendo substituídos pelas substâncias industrializadas. As padarias continuam até hoje a marcar território. O cheiro de pão novo aquece a alma e agrada o estômago, mas os carros e os ônibus criam barreiras contra os cheiros das cidades.
Volto a tempos tão distantes e diferentes. Aspiro no ar diáfano todos esses aromas embriagadores. O coração bate mais forte. Arrebatamento. E isso, tem o nome de saudade...

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Mensagem N°18097
De: Wanderlino Arruda Data: Quinta 2/11/2006 15:10:27
Cidade: M. Claros

HERMES DE PAULA, DOUTOR HONORIS CAUSA

Wanderlino Arruda
[email protected]

Foi com morosidade que as quase trezentas vozes, que pareciam mais de mil, pausadamente, atenderam o pedido de silêncio do diretor José Nildo e Silva para o início dos trabalhos da segunda Sefam", o seminário dos professores e alunos da Faculdade de Medicina. Era uma quarta-feira, meio de semana, com suspensão de aulas para a maior avaliação até hoje feita pela nossa Faculdade, um cuidado necessário para enfrentar o presente de dificuldades e o futuro de incertezas. O diretor chama para dirigir os trabalhos, o patrono do D. A. e primeiro dirigente e organizador da es­cola, Mário Ribeiro. Caberá a ele, Mário, a formação da mesa, o anúncio maior da finalidade do encontro. Poucos nomes são declinados e, quando se levantam, caminham sob aplausos de alunos que sabem admirar seus professores. Apenas dois professores de fora são nomeados, fora da mesa, com permanência no auditório: o professor Álvaro de Azevedo Ávila, diretor da Fadir e representante da FUMN, e eu, representante da Fafil. Olho, ao lado, e vejo, triste uma grande omissão; Hermes de Paula fica esquecido, não é lembrado, muito embora o Cláudio Pereira, também ex-diretor, esteja mais atrás, também sem menção. Iniciados os trabalhos, com apresentações objetivas, curtas como devem ser, o diretor fala da Fundação da escola, de sua finalidade, anuncia uma palestra sobre a história de todas as lutas e sofrimentos nestes anos iniciais. Volta a palavra ao mestre Mário Ribeiro (nessa noite, de Cerimônias) e, este faz o anúncio maior: "No auditório está o idealizador da Faculdade de Medicina do Norte de Minas, o homem que tomou os primeiros passos para a sua criação, o homem que me convidou para primeiro diretor. Convido-o para tomar o lugar que lhe compete, que é seu por direito; que é seu pelo desejo maior de todos nós. Recebamos Hermes de Paula, o nosso maior nome nesta Escola. A sua cadeira o espera, Hermes. Venha nos dar a honra". E com dificuldade que o doutor Hermes de Paula se levanta e encaminha-se para o estrado da mesa diretora. Para subir, é necessário o amparo de uma mão amiga. Nunca se presenciou tantos e tão demorados aplausos. A turma, de pé, bateu palmas como se estivesse batendo pela última vez, numa gratidão que só se tributa a um grande herói, herói e amigo. É nessa hora que vem a verdadeira declaração do primeiro dia de trabalho da Sefam. O diretor José Nildo lê a resolução; Hermes de Paula é declarado o primeiro Doutor Honoris Causa da Faculdade de Medicina, uma honra que lhe é deferida pela capacidade e por um milhão de méritos como o maior de todos os montes-clarenses. Nova ovação. Alegria e sentimentalismo. Existe algo no ar que ninguém sabe o que é. Aquele não é o momento qualquer nas estórias da vida. Existem minutos que valem por um século. Ou mais... Hermes de Paula toma a palavra. Não vai falar muito, que não é de discursos. "Senhores, formei-me em Medicina em 1937, em Niterói. Vital Brasil, um dos homens mais famosos na Medicina brasileira, convidou-me para trabalhar com ele, no seu Instituto ganhando um dos melhores salários que um profissional poderia desejar ou sonhar, Cr$ 1.800. Além de ganhar tanto dinheiro, muito para a época, eu teria a oportunidade de ser também muito famoso. Mas, a saudade de Montes Claros, a lembrança dos meus amigos, não deixaram que eu ficasse lá. vim para cá. Em todos estes anos, questionei-me se eu não havia cometido um grande erro, escolhendo a minha terra, numa vida humilde e trabalhosa. Às vezes, eu achava que tinha feito o certo.. Hoje, porém, sei que não poderia ter tomado uma resolução melhor. Eu fiz bem em vir para Montes Claros. Senhores, muita coisa me tem acontecido, todas gratas e muito tenho agradecido a Deus, por elas. Mas, se nada tivesse ocorrido, só esta noite, só esta cerimônia, só fato de estar recebendo este diploma das mãos e dos corações de vocês, eu posso dizer com toda a minha convicção: valeu a pena. Valeu. Muito obrigado a todos". Dois dias depois, Hermes de Paula se despediu de Montes Claros, para a viagem eterna. Para nos também, valeu a pena a vinda dele. Valeu!

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Mensagem N°18093
De: Flavio Pinto Data: Quinta 2/11/2006 14:47:56
Cidade: Belo Horizonte-MG

PARA UM SAULO


Os especialistas da nossa história invocados pelo brilhante muralista de codinome Saulo (ou será um prenome de vida própria, propositalmente dispensando sobrenomes, como se fosse um meio mistério de um quase anonimato para afastar possíveis maus espíritos ?) não apareceram, para oficiais pareceres sobre a sua afirmação e convicção da real existência da Palmeira não menos, vista na bela foto da Praça da Matriz, dos anos quarenta :

“Perdoai-me a ignorância. Mas, parece que a palmeira da foto é mesmo a “Palmeira Antiga”, que João Chaves alçou aos céus em letra e música belíssimas...
Por favor, chamem os especialistas (mens.17927, de 25.10.2006)”.

Passados vários dias e não se vendo nenhum especialista ao largo ou à vista, sou obrigado- e com prazer - a lhe dizer, caro Saulo (que não conheço, mas admiro os belos escritos, de letras, vírgulas e pontos que saem direto do coração) que:

como a foto, comprovadamente, é do começo dos anos quarenta ( se fosse do final, ou na virada da década de 50, uma possível nova palmeira plantada nunca estaria daquele tamanho), não há dúvida alguma na veracidade de sua afirmação, ainda mais ao se citar a história, pelas mãos e talento do Mestre Nelson Vianna, em seu excelente livro “Serões Montesclarenses” :

“O mirante localizava-se no largo da Matriz (...) e à frente dele foi plantada, na tarde de 25 de novembro de 1872, uma palmeira. Era linda e enfeitava a praça com as suas verdes palmas, com a sua elegância fidalga, até a tarde de 18 de fevereiro de 1948, quando foi sadicamente crucificada por mãos profanas. Por aquela ocasião, o poeta montesclarense João Chaves, que lhe consagrava verdadeira afeição, vinculada a ternas recordações da infância, dedicou à velha palmeira uma inspirada poesia de fundo sentimental, que vai abaixo transcrita”.

PARA OUTRO SAULO

Encontrei-me, na saída de um boteco, semana passada, com outro Saulo, amigo de infância e contemporâneo de natação na Praça de Esportes : “ Flavão, o forte da minha carreira esportiva foi a natação, v. sabe disso. Fui várias vezes campeão e recordista mineiro, nado de peito. Tem tudo registrado na Federação Mineira. Fui goleiro por acaso. Fala pra Berguin”.

Nosso grande Lindemberg, ao colocar um abrupto final à carreira esportiva de Saulo, o Bill, aqui neste mesmo Mural, após sua breve, porém gloriosa passagem defendendo a meta do BENJAMIN, do inesquecível Irmão Leonardo, grande professor e mentor que tivemos no Colégio Marista, e que teve no próprio Saulo, este, o Wanderley, o seu derradeiro e grande amigo, está, portanto, lhe devendo essa ressalva.

Quanto ao Bill goleiro, está sendo modesto: pode até ter sido por acaso, mas era difícil marcar gol nele.

Abraços a todos.

Flavio Pinto

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Mensagem N°18078
De: Carmen Netto Data: Quarta 1/11/2006 23:56:04
Cidade: Belo Horizonte

Reflexão Num Dia de Finados

Hoje é finados. O dia amanheceu nublado, mas a chuva abençoada abrandou o calor. Estou vivendo um daqueles momentos únicos em que, merecidamente, posso dedicar-me mais a mim mesmo. Talvez pela primeira vez na vida.
No aconchego do meu lar, escuto a voz e o violão de Toquinho.Não sei porque a música me leva a Carlos Drumond de Andrade e lembrei-me do que ele escreveu numa crônica que fala desses dias preciosos em que todos saem e a gente fica sozinha dentro de casa. Ele toma o cuidado de não fazer nada que possa atrapalhar o convívio com a alma muda, mas sensível às coisas.
“Neste instante de reflexão, percebi que posso abrir minha luz aprisionada, como acontece com as flores e os pássaros, e recorrer à memória do amor”. A gente ama com a alma e sinto a presença dos meus entes queridos que já partiram.
Não gosto de cemitérios, presto minha homenagem de gratidão pelas suas existências nesse momento de nostalgia e devaneio.Mas é uma nostalgia boa, porque a lembrança de pessoas queridas não é triste nem amarga, é uma saudade abençoada.
Uma luz dourada me envolveu e resgatei lá do fundo uma sensação de encantamento e gratidão por meus avós, meus pais. Graças a eles, estou aqui vivendo este momento de plenitude, aquele clássico estado de espírito que posso definir como uma leveza, como “prestes a voar”...
Minha veneração é meu agradecimento por terem me inculcado valores que nortearam a minha vida para o “SER”, este não se perde e me faz valorizar cada vez mais a vida.
Olhei distraída para o céu. O sol reapareceu brilhando na manhã lavada da chuva. Como no filme “sonhos” de Kurosava, realidade e fantasia se misturaram e integrei-me, livre da materialidade e da temporalidade, com todas as pessoas queridas que já se “encantaram” como tão bem disse Guimarães Rosa. O dia de finados se revestiu de beleza e paz, “aprender a morrer é aprender a viver”.


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Mensagem N°18016
De: Wanderlino Arruda Data: Segunda 30/10/2006 10:41:21
Cidade: Moc

A DEVOÇÃO DO POVÃO

Wanderlino Arruda
[email protected]

Na cidade muito. Na roça, ainda mais. Em todas as partes, no sertão ou na beira do mar, na planície ou no alto das serras, o povo, o povão sempre buscou o amparo amigo dos santos. A devoção simples, mística, ingenuamente bem intencionada, foi sempre dirigida na busca de uma ajudazinha nas horas de aperto, porque ninguém é de ferro! Afinal, o próprio folclore, com sua repetição de boca-em-boca, o doce mistério das coisas de origem obscura, o maravilhoso tempero com gosto de sagrado, tudo leva a alma e o desejo do simples a uma situação de busca e sofreguidão. É a ordem natural das coisas, principalmente para os que aprendem, de ouvido, a sabedoria popular. E quem não tem, neste nosso mundo de alma portuguesa, pelo menos resquícios de misticismo? Pelo sim, pelo não... São José é patrono do lar, da família e dos carpinteiros. Quem crê em São José têm o trabalho garantido e nunca lhe faltará o pão. Quem crê em São José pode pressentir o dia da morte e tem o poder de livrar-nos da dor de dente.Santo Onofre é guardião da despensa, guarda-comida, onde que haja mantimentos. É padroeiro da fartura. São Lázaro é afastador de feridas bravas, doenças da pele, protege quem trata de cachorros abandonados, sem dono. "São Bento, água benta, / Jesus Cristo no altar. / Bicho bravo, baixe a cabeça, / deixe um filho de Deus passar". Santa Bárbara e São Jerônimo são protetores contra raios, coriscos e chuvas forte. Quando acontece uma tempestade, reza a gente boa e simples: "São Jerônimo, Santa Bárbara, levem essas trovoadas, que sobre nós estão armadas, para bem longe, onde não existem eira nem beira nem pau de figueira, nem galo de cantá!". "Santa Bárbara bendita, / no céu está escrito: / Com papel e água benta, / aplacai esta tormenta". Santa Luzia é protetora da vista. Quando a gente quer tirar um cisco do olho, a gente pede: "Corre, corre, cavaleiro, / vai à porta de São Pedro / dizer a Santa Luzia / que me dê uma pontinha de lenço / para tirar este argueiro". São Longuinho está incumbido de encontrar objetos perdidos. Quando a gente perde um objeto, a gente dá um nó cego num pedaço de palha e o coloca debaixo de uma pedra: "São Longuinho, você vai ficar por aqui e só vai ser solto, quando eu encontrar um canivete que perdi". São Gonçalo do Amarante é o padroeiro das meninas que querem casar. As mocinhas devem suplicar assim: "São Gonçalo do Amarante, / casamenteiro das moças, / casai-me a mim primeiro, / São Gonçalo do Amarante, / feito de pau de alfavaca, / que não tem rede e nem cama, / dorme em couro de vaca". Santa Clara é dissipadora de nevoeiro. São Lucas é o padroeiro dos médicos. Santa Cecília é a padroeira dos músicos. São Cosme e São Damião simbolizam a amizade. São Raimundo Nonato é o amigo das parturientes. Santa Helena responde pelo sono perguntas ao futuro. São Marcos protege o gado e amansa o mau gênio de crianças rebeldes. São Miguel é o guerreiro de Deus. São Pedro é santo chaveiro, protetor dos pescadores e dos marinheiros. É o porteiro do céu. Quando ele está arrumando e lavando a casa, lá em cima, ocorrem os trovões e as chuvas. Santa Rita de Cássia resolve as causas impossíveis. A pessoa que consegue dela uma graça, publica num jornal a sua oração: "Santa Rita dos impossíveis, / de Jesus sempre estimada, / sede minha protetora. / Rita, minha advogada / valei-me pelas coroas / a primeira de solteira, / com que fostes coroada. / A segunda de casada. / A terceira de freira, / tocada de divindade". E o que faz Santo Antônio? "Aplaca a fúria do mar, / tira os presos da prisão, / o doente torna são, / o perdido faz achar". Ou então, pedido de moça casadoira: "Meu Santo Antônio querido, / eu vos peço por quem sois. / Dai-me o primeiro marido, / que o outro arranjo depois". Ou "Meu Santo Antônio querido, / meu santo de carne e osso, / se você não me der um marido, / não tiro você do poço". São Cristóvão é o andarilho pelas estradas, protetor dos motoristas e dos caminhoneiros. São Judas... Tadeu é advogado das causas desesperadas e dos supremos momentos de angústia...
Cidade: M. Claros

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Mensagem N°17982
De: Wanderlino Arruda Data: Sexta 27/10/2006 18:56:44
Cidade: Montes Claros

A VOZ DO ESTUDANTE

Wanderlino Arruda
[email protected]

Sob a orientação do nosso saudoso Monsenhor Osmar de Novais Lima, órgão do Grêmio Lítero - Esportivo "D. João Antônio Pimenta", circulava em agosto de 42 no antigo Ginásio Municipal de M. Claros, direção de Antônio Augusto Athayde, redação de Luiz G. Prates, o jornal A VOZ DO ESTUDANTE, número 17 ano III, nova fase. Seis alentadas páginas, bem impressas, feitas pelas Oficinas Gráficas Simões, constituem, hoje, uma gostosura de passado histórico, interessante registro de uma época de patriótico respeito por instituições e costumes, uma como que quase revelação de pureza d`álma de jovens estudantes, ciosos e compenetrados na luta por um futuro melhor. A colaboração farta contava também com o professor Alfredo Coutinho e, segundo me parece, com alguma cousa do dr. João Antônio Pimenta, tal a seriedade de conceitos, que só o velho mestre sabia imprimir. Outros nomes, alguns ainda bem lembrados, outros esquecidos, representam, hoje, curiosidade: Barulas Alves Reis, Vivaldo Macedo, Ione Feitosa, Eunice Fialho, Zilca Miranda, Adelaide Barbosa, Manoel J. G. Calaça, Antônio Franco Henriques, Célia A. Neto, além de Geraldo G. Prates e de um misterioso A., tudo indica ser o mesmo Antônio Augusto Athayde, autor de outro artigo vazado em idêntico estilo e entusiasmo. Interessante é a coluna de aniversários. Vejam os nomes de quem naquela época já andava freqüentando ginásio: Aristides B. Braga, 1ª série; Péricles A. Andrade, José A. Guimarães, José Braga, 2ª série; os terceiranistas eram Rosália Pinto, José Romualdo Torres, Carlúcio Athayde; ainda do segundo ano, Élton Rocha e Artur Fagundes Oliveira. "A todos, principalmente ao Padre Gustavo F. de Souza, os votos de felicidades de "A VOZ DO ESTUDANTE" - dizia a nota. A colaboração principal parece que era mesmo a do diretor Antônio Augusto Athayde, que ainda escrevia o sobrenome sem o "h" e o "y", como o fazia também o Carlúcio, seu parente. Coisas de garotos... Antônio Augusto tinha boa redação e muita riqueza de adjetivos e verbos no gerúndio. Os períodos eram longos, cheios de subordinação, bem temperados à moda de Rui Barbosa, Castro Alves e Padre Antônio Vieira. Seria influência de muitas leituras? Por exemplo: "Em nossa memória tenra ainda, períodos como os que agora atravessamos ficarão gravados para jamais esquecermos dos tempos bons de nossa florida adolescência - tempos que não voltam mais..." Outro trecho: "Enquanto do alto dos céus, os raios fulgentes do sol sertanejo banham os vastos pátios do Ginásio..." etc. Tempo bom, tempo ótimo, coisa linda de tempo, Antônio Augusto! Nada mais coerente que a voz da juventude - espontânea, pura, colorida, limpa de coração... É pena que a realidade da vida nos tire tanta poesia e beleza. É pena que a crueza do dia-a-dia nos tire tanto da jovialidade dos primeiros anos de vida... Mas, afinal, é bom ter motivo de saudades...

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Mensagem N°17942
De: Carmen Netto Data: Quarta 25/10/2006 19:20:27
Cidade: BHTE

Saí de Montes Claros há mais de 44 anos.Sou filha do Prof. João de Freitas Netto e Maria Aparecida Dias Netto. Minha mãe trabalhou no Correio quando seu pai administrava essa repartição. Lembro-me de D. Laura sua avó,que fazia a mais deliciosa geléia de mocotó da cidade. Mamãe era conhecida de D. Dorzinha e eramos clientes do laboratório de análises clinicas do competente Dr.Geraldo Guimarães,se não me engano,seu tio. Tudo isto é história e faz parte de nossas vidas.Abraços montes-clarenses.

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Mensagem N°17927
De: Saulo Data: Quarta 25/10/2006 10:39:25
Cidade: BH

Perdoai-me a ignorância. Mas, parece que a palmeira da foto é mesmo a Palmeira Antiga, que João Chaves alçou aos céus em letra e música belíssimas...
Por favor, chamem os especialistas.

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Mensagem N°17914
De: Flavio Pinto Data: Terça 24/10/2006 17:02:32
Cidade: Belo Horizonte-MG

SEGREDO ANTIGO


Todos os pontos misteriosos do A ao Gê, da moça, tinham se revelado naquele momento de êxtase.

Pois os gritos que ela dava na madrugada chuvosa de segunda para terça-feira, sibilantes agudos e malevolentes graves, praticamente nos anestesiaram e nos levaram para outra esfera de compreensão durante quase quinze segundos, em plena Rua Quinze, no escurinho de uma vitrine recuada da loja de Ramos & Companhia naquele final de 1958.

E nós, três meninos de 13 anos, nem tão inocentes e puros assim - pois que a rua Lafaiete, que era logo ali, já e sempre nos havia mostrado coisas a mais - nunca havíamos visto semelhante fato ou similar, nem no cinema, nem na escola, ou em livro - ou mesmo no salão de barbeiro, onde os adultos falavam coisas que pensavam que a gente não prestava atenção - só pudemos ficar assistindo, tanto ou mais entusiasmados que a própria moça que gritava de amor.

Que, percebendo nossa presença, subiu abruptamente a saia, desatracou-se da pessoa e saiu correndo. Dobrou a Dr.Veloso, sem olhar pra trás.

A outra pessoa, trajando uma parda e molhada capa de chuva e chapéu de shantung enfiado na testa, logo passou à nossa frente e deu-nos um olhar de pura decepção ( ou raiva ), com aquele grandes olhos azuis e sobrancelhas bem aparadas, tornando maior a nossa incredulidade ante tal fato.

Pois não é que era também mulher o que achávamos ser o namorado.

Chocados, ficamos como bobos na esquina, sem conversar nada.

Decidimos não contar nada a ninguém.

E ficamos assim, quase que num mórbido silêncio, por semanas. Só comentávamos entre a gente.

Até que um dia, Zeca do Correio, com toda a sua verve e natural compreensão de todos os mistérios da vida, sentou-se perto da gente e arrancou-nos do peito o segredo.

E só falou isso:

“Roçadinho...Liga não.

Pegou o pacote de cartas para entregar, levantou-se calmamente e saiu assobiando o famoso dobrado “Stars And Stripes Forever”, o prefixo musical das matinês do Cine São Luiz.

Sem pular nenhuma nota.

Abraços a todos.


Flavio Pinto




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Mensagem N°17910
De: Carmen Netto Data: Terça 24/10/2006 14:58:08
Cidade: BHTE

Colégio Diocesano

Tudo que eu não quero perder são as lembranças da juventude. Quantas recordações do meu tempo de estudante! Foram tantos sorrisos, tantas palavras que ficaram na memória... Dos professores, a saudade, da escola, experiências enriquecedoras que se gravaram na fronteira da memória e da alma.
O Colégio Diocesano Nossa Senhora Aparecida substituiu o Ginásio Municipal. Apesar de ser da Mitra Diocesana era uma escola considerada muito diferente de suas congêneres. Era uma escola preocupada em formar pessoas para pensar, para sentir, para falar e fazer a diferença na sociedade.
Tudo isso vem à tona ao achar uma fotografia em preto e branco que o tempo tornou levemente amarelada, de um parada de 7 de Setembro, onde, usando uniforme de gala – vestido de seda “Patou”, saia pregueada, gola marinheiro, boina azul marinho, sapatos pretos e meia cor da pele – íamos desfilar pelas principais ruas da cidade. Era um momento especial pra paquerar a rapaziada do colégio, que ficava mais bonita em seus uniformes de gala.
No dia-a-dia, usávamos o uniforme composto de saia pregueada – que ficava sempre debaixo do colchão para não abrir as pregas – blusa de tricoline com uma gravatinha onde listras azul-marinho indicavam a série que cursávamos. Cinturas apertadas por cintos largos de látex, caras lavadas, só um batonzinho para alegrar, e rabo de cavalo.
Por onde andará aquela juventude? Perdida num passado que eu gostaria de reviver.
Lembrar das aulas maravilhosas de Pedro Sant’Ana onde apaixonamos pela História Geral, do prof. Belisário, sósia de Castro Alves que levava as alunas a recitarem “O Navio Negreiro” e “Vozes D’ África”; aulas de trabalhos manuais, onde aprendíamos a bordar, economia doméstica onde fazíamos um lindo caderno-roteiro para administrar o lar. As aulas de Geografia com Maria Inês Versiani despertavam vontade de conhecer lugares e correr o mundo, Francês com o Padre Agostinho Beckauser, bravo até não poder mais, que nos deu ótima base da língua francesa; Português com o Pe. Vicente Aguiar, na terrível gramática “FTD”, análises de Camões e redações. As aulas de latim com monsenhor Osmar de Novaes Lima eram encantadoras. Estudamos a vida de Roma na coleção “Ludus Primus”.
Mas... a matemática me perseguia com seu mecanismo implacável. Seus teoremas me pareciam armadilhas preparadas com malícia e aqueles problemas das caixas d’água eram de matar qualquer mortal.
Apesar da disciplina austera – o colégio era misto – existiam atividades integradas como o Grêmio Lítero-Esportivo, onde os alunos apresentavam números musicais, poesias, discursos, acredito que foi a primeira tribuna de todos nós. Por favlar em austeridade, lembrei-me de um castigo recebido. Faltou um professor. Não tendo substituto, ficamos à vontade. Resolvemos fazer um desfile para ver quem tinha as pernas mais bonitas. A algazarra atraiu o Padre Agostinho exatamente na minha hora. Ele perdeu o controle. E suspendeu toda a classe e deu como castigo escrever quinhentas vezes: “Devo proceder bem na sala de aula”. Foi uma escorregadela da pedagogia, fizemos calo nos dedos, mas valeu a brincadeira!
Às 17 horas soava a campainha que nos libertava das quatro aulas, para o jogo de voley. Num campo de terra batida, disputávamos várias partidas com aquela bola de capota branca, que tornava o jogo sensacional. Ou então, íamos ver os rapazes jogarem futebol, onde com um sorriso franco e um jeitinho encantador fazíamos daquele local, espaço para conversar com o colegas e viver ocasionais romances, numa doce intimidade de mãos dadas.
Vivíamos enquadradas às normas daqueles tempos, mas de vez em quando, matávamos aulas. Saíamos em grupo, num alarido tão estridente quanto um bando de pássaros, rumo à Praça Dr. Carlos, onde sentadas em seus bancos, comíamos as guloseimas que o mercado sempre oferecia. Ali, entre pipocas, quebra-queixo e roletes de cana, conversávamos sobre nossos projetos, nossos sonhos. Foram momentos bons e bonitos que vivemos irmandadas pela amizade que se consolidava a cada encontro diário, naquele prédio acolhedor.
O Colégio Diocesano foi um marco em minha vida, era uma complementação da minha família. Os professores não ficavam só no ensino das disciplinas – iam além – educavam.
Hoje, existem jovens em outras roupagens, em outros tons, em outros sonos e em outros visuais. A própria Montes Claros continua jovem, progressista, universitária, efervescente de cultura e palco de outra história, onde os personagens serão sempre os mesmos, só muda as circunstâncias.

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Mensagem N°17501
De: Carmen Netto Data: Quarta 11/10/2006 15:42:14
Cidade: Bhte

Como a avenida Cel. Prates está na moda em Montes Claros, envio a crônica sobre a Igrejinha do Rosário da minha infância e adolescência.

A missa das 8hs, na Igrejinha do Rosário


Gosto de escrever sobre o lado humano da vida. Falar de pessoas, cheiros, sons e lembranças numa linguagem lírica que não resvala em momento algum para o piegas.Será que ser saudosista é defeito? Acredito que não. Abençoado daquele que tem uma infância e uma juventude feliz para contar.
Assim como “Proust”, tecia a malha de suas lembranças captando aqui um rosto, ali um perfume, uma cor, mais além uma reflexão de voz, no meu modesto tear também gosto de reviver o acontecido, bulir em águas paradas, abrir quartos fechados...
Muitos se foram, outros chegaram. As cidades são vivas. Estão em constante movimento. Os anos cinqüenta marcaram uma época romântica da história de Montes Claros. Entre o “footing” na Rua 15 e sessões de cinema, entre conversas no Café de Zim Bolão e horas dançantes no Clube Montes Claros, a vida seguia alegre e despreocupada.
Um dos locais onde as pessoas se encontravam para rezar era a Igrejinha do Rosário, na missa das 8hs. Naquela igrejinha de uma cidade encantada e amada, a que deram o nome de Montes Claros, percebi que aquelas pessoas que assistiam a missa eram como uma família se mantinham unidas pelos laços do coração. Em seu estilo colonial despojado, possuía uma nave central e em cada lado uma meia água. O campanário com o sino ficava na entrada principal. Domingo sem missa, não é domingo. A igreja enfeitada com flores naturais, a luz no altar refletindo nos arabescos dourados. Adentrando pela lateral direita ficava o reduto das mulheres e crianças, do lado esquerdo ficavam os homens e na nave as famílias em seus genuflexórios. Eu fazia parte da equipe da coleta. Era uma disputa. Todas queríamos fazer a coleta no lado masculino, pois a féria era infinitamente maior. Esse dinheiro era entregue às irmãs Lili, Iraci e Ana, conhecidas como trigêmeas, pois vestiam-se de maneira idêntica e com o maior esmero administravam a igreja.
O que eu menos fazia durante a missa era rezar. Observava tudo e todos. Estou vendo Carlotinha Versiani dos Anjos entrar em sua cama sobre rodas, acompanhada de Maria, na feliz expectativa de receber a comunhão. Neste setor ficavam também minha tia Teresa Dias, Oraide Novais e Lourdes Antunes Pimenta. Bonitas em seus vestidos de linho, discretamente maquiadas, sapatos Anabela, meias de seda, verdadeiras “ladies”. No lado masculino, entre os chefes das mais tradicionais famílias da cidade, o Cel. João Maia sentava em sua cadeira de balanço, vestido sempre de terno preto, cabelos e barba brancos, como um patriarca saindo do velho testamento em atitude de meditação. Os rapazes mais jovens assistiam a missa do lado de fora da igreja e aproveitavam para lançar olhares lânguidos às mocinhas. Na nave central, lembro-me das moças da família Rebello: discretas, educadíssimas e contritas. Encantava-me Dália Correia Machado, contrastando seus cabelos pretíssimos e sedosos com o batom vermelho vivo, sempre acompanhada de Teresinha Tupinambá e D. Bela Costa, exemplos de elegância clássica. Mais ao lado, vejo Alicinha Maia, lourinha, parecendo uma “teen-age” dos filmes água com açúcar da Metro.
Mas, a minha admiração era Dona Vidinha Pires vestida severamente: saia preta e blusa branca, com bolinhas ou estampados pretos. Sobre a blusa a Medalha Milagrosa de Nossa Senhora das Graças. No rosto uma leve camada de pó de arroz. Usava um maravilhoso anel de diamante, que, ao contato com alguns raios de sol, refletia pontos dourados no altar lateral. Mais que a beleza do anel, me impressionava o fato de ela usá-lo no dedo indicador, naquela época as senhoras usavam anéis apenas no dedo anular.
Vai começar a missa. A liturgia em latim, o cheiro do incenso, a música do harmônio criavam a atmosfera do mistério que envolve o sagrado. Padre Marcos, belga, de sotaque carregado, descrevia nos sermões os horrores do purgatório e do inferno. Depois foi substituído pelo Padre Quirino. Tão ameno! Tão bonito! Ele se parecia demais com o ator Gregory Peck naquele filme “As chaves do Reino”.
“Ite missa est”_ “Deo Gracias” respondiam os coroinhas. Na saída da igreja as famílias se cumprimentavam, combinavam o programa da noite. Em casa nos esperava o ajantarado de domingo: a deliciosa macarronada, o arroz de forno, tutu com lingüiça, frango assado e a cerveja preta Malzebier. Ah, esqueci: mil sobremesas a escolher.
Tinha vida melhor?

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Mensagem N°17434
De: Flavio Pinto Data: Segunda 9/10/2006 10:58:21
Cidade: Belo Horizonte-MG

ELEGANTES RACHADAS



O povo daqui dessas faladas alterosas, pelas redondezas e adjacências, d’alhures, acolá ou mais não sei de onde, e todos aqueles que o detestam, seu cheiro, sabor, histórias, mentiras e verdades, gostam de chamar os que gostam de pequi – alguns carinhosamente e outros nem tanto - de roedores, como se ruim e animalesco fosse a prática dessa eterna delícia, que é roê-lo até ficar branquinho e começar a aparecer as pontinhas dos espinhos.

Claro que, indelicadamente, tenta-se aí (não por todos) uma forma de rebaixamento qualquer, por fora das entrelinhas.

E ficam sempre surpresos de não haver nenhuma reação da parte do povo viajante das terras quentes do norte, até pensando que este faz grande esforço, para não retrucá-lo, ou ficar chateado.

Mera educação.

Até que, num dia qualquer de suas miseráveis - e completamente sem graça e sem sal - vidas de gente que nunca comeu pequi ou tomou suco de umbu, percebem que nunca existiu força ou vontade pra contrapor quaisquer más respostas ou mesmo feridas nos pretensos sentimentos agulhados de nossa sensibilidade.

Mera piedade.

Porquê ? Dirá o incalto.

Que é este mesmo incauto, eterno imprudente , só que ligeiramente - ou inteiramente - tonto, com a língua aguçada e a cabeça sempre vazia.

Em qualquer bar dessa gostosa e verdejante capital, ele existe.

E em tal conversa que os padrões normais existentes para uso comum (futebolísticos e políticos) tornam-se escassos na verborréia afiada dos referidos e sistemáticos roedores, quando cruzam velozmente as fronteiras do absoluto desconhecido, bem pra lá de onde Judas perdeu as meias.

Embora sejam, nada mais nada menos do que o encontro de amigos e conterrâneos, aquela velha conversa gostosa, aliás e sempre, boa de doer, cheia de casos. Todo dia um caso novo.E suas nuances, de rir e chorar ao mesmo tempo. Os olhos, à toda hora, molhados da mais pura emoção.

É quando tem sempre um desses por perto, incalto , bêbado, pseudo membro da ‘inteligentzia” local, louco para adentrar à transcendental conversa do povo do sertão.E derrubar. Ou tentar.

E, como sói acontecer, nestas grosseiras e vãs tentativas de ocupação do ego alheio, sobra sempre para este alguém sabe quem : acaba não se dando tão bem como pretendia, que nem o próprio Freud explicaria ou sairia por cima.

O incauto, então, já menos tonto, naqueles 30 segundos de recomposição geral e estratégica, dá solene meia volta e, no sentido totalmente contrário , navega em direção a territórios de outros povos existentes - a lugares mais fáceis e razoáveis, de preferência - na face oculta do belo boteco.

E o ultraje, que a rigor, não é nada disso, muito pelo contrário, fica na lembrança.

Certamente, mais na dele do que na nossa.


Abraço a todos.

Flavio Pinto

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Mensagem N°17391
De: Saulo Data: Sábado 7/10/2006 11:37:35
Cidade: BH

A bela foto é de uma cidade que não quer ser esquecida.
Resiste, subsiste, debaixo da outra, empavonada sobre o seu corpo crucificado, para ficar na imagem irresistível do poeta. Porque tem filhos, e os seus filhos lutam por ela, a cidade reluta, espalmando história, passado, costumes e cultura. É uma civilização à parte, limpa, que merece viver e pede para viver, porque soube juntar bravura e ternura num mesmo coração. Mas, até quando ?

O progresso que visita a cidade, às vezes em trajes enganosos, muita vez não merece o nome, pois arrasta a qualidade de vida do seus filhos para baixo, em forma de violência, de barulho, de desemprego, de má conduta dos políticos, de desigualdade – entre outras coisas, pois a lista é longa.

Mas a cidade – uma civilização de 250 anos, resiste.

Como “o ouro e a prata”, prova-se pelo fogo.
Certifica-se pela humilhação dos filhos queridos, os que a abraçam, e que com ela seguirão à pira levantada pelos incendiários de sua história.

Nesta foto, o essencial de Montes Claros ressurge através de um dos seus símbolos. A avenida Coronel Prates. A avenida da Estrela. A Avenida do Jatobá. A avenida da Fábrica – a mais simbólica de todas as avenidas, que acaba de ser mutilada, em nome de certo tipo de progresso, que não olha nos olhos.
.
O cenário da foto é o comecinho dos anos 60.

O paralelepípedo está novo em folha. A grama é o relvado inaugural do jardim modelado pelo prefeito Simeão Ribeiro Pires. As tipuanas exibem o viço da primeira juventude. As touceiras de Caetés, “arrebentando em flores, em tão lindas cores, quem as fez assim?”, aguardam os meninos que virão pelo começo da noite falar com elas, e com as estrelas – num tempo em que as crianças, mais felizes, brincavam livremente na porta de suas casas, na rua, na praça, na vida.
.
O triciclo estacionado, repare, é para levar roupa suja e trazer roupa limpa. A carroça, o jeep (como se escrevia) e, ao fundo, as meninas do Colégio Imaculada com seus uniformes de gola de marinheiro. Uniformes de azul e branco, uniformes de sonho. A mãe de vestido rodado que leva o filho pela mão, no meio da tarde, tudo trabalha na foto ingênua para que a cidade, gentil e suave, suave e modesta, se apresente e se reconheça, enternecida.

O “progresso”, certo tipo de progresso que em 4 décadas fez a população multiplicar-se por quase 20 vezes , inicialmente pela industrialização e, depois, pela ruína do campo, este tipo de duvidoso “progresso” transportou a doçura da cidade para a lembrança e para a foto. Equívoco que bem pode ser revertido, se todos quiserem.
.
É inelutável! , dirão os realistas, acima dos pessimistas, mas muito abaixo dos sonhadores.

Contudo, nenhum tipo de progresso, por avassalador e temerário que seja, reúne forças capazes de invadir as almas e as mentes e nelas extinguir o valor, os valores, que a cidade dos montes claros plantou no coração de seus filhos. Que resistirão, é certo.

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Mensagem N°17369
De: Carmen Netto Data: Sexta 6/10/2006 15:09:55
Cidade: BHTE

Esta crônica é dedicada ao casal José Lopes de Aguiar e Maria Anita de Aguiar Lopes.

Manoel Quatrocentos.

Ao ver a fotografia de Manuel Quatrocentos na seção “Memória” do Jornal de Noticias de 23-08-03 uma onda de ternura tomou conta do meu coração. Chamava-se Manoel Nunes da Silva. Não sei porque ganhou a alcunha de “quatrocentos” e faz parte da mitologia da cidade. Vivia com uma indescritível liberdade de nada possuir, bastava-lhe o dia e a noite, o machado de cortar lenha e o cinema.
De compleição atarracada, cabelos sempre emplastados de brilhantina, sobrancelhas cheias, olhos verdes cor de folha seca, nariz abatatado, boca grande, dentes pequenos e certos com diastema, trazia nos lábios um sorriso constante: Era alegre e comunicativo, a não ser que o irritassem.
Na pele curtida pelo sol do sertão a varíola deixou sua marca.
Viveu numa época pré-fogões a gás, numa cidade onde existiam casas com fumaça saindo da chaminé, gato no borralho, carroções de lenha cortando suas ruas. A profissão de lenhador era imprescindível e, entre os lenhadores Manoel Quatrocentos era dos melhores, senão o melhor! Empunhava o machado elegantemente apoiado no ombro, qual uma baioneta, era seu orgulho.
Manoel era bem recebido nas residências da cidade pela delicadeza do seu modo de ser. Aliado ao uniforme de trabalho – blusa de malha, calça de brim, sapatos “a la Carlitos”, e o inseparável chapéu de palha – o sorriso de gato: sutil, indecifrável, indefinível.
Punha-se a trabalhar e logo era rodeado pelas crianças da casa, que riam com suas brincadeiras inocentes. Ficava amigo das empregadas domésticas, jogava charme para todas elas, as patroas ficavam de orelha em pé, mas Manoel era um cavalheiro.
À noite, com luar ou sem luar, com calor ou frio, ou mesmo chuva, lá estava nosso amigo a porta de um dos cinemas da cidade. Tinha cadeira cativa em todos eles. Havia uma metamorfose em sua aparência. Banho tomado, vestia um terno cor de burro fugido, gravata vermelha, cabelos englostorados, usando perfume “Royal Briar” e um anel de latão esperava o início da sessão. Se era no Cine São Luiz, ficava no famoso café de Zim, proseando com a nata da sociedade que fazia daquele tradicional café, seu ponto de encontro. Também aos domingos, usando o mesmo terno, cantava no programa de calouros da rádio ZYD-7. O auditório dava a maior força e Manoel com sua ingênua simplicidade vivia seus quinze minutos de fama.
Outro aspecto de sua personalidade chamava a atenção. Criou uma língua “sui generis” com palavras em espanhol, ingles ou francês. No seu vocabulário “muchachos, Good bye, au revoir, yes, adios” se misturavam ao português e a outras palavras que inventava – uma em especial – “olalaite” que usava em todas as frases.
Gostava de enganar as pessoas, com as famosas “ferradas”. Ficava olhando para o céu, chegando alguém dizia sério: Olha um disco voador!
___ Onde Manoel?
A pessoa punha a procurar e depois de algum tempo, lá vinha a risada e dizia:
Te ferrei! E saía de mansinho com seu passo de gato...
Manoel Quatrocentos espairecia a alegria de estar no mundo apesar de fazer parte do clã dos humilhados e ofendidos, era um mestre a levar nos braços fortalecidos pelo uso do machado, toneladas de sonho e esperança.
Ficou incorporado ao patrimônio afetivo da cidade, virou nome de praça, a dos morrinhos – mas segundo o jornal, parece que o nome não emplacou.
Acabaram-se os quintais, os carros de boi, os fogões à lenha, o vento levou o tempo... A vida só conta histórias dos vencedores. Manoel Quatrocentos a seu modo foi um vencedor. Minha geração não o esqueceu e se lembrará dele com seu terno cor de burro fugido, roto, amarrotado, mas conservando a honradez e a dignidade de quem o vestiu Manoel Quatrocentos, Manoel Sonhador, Manoel o audaz.

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Mensagem N°16903
De: Flavio Pinto Data: Quinta 21/9/2006 10:17:16
Cidade: Belo Horizonte-MG

A NOITE DO MEU BEM

Eternos sobreviventes anuais.

Diários e mensais, está implícito , não vale a pena contar. Basta vivê-los.

Somos sim e muito mais, esta fina flor do norte e cerrado, gente simples, de fibra, do ano corrido do trabalho sol a sol, que segue a trilha da batalha do início de uma safra a outra de pequi - embora malfadados anões temporões apareçam ocasionalmente para nos desviar da rota certa - agüentando tudo calado, ora feliz, ora triste, mas sempre livres, nosso direito.

É quando se aproveitam dessa infinita bondade e paciência anunciando, a toques de ensurdecedores clarins elétricos, que o preço do progresso e do prazer é a eterna escuridão e que a luz só aparece mesmo no final do túnel.

E para alguns poucos : aqueles que se submeterem, sem reclamar, às cruezas e incertezas desta maléfica caminhada, onde, em nossos olhos, ouvidos e mentes, perenes coisas ruins têm obrigação de passar e repassar, para que o completo desfrute venha no final e paire eterno sobre a velha cidade.

Parece até antigas aulas de religião. Mas não é.

É o momento presente, de quem só faz piorar a vida de todos, ano após ano, azucrinando-nos em nossa própria casa, interferindo no merecido e sagrado descanso das lidas sem fim.

Debaixo da complacência e benesses de um poder colocado para olhar por nós.

Que nunca oram pro nobis.

Mas ficam bravos, até com os incomodados que se retiraram.

E com os velhos e as crianças, que só queriam dormir o sono de paz cantado por Dolores Duran.


Abraços a todos

Flavio Pinto

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Mensagem N°16640
De: Flavio Pinto Data: Quinta 14/9/2006 12:59:34
Cidade: Belo Horizonte-MG

COISAS QUE FALTAM


A verdade é que está faltando alguma coisa pra alegrar a vida do cidadão.

Do velho e do novo.

E dos mais ou menos e até dos que se acham bem menos do que mais.

Quem vai nos devolver aquela velha caminhada , despreocupado da vida, pelas esquinas e ruas da nossa velha cidade?

As pessoas andando pelas calçadas, no vai que vem, natural , os rostos conhecidos dos amigos e semblantes misteriosos de desconhecidos.

E ver de perto o amor nos olhos dos casais.

Dos cumprimentos e abraços nos mais chegados ou simplesmente parando pra tomar um cafezinho no bar e perguntar pela saúde do velho dono, e dos filhos, e dos fregueses e pagar um cigarro retalho pra alguém que a vida nunca sorriu.

Do silêncio da natureza e dos sons da cidade.

Acústicos.

De um enterrar de um pé numa poça d’água, de poder se ouvir um carro , ao longe, pegando empurrado.

E o som rasgado de uma campainha de bicicleta (de apertar com o dedo e com força).

Uma mãe, aflita , gritando embaixo de um pé de manga-rosa : “desce daí menino enfuzado!”;

De passar na porta da casa da aula de datilografia, ouvindo “remingtons” e “olivettis” sofrerem nos dedos dos aprendizes até alcançarem frêmitos sons de metralhadoras , a tarde inteira .

Do som do apito da fábrica tocando nas horas certas para ferir ouvidos de incertas amadas, fazendo nos virar o próprio e grande Noel.

Essas coisas, e outras mil, estão faltando. E a minoria, nunca silenciosa, sabe.



Abraços a todos, principalmente para o amigo Maroto, colega de carteira da sala do Irmão Geraldo Damasceno e de recentes trilhas gonçalinas. E, para “eu fiz um A, eu fiz um Ene...”, sempre ao lado, também. Mais que justa a homenagem.

Flavio Pinto

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Mensagem N°16203
De: Flavio Pinto Data: Quinta 31/8/2006 12:01:11
Cidade: Belo Horizonte-MG

TROMBONE


Somos agora , oficialmente, a grande minoria da cidade.

Porém, nunca silenciosa.

Somos grandes - e orgulhosamente - trinta e nove por cento contra pequenos sessenta e um de uma maioria pseudoconsolidada pelos números. Que não mentem (não?) !

Taí , de papel passado, no jornal e no ar, ciberneticamente para todo o mundo e espaço sideral. Até um planeta, em sinal de protesto, pediu as contas e foi embora do céu. De vergonha.

(Quem sabe chega até perto dos arredores onde Deus mora e Ele dá uma ajudinha pra gente ?)

Ganhou, então, a maioria, a mais interessada, a mais inserida no contexto, a mais progressista e a mais preocupada com o futuro de cidade grande desse sofrido Arraial das Formigas de Antonio Gonçalves Figueira.

Maioria que agora ri da nossa petulância de querer afrontar o poder da riqueza que constrói.

Abaixo o amor, a poesia, a amizade e a boa vontade.

Viva as latas, as coisas elétricas e o falso cheiro de rosas e jasmins dos detergentes e purificadores de ar.

Sim, somos a minoria, aquela pérfida e retrógrada que quer manter fielmente a tradição e o folclore do jeito que o povo fez ; os pés de pequi na terra que nasceram e floresceram , e as águas dos rios em seus leitos, sem que sejam sugadas por ávidos pivôs e fingidos carneiros mecânicos para molhar o pasto de quem já derrubou todas as árvores frondosas e fez a chuva passar adiante, procurando outros lugares.
Amenos e serenos.Poetas e sonhadores.
É o que somos.
E temos orgulho de sê-lo.

Ora viva, ora reviva , viva São Gonçalo, viva.


Abraços a todos

Flavio Pinto

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Mensagem N°16126
De: Flavio Pinto Data: Terça 29/8/2006 15:14:20
Cidade: Belo Horizonte-MG

FILMES NA GARAGEM DA RUA DE TRÁS – Parte II-final (continuação de 14.8.2006)


Continuando, meus caros leitores (porque promessa é dívida) ...

Vários pequenos filmes continuaram sendo feitos, sobre todos os assuntos possíveis.

Até um documentário fizemos. Lindo. Sobre a vida especial dos animais selvagens. No caso, baixando um pouco nossa bola, da especial vida dos animais domésticos, que também tinha seus perigos e mistérios.

Ficamos quase uma semana esperando aparecer um gato de rua, que volta e meia entrava no quintal , aliás, Estúdio da Garagem da Rua de Trás, mais precisamente na cozinha de D.Ruth, mãe de Alberto. Atacava a despensa, roubando até as carnes de sol penduradas nos fundo, perto do fogão de lenha.

Primeiramente, achou-se que era um rato. Mas, certa vez todos nós vimos o felino, cinzento, cheio de listras brancas, sair com uma manta de carne na boca. Foi seu azar.

Apesar do desagradável fato de ser sobre um pobre gato ladrão, a peculiar e divertida utilidade de tê-lo como grande personagem principal, valia o sacrifício. Ficamos uma semana na espreita, na tocaia do bicho.

Alberto, com a câmera preparada, Chico Bóia com a tábua dos fios pelados e as três lâmpadas da iluminação pronto pra ligar na tomada, e eu, segurando Huckeberry, o pastor alemão, com ordens de soltá-lo quando o gato aparecesse.

Até que um dia, de tarde, o danado apareceu, cheio de finesse e sutilezas no andar e entrou na cozinha . Quando ia saindo, com uma coxa de galinha na boca, Alberto gritou: “solta o Huck, solta o Huck...”

Não precisou falar três vezes ( reclamei que ele tinha que ter dito “ação” ,antes. Ele rosnou de volta não-sei-o-quê , eu falei “tá bom””, continuamos a filmar).

O Huck deu um bote, o gato deu um meio pulo, de lado e só o rabo ficou na boca do cachorro. Alberto filmando, nós atrás , até que o coitado - que era só aflitos e esganiçados miados - pulou o muro, ganhando a rua e a liberdade.

Graças. Para ele e para nós, esbaforidos e atabalhoados, atrás dele.

Ainda o vimos, ao longe, correndo , sem olhar nem pro retrovisor, até sumir em direção ao Rio Vieira.Nunca mais fiquei sabendo se ele apareceu de novo.Nem para buscar a ponta do seu rabo, que deixamos dentro de uma caixa de sapatos, junto às relíquias do estúdio.(Será que ainda existe alguma coisa?)

Depois deste documentário desanimamos um pouco, até mesmo por falta de assunto, creio.

Ou talvez esperando chegar o tempo das chuvas. Era um milagre, este tempo de chuva.
A gente ficava mais alegre com tudo acontecendo e florindo.

As mangas Ubás começando a amadurecer e o cheiro de pequi cozido , no ar, rondando, vindo de tudo quanto é lado, nas horas de almoço, em que cada um ia pra sua casa. E lá eu ia perder o arroz com pequi de D.Luiza ?

Num dia daqueles , de fim de ano, o Diretor chegou mais na turma, todo feliz, dizendo que tínhamos uma nova produção. Quase gritava, eufórico :

- Um épico...Grandioso...e vai ter de tudo. Piratas, índios cowboys, gangsters, tudo, tudo, tudo!
E de final diferente. Todo mundo morre, não sobra ninguém. Chega dessa moral burguesa que só os maus morrem. Todo mundo morre, até os bons. E meu filme, vai ser assim, como na vida.

Nós nos entreolhamos, preocupados e ele arrematou :

- É...mais no final...aparece Nossa Senhora e dá um beijo em todo mundo que foi bom.

E sentenciava, olhando para cima : E só os bons voltarão”.

Foi quando nós entendemos que aquele filme ia demorar demais. Até hoje .


Abraços a todos, especialmente à querida e talentosa Ruth Tupinambá Graça, pelo seus noventa anos de grande sabedoria, que nos viu de perto toda uma vida, e ao longe , com aquele seu sorriso de irmandade com D.Luíza, sempre nos protegendo, junto a Alberto, Márcia, Norma, Ester, Armeninho e Nara. Saudades do Tio Armênio.

Flavio Pinto

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Mensagem N°16041
De: Saulo Data: Sábado 26/8/2006 10:33:17
Cidade: BH

Sobre os que acham que eleição absolve alguém de crimes e deslizes, o que virou moda.

Nada mais enganoso. Para ficar em 2 exemplos clássicos: Jesus Cristo foi condenado pela esmagadora maioria, a multidão; Hitler nasceu do voto, no caso, o voto da também esmagadora maioria.
(O ex-prefeito Jaito dizia que o carnamontes no fundo da Sta. Casa, agravando as dores dos doentes, era legítimo e correto, porque tinha a aprovação da maioria...)

Dom Marcos Barbosa, monge e poeta, resumiu: o número de opiniões numa mesma direção não constrói uma só verdade.

Humberto de Campos, maior cronista do Brasil, ia na mesma direção: a ditadura do número nada conduz diante da verdade moral.

Emanuel Kant, o filósofo que cito de memória, arrematou: "Duas coisas me enchem o ânimo de admiração e respeito: o céu estrelado acima de mim e a lei moral que está em mim. ."

Portanto, amigos, não se deixem impressionar quando a maioria (como na enquete aqui), contra toda evidência moral, se inclina pelo equívoco, pois é longo e árduo o caminho para Deus, para a Verdade.

Entres estes, estão os que querem o progresso a qualquer preço, empunhando o pau de fósforo, o machado e a marreta, quando não a foice, para destruírem os valores que encontram pelo caminho e não sabem o quê é.

Se deixarem, queimam o Coliseu, Ouro Preto, Diamantina, como queimaram a Biblioteca da Alexandria.

(Desculpem: não queria fazer comentário, apenas dizer de raspão que dói muito, ainda e sempre, a destruição do Colégio Diocesano e da avenida coronel Prates). O que destruirão agora ???

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Mensagem N°15586
De: Flavio Pinto Data: Segunda 14/8/2006 18:35:00
Cidade: Belo Horizonte-MG

FILMES NA GARAGEM DA RUA DE TRÁS ( Parte I )

A garagem vazia e a inesquecível caminhonete “International-Harvester”, ano 47, na fazenda ou na loja perto da Praça de Esportes, felicidade geral dos meninos da Rua de Trás.

Era a conta para que ocupássemos o nosso estúdio cinematográfico.

Cinema e teatro ao alcance de todos. Mais uns poucos metros de quintal ao lado, com destaque para um glorioso pé de manga Ubá, ou Coco como queiram ( só sei que era a manga mais gostosa do mundo), nós tínhamos tudo .

A bem da verdade, o “nós” aí colocado vai com um certo exagero : éramos apenas co-participantes, talvez sócios minoritários sem direito a voto, diga-se, meros entusiasmados atores, tanto bandidos como mocinhos, produtores e continuístas ocasionais , pois quem mandava mesmo era o nosso amigo Alberto, o grande diretor do estúdio da garagem da Rua de Trás .

Graça no nome e méritos , já os tinha todos, para dar conta de tão bem lidar com a sétima arte. E assim seguiu sempre na vida : sempre caçador e vencedor na própria trilha que escolheu, deixando o dia da caça para quando quis.

Senão bastasse isso, o maravilhoso quintal e garagem, a incrível câmera 8 milímetros alemã (não lembro a marca) , os cenários, as fantasias e mais do que tudo, as idéias (e que idéias !), todas eram dele .

Quando chegávamos para as filmagens, até os diálogos já estavam prontos. Apenas um breve ensaio e começava-se logo o filme.

Luz, câmera , ação.

Sentado na cadeira de lona - com seu nome escrito atrás com giz - ou com a câmera na mão, sério e concentrado, dava as ordens.
Em clássico estilo ligeiramente italiano, mais pra Vitório De Sica e Roberto Rosselini, embora no neo-realismo do nosso jeito, ou melhor, do jeito dele.

A meninada da vizinhança podia participar como extras e fazia-se fila no início das filmagens.Era uma festa . Grátis, ou melhor, um pagamento simbólico, qualquer manga que caísse do pé era de propriedade dos extras e artistas, desde que Huckleberry ( mais conhecido como Huck), o pastor alemão da casa, não a pegasse primeiro.

A claquete ( feita pelo carpinteiro da fazenda, o mesmo que fazia e consertava os carroções de boi) fechava, sem dó : Cena 3.

A partir dessa hora vivíamos um verdadeiro pandemônio. Chico Bóia na iluminação ( três lâmpada pregadas num caibro de madeira, ligadas num fio de cinco metros, escalpelado pelos dentes do cachorro, Huck, não podia nem passar perto de poça d’água que dava choque).

A Cena 3 : Claude Bello, deitado , agonizando , após levar um tiro num duelo do século dezenove, segurava o riso.

O barulho do tiro vinha de um traque dentro de panela velha de ferro fundido, colocado por Zé Chitimite. Só que ele tinha (pura sacanagem) acendido uns dez de uma vez só e jogado tudo dentro da panela.

A cena precisou ser refeita .

Alberto aos berros: “Ele morreu de um tiro só, pô, não foi de metralhadora não !

Alguém ao lado, curioso, pinicava : “Mas, Diretor, o filme não é mudo? Tanto faz, então, o número de tiros”.

E Alberto parava tudo, olhava firmemente nos olhos do interlocutor (que à esta hora já devia estar arrependido de ter falado alguma coisa) e dizia (pensando na posteridade , claro) : “ A boa intenção só vale se tiver um fundo de verdade”.

Todo mundo batia palmas para a genialidade do comandante e tudo voltava à normalidade.

Aí , começava-se tudo de novo.E toda a semana, tinha um filme diferente . Nós naquela mão de obra.

(Aguardem o próximo capítulo. Soon. Neste mesmo espaço)


Abraços a todos.


Flavio Pinto

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Mensagem N°13929
De: Waldyr Senna Data: Quarta 14/6/2006 12:56:19
Cidade: Montes Claros

Roubalheira institucionalizada

Waldyr Senna Batista

Saíram na imprensa, há dias, sem qualquer destaque, números alarmantes que revelam a extensão da roubalheira que se entranhou na área da administração pública municipal. Quem os divulgou foi a Controladoria geral da União ( CGU ), mostrando que R$ 66 bilhões são malbaratados, todos os anos, nos 5.556 municípios brasileiros. Essa quantia equivale a mais de cem vezes a verba destinada pelo Ministério da Justiça para a segurança pública, que é de R$ 590,8 milhões no orçamento deste ano.
Para chegar a esse resultado, a CGU utilizou o processo de amostragem, tomando por base os R$ 100 bilhões que o governo transfere para as prefeituras, das quais mais de mil foram fiscalizadas (20% do total). Dois terços desses recursos, segundo o relatório, apresentam irregularidades graves, quando utilizados pelos gestores municipais.
Entre os problemas graves mais comumente constatados, a Controladoria alinha: obras inacabadas ou paralisadas, apesar de pagas; uso de notas fiscais frias e documentos falsos; superfaturamento de preços, falta de merenda escolar e de medicamentos; gastos sem licitação; não comprovação de aplicação de recursos e favorecimento de empresas.
“Descalabro total”, foi como o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Roberto Busato, classificou o fato de que verbas repassadas para os municípios “sumam nos ralos da improbidade administrativa ou nos esgotos da corrupção”. Ele acha que essa constatação merece o repúdio da sociedade brasileira e devia provocar pronta resposta do governo. Isso acontece, disse ele, enquanto o país tem carência de todo tipo na saúde, na educação, nos transportes e em outras áreas de serviços essenciais, que são cada vez mais precários.
Na mesma linha pronunciou-se o presidente-eleito da Associação dos juízes federais ( Ajufe), Walter Nunes, reivindicando urgentes e eficazes providências para evitar que as verbas continuem sendo desviadas. Ele defende o ponto de vista de que a melhor solução é a adoção de medidas preventivas e não procurar saídas depois de consumado o prejuízo.
O diagnóstico é alarmante, mas não chega a surpreender. Corresponde ao que se sabe e se vê. Mas não fica claro o motivo pelo qual a CGU se deu o trabalho de fazer o levantamento, sem anunciar disposição de ir às últimas conseqüências na punição dos culpados. Se é apenas para constatar o óbvio e deixar tudo como sempre foi, não há necessidade de relatórios. Não seria necessária nem mesmo a CGU.
Por outro lado, é de se perguntar se o governo que aí está, do qual a CGU é parte integrante, teria credibilidade bastante para exigir de prefeituras conduta moralizadora que não tem sido usual em áreas importantes da administração central, em cuja estrutura foi identificada a ação de organização criminosa, responsável pela ação de mensaleiros e sanguessugas. Se na esfera superior a roubalheira mostra-se institucionalizada, não se pode esperar prática diferente na base da pirâmide.
Diante da desfaçatez dos ladrões – que às vezes até são levados às prisões, mas delas escapam por artifícios judiciais - , é de estarrecer que esteja tramitando no Congresso nacional, em fase final de aprovação, projeto de emenda constitucional que eleva em 1% a participação dos municípios nos tributos federais. Como se fosse pouco o que se rouba, em vez de adotarem medidas para conter o roubo, estão é tramando formas de ampliar o butim.

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Mensagem N°13909
De: Flavio Pinto Data: Terça 13/6/2006 09:45:33
Cidade: Belo Horizonte-MG

A ERA DO RÁDIO


No tempo do rádio, as emoções da Copa do Mundo eram outras, bem diferentes das proporcionadas pela televisão. Quem viveu (e ouviu) , dirá.

Não me arriscaria a dizer que melhores. Nem iguais. Simplesmente, outras.

Talvez a grande vantagem (ou diferença) era que, pelo rádio, tudo que rolava dentro dos mais longínquos gramados nacionais, se filtrava na imaginação de cada um, por este interior afora de um imenso Brasil, acompanhando seu jeito e maneira de ser e transcendia todos os limites e fronteiras da Terra ou espaço infinito , onde todos os planetas e estrelas tornavam-se palcos naturais da grande arte brasileira de bem saber jogar futebol.

Mais ou menos como se vê nas propagandas da Nike (acho que copiaram nossos sonhos) : a bola indo e voltando, na ligeireza de um pensamento, de um ponto a outro no Universo, levando paz e alegria para todos os povos.

E só o rádio - porque na tv mostram o que querem que se veja - conseguia passar tudo isso, dando asas à imaginação de todo um povo que parecia estar longe dos conhecimentos da Corte. Só parecia, Deus seja louvado. A história depois nos contou.

As jogadas, os gols e os dribles independiam do tamanho da verborréia especializada dos irados locutores que , honra seja feita, se esforçavam ao máximo para nos contar em detalhes a simples realidade. Só que a realidade deles estava bem abaixo do que sonhávamos.

E ali mesmo, na Rua de Trás - velho palco de tudo - após cada jogo, tentávamos, não totalmente em vão, fazer o que nossos ídolos realizavam em campo.

Só valia gol bonito. Pra começar.

Matar nos peitos, com elegância, uma bola cruzada e com o calcanhar dar um chapéu perfeito num adversário, para depois emendar um tremendo de um sem-pulo, estufando as redes e levantando a multidão.

Multidão esta - ali na nossa rua - de não mais que duas funcionárias municipais varrendo-a com devoção, tagarelando sem prestar atenção a nada e , a compor o décor de uma cena antiga, modorrentos carros de boi, um após outro, rangentes e demorando a passar, a bola ciscando debaixo dos animais que teimavam em chutá-las de pata em pata, parecendo não querer devolvê-la.

Ou, se goleiro fosse, como o lendário Tony Bufão (só de vez em quando aparecia no Larguinho , mas lá deixou sua marca de goleiro voador), e fazer uma acrobática ponte, à Pompéia (antigo goleiro do América do Rio, que foi seu grande ídolo), voando , naturalmente, como se fosse um livre passarinho, até o inatingível ângulo contrário e espalmar a bola para escanteio.

Melhor do que isso, sempre nos disse o mesmo Tony, era defender, na ponta dos dedos, um pênalti, no último minuto. Suprema glória, principalmente se aquela linda moça dos seus sonhos estava passando na hora. Aí , valia todo o sacrifício, por que goleiro apaixonado que se preze mergulha no cascalho por qualquer bola rasteira, arregaçando braços, joelhos e cotovelos.

O mesmo acontecia com candidatos a futuros artilheiros que, diária e sistematicamente, enfiavam o mesmo dedão do mesmo pé - sempre machucado e enfaixado - na mesma pedra do meio da rua, para dó e desespero de todas as mães e tias existentes, pacientes santas milagrosas que nunca cansavam de nos curar num dia, para fazermos tudo de novo no outro.

Ao apagar das luzes, que é a hora própria de se ouvir histórias, sempre aparecia alguém contando, de maneira diferente - mas sempre emocionante - a velha saga dos dois irmãos, ambos jogadores de futebol.

Numa cidade longe, bem pra lá do sertão de Goiás, na mesma toada do “Chico Mineiro” : “um dizia : eu nasci pra pegar...e o outro : eu nasci para chutar...”

Novela popular de dramático e inesquecível final, quando o irmão, goleiro, morria com a bola nas mãos, ao encaixar no peito o terrível petardo desferido pelo seu próprio sangue, na cobrança de um pênalti roubado.

Todas as vezes que se contava esta história, tinha sempre um menino que chorava.

E a gente caçoava dele , sem nunca contar que - pelo mesmo trágico pênalti - já tínhamos chorado também....


Abraços a todos.


Flavio Pinto

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Mensagem N°13794
De: Flavio Pinto Data: Quarta 7/6/2006 12:23:57
Cidade: Belo Horizonte-MG

DE MULAS E JOVENS



De vez em quando me dá um desânimo.

Tanta água que já correu nestes rios, tanta poeira solta levantada nas estradas, tanto vento frio que já deu voltas em esquinas que ninguém nunca viu, tanta assombração que só apareceu pra quem quis, tanto nó seco em molhados pingos d’água , tanta pinguela escorregadia...

São tantos os tantos, que não acredito nessa etérea bruma de pobreza de espírito vagando solta nos meus nortes.

Será que os tempos e contratempos vividos foram todos em vão ? Ou foram só danças e contradanças ?

Minha vontade é dar uma parada na primeira curva do caminho e esquecer pra sempre dessa eterna viagem à procura de um simples querer ser feliz.

De birra, talvez só pra dizer : gente, onde fui parar minha mula ?

Aí , entrar num boteco e pedir duas pingas: uma pra mim e outra para um santo padroeiro qualquer . Pode ser até o santo dessa gente que vive toda uma vida sem saber viver.

Para ver se ele ora pro vobis. Sem direito à costelinha.

. Mas , nem tudo está perdido , quando se
vê Lili e Bê, na rima de jovens poetas, dando lições de cidadania : "Jovens
interessados nas "velharias" que contam a nossa própria história e nos dão
um alicerce para construirmos um futuro para várias gerações. ...
Preservação...Futuro... O passado pode ser um elo com a eternidade".

Como diz o Bala: alvenaria.

Aí, me animo de novo e vou procurar minha mula pra seguir viagem.


Abraços a todos.

Flavio Pinto

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Mensagem N°13666
De: Oswaldo Antunes Data: Sábado 3/6/2006 09:50:01
Cidade: Montes Claros/MG

SAUDADE E FUTURO
A choradeira provocada pela demolição do prédio onde funcionou um colégio,
e depois esteve alugado para sede provisória da Prefeitura, é puro
sentimentalismo, respeitável mas injustificável. Vamos refletir sobre o
assunto. As decisões apenas baseadas em um sentimento não são o que se
costuma chamar de melhor caminho. Chega a ser ridículo alguém reclamar
porque uma velha mangueira, que não podia continuar dentro do prédio a ser
construído, foi cortada. Mangueiras, nos quintais de quase todas as casas
das cidade, é o que mais existe em Montes Claros. É basbaquice pura, espanto
por nada, lamentar pelo que pode ser substituído com vantagem e esquecer os
benefícios do progresso. E chega a ser impiedoso sobrepor o corte de uma
mangueira ao sofrimento e morte de tantas crianças por ai. A alta sociedade,
que se diverte e alimenta ilusões, também gosta de banalidades.
A história de uma cidade e sua trajetória urbanística não pode ser avaliada
ao sabor dos sentimentos pessoais. Isso porque o uso das tradições precisa
ter perspectivas que o justifiquem. Até o folclore, a cultura popular, se
normatiza na tradição. Haveria, por exemplo, interesse turístico na
manutenção de um prédio comum, somente porque serviu a um colégio onde
estudaram as pessoas que estão chorando? Qual a possibilidade teria aquela
construção de argamassa, e seu enorme quintal, de servirem à criação de um
espaço cultural, que justificasse o seu tombamento? Estaria a antiga sede do
seminário, que a própria Mitra resolveu vender, ligada à nossa história
arquitetônica, de modo a ajudar a entender a constituição do feio urbanismo
local? Esse urbanismo está resumido em alguns velhos sobrados abandonados e
milhares de casas comuns transformadas em um tipo de comercio de vilarejo
que tomou conta da cidade.
É difícil apontar outro aspecto, fora a saudade gostosa de tempos de
juventude, para justificar a permanência daquele imóvel em detrimento da
construção de um edifício comercial que vai gerar empregos e,
conseqüentemente, ajudar pessoas a viver melhor. Ali não havia imagem ou
forma que justificasse a preservação. Sequer a cidade, considerada como um
todo, tem aspecto colonial ou de outro tipo histórico a ser preservado. E se
o antigo seminário não tinha como justificar seu tombamento, só a saudade de
algumas pessoas não o justificaria, embora justifique as belas crônicas que
foram escritas a propósito. Mas não é com a saudade do passado que se
constrói o futuro.

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Mensagem N°13652
De: Waldyr Senna Data: Sexta 2/6/2006 16:52:42
Cidade: Montes Claros

Todos se locupletam

Waldyr Senna Batista

Talvez seja difícil provar que alguns vereadores de Montes Claros utilizaram notas frias para receber a chamada verba indenizatória de gabinete, conforme denunciado. Mas, diante do quadro de degeneração moral que se vê nos mais altos escalões da política nacional, não se deve arriscar, como se diz popularmente, a colocar a mão no fogo por ninguém. Até prova em contrário, não há como garantir que, aqui embaixo, as coisas sejam diferentes. E a prova está sendo solicitada à Câmara municipal pela Polícia federal.
A apuração da denúncia está na esfera adequada, não sendo, portanto, conveniente transferi-la a Comissão legislativa de investigação (CLI), composta pela Câmara municipal, ainda que essa alternativa seja prevista em lei. Seria conceder aos acusados a prerrogativa de investigar seus próprios atos. Nesses casos, como se tem testemunhado nas inúmeras apurações realizadas na Câmara dos deputados, o corporativismo vem se sobrepondo a provas inquestionáveis de ilícitos, levando à absolvição de refinados pilantras.
Além disso, CLI não dispõe de poder para julgar. Cabe-lhe, tão somente, recomendar ao plenário a condenação ou não de acusados, para só então poder o assunto ser encaminhado ao Ministério público com pedido de instauração de inquérito. Estando a denúncia na área policial, fica mais fácil chegar ao órgão que tem a prerrogativa de atuar de forma objetiva e sem interferências escusas.
O que estarrece nesse episódio, que envolve vereadores e empresas credenciadas pelos Correios ( coincidentemente, os escândalos que envolvem o governo Lula há mais de um ano começaram justamente nos Correios) é a quase nenhuma repercussão que a divulgação da denúncia tem causado na opinião pública local. Fica a impressão de que a disseminação dos atos de corrupção na administração pública eliminou a capacidade de indignação que tinham as pessoas. Tudo se tornou normal e aceitável. Há uma espécie de anestesiamento, que faz com que não se dê a devida atenção aos degradantes episódios de que se tem notícia.
Em tudo na vida vale o exemplo. E, nessa espécie, ele advém de ninguém menos do que o presidente da República, que reagiu de forma evasiva às denúncias que macularam seu governo, alegando que de nada sabia. O mensalão não ficou provado, tem repetido o presidente, e, por isso, não existiu. Ele só não explica como pôde essa ficção ter produzido efeitos tão devastadores no seu governo, ao ponto de provocar a queda dos principais ministros e dos mais poderosos dirigentes do seu partido. Trata-se de fenômeno que não pode sequer ser atribuído a maquinações da oposição, uma vez que o próprio procurador da República nele encontrou fundamento para o oferecimento de denúncia contra quarenta integrantes do que denominou de organização criminosa, que agia em gabinetes instalados no núcleo do poder.
Felizmente, além da Procuradoria, pode-se testemunhar que a Polícia federal também atua. Já prendeu ex-prefeitos e cúmplices deles no Norte de Minas, acusados de malversação com o dinheiro público, e agora quer ver as prestações de contas de vereadores suspeitos.
É de se lamentar, apenas, que esse tipo de ação policial não possa ser entendida como propósito do governo para repressão vigorosa à corrupção endêmica, entranhada em todos os níveis da administração pública do país. A própria conduta recente dos integrantes do governo, que vieram empunhando a bandeira da moralidade, alimenta a descrença do povo, que dá de ombros, resmungando que “não vai dar em nada”, como tem acontecido sempre. E dando razão ao inesquecível Stanislaw Ponte Preta, que há mais de vinte anos ironizou a falta de apego da maioria dos políticos quanto aos princípios éticos: “Ou todos nos locupletamos ou restaure-se a moralidade.”

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Mensagem N°13527
De: Flavio Pinto Data: Terça 30/5/2006 07:50:10
Cidade: Belo Horizonte-MG

AVENIDA , DE DONA VIDINHA E DONA DOCHA



De manhã, bem cedinho , lá vinha o velho vaqueiro (acho que se chamava Luiz) montado na garupa de uma mula tordilhada, dois vasilhames de 20 litros, cheios até a tampa, um em cada lado da bruaca.

Passava à esquerda do Larguinho e parava na Rua de Trás (bem em frente a casa de “Seu” Athaydinho e D.Aldinha) no meio da grande calçada de pedras.

Devagar, com um indefectível cigarrinho de palha apagado na boca, ia atendendo a fila de empregadas, madames, meninos e meninas, cada um , democraticamente, com a sua própria vasilha na mão esperando a vez de ter o puro leite de todos os dias.

Uns pagavam na hora, outros, da conta do fiado, ele anotava numa velha caderneta. De vez em quando não aparecia, a gente tinha que ir buscar na fonte : casa de Dona Docha, a dona da fazenda do leite e da manteiga – era só o que sabíamos, então - no meio da Avenida Coronel Prates.

O percurso era pequeno e também tinha suas compensações, além do gostoso cheiro de café torrado e dos aviões da Panair, no ar.

Por conta do espetáculo do trepidante esvoaçar e invariável lanche dos lindos pombos de Dona Vidinha Pires , grandes personagens daquela hora da manhã, se fartando à larga das sobras de palhas de milho, fubá e café do Moinho Indiano, espalhadas no meio da rua..

Quando, coitados, se tornavam fáceis alvos de implacáveis estilingues e bodoques.

Nunca consegui acertar nenhum – minha pontaria era péssima - mas sempre ouvi falar de muito guisado à custa deles.

Não me recordo se - nesta época da rua de terra - já existiam estas mesmas árvores que agora derrubaram. Acho que foram plantadas quando do calçamento. De paralelepípedo.

Lembro-me dos postes de luz ,de aroeira, baixinhos, com pequenas lâmpadas iluminando as noites com um brilho meio amarelado, um tanto fosco, talvez para não incomodar a visão do céu e as estrelas ou o clarão dos plenilúnios de maio, quando os tocadores, os poetas e os cantores faziam a festa, a cada esquina ou janela de uma linda donzela.

Ou mesmo (quem poderá desdizer ?) , por ordem da inesquecível Dona Vidinha que, além do maravilhoso pombal era também proprietária da luz elétrica da cidade e gostava de ver (e ter) todo aquele movimento passante e cantante em frente sua varanda.

Colega de seus netos (pré-primário de Irmã Salete e primário das Irmãs Eloína, Blanda e Rosângela, no Coleginho,do Imaculada) ocasionalmente era convidado a ir lá, desfrutar – literalmente – de seu maravilhoso pomar que tinha as frutas mais variadas e gostosas daquele mundo.

Desde que , em outras (e várias) vezes sem convite e por debaixo da cerca de arame farpado na divisa do Rio Vieira - tal qual metade da garotada das redondezas - já havia estado naquela maravilha de pomar, eu , sempre, quando entrava pela porta da frente, do jeito normal e civilizado, ficava um tanto ou quase ressabiado.

Sentada na cadeira de balanço no alpendre da velha casa com um jardim na frente, prestando atenção a tudo e todos à sua volta , os netos pediam-lhe a bênção e lá ia eu, atrás, passando de liso.

Ela me olhava por cima dos óculos e dizia sempre a mesma frase. Toda vez.

- Cuidado para não comer jambo verde, Doutor Orlando. Eles dão dor de barriga !

E dava sempre uma grande risada, após me chamar pelo nome do meu tio.

Depois, tudo mudou na velha rua.

Dona Vidinha e Dona Docha - que Deus as tenha - se foram, o leite começou a vir da cooperativa num tonel de alumínio, numa carrocinha puxada por um burro e chamava-se vaquinha, com uma torneira atrás e um mostrador de vidro onde aparecia o líquido já pasteurizado, livre de todas as impurezas. Não precisava nem ferver, diziam. Mas minha mãe fervia.

Logo, implicaram com a velha avenida.

A Igrejinha do Rosário estava na mão errada da rua, o seminário atrapalhava o clero, as árvores envelheceram e os canteiros prejudicavam o tráfego.

Perdeu a graça.



Abraço a todos.

Flavio Pinto

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Mensagem N°13393
De: Web Outros Data: Quinta 25/5/2006 16:45:24
Cidade: Belo Horizonte/MG

Ínvios caminhos

Manoel Hygino dos Santos (Jornal Hoje em Dia, 25/05/2006)

A imprensa tem goelas para as grandes notícias. Difícil, sem embargo, manter as manchetes, o público sempre ávido de novidades, do que lhe sacie o interesse e a fome de informação, em determinados momentos e circunstâncias o mais escandaloso, do mais sórdido.
Os fatos correntes não faltam às páginas, telas e rádios. Depois do pré-caos em que se viu o Brasil transformado pela falta de conservação de suas rodovias, sobreveio a operação tapa-buracos e conseqüentes acusações e denúncias sobre as condições em que se fazia a obra. Era um bom assunto para suceder ao escândalo do mensalão, que perdurava por meses na avalanche de falcatruas. Fatos novos surgiram, enquanto a questão levantada por Roberto Jefferson entrava em banho-maria, por força de normas legais e regimentais. Mas o estado das estradas de rodagem permaneceu no noticiário e na repulsa dos obrigados a deslocar-se no país por terra. No Norte de Minas, a estrada continua péssima, entre Engenheiro Navarro e Joaquim Felício. Segundo o experimentado homem de imprensa Paulo Narciso, aquele trecho é um campo lunar, um deboche absoluto à população produzido em várias esferas de Governo.
O jornalista comenta que, apesar da saudade e dos motivos muitos, ir a Belo Horizonte se tornou difícil como nos anos anteriores a 1970, mas sem o romantismo de então. A passagem aérea se mantém abusiva em preço, e não há concorrência para reduzí-lo. Fica, assim, restrita aos políticos, que não pagam do próprio bolso e estão dispensados dos ínvios caminhos, como resumiria Monzeca, o sagaz e lendário jornalista jamais esquecido. É algo para se pensar e para se agir, enquanto há tempo. Porque, na nossa democracia nominal, as crianças sequer podem brincar na porta de casa ou no pátio das escolas, ameaçados pelo trânsito perigoso ou pelos aliciadores de inocentes para as drogas.
Quanto a rodovias, sabe-se porque preferem muitas autoridades o transporte aéreo. Não por ser mais rápido ou corram menos risco. Desobrigam-se de encontrar manifestações de descontentamento, organizadas por quantos não mais se conformam com as más condições das pistas. Para fugir a críticas, melhor passar ao largo. Como também sofremos o viés de atirar a culpa dos males sobre o passado, Governos tiveram a desastrosa iniciativa de construir rodovias, que não teriam como conservar. Uma falta de perspectiva imperdoável, que repercute nocivamente nos administradores dos tempos seguintes.
Aconteceu o mesmo com as ferrovias, que constituíram durante séculos o sonho das populações interioranas. Construídas com o tributo de gerações, foram desativadas sumariamente, consideradas anti-econômicas. Não previram os antigos essa possibilidade?
Ocorre, agora, com as rodovias, inviabilizadas pela incúria, pela falta de planejamento, pelo desvio de recursos, gerando insatisfação que abrange outras áreas de Governo e influi perniciosamente no amolecimento da sociedade, no desânimo diante dos fatos e na falta de esperança.
Os mais idosos lembram a frase: Estamos indo para o buraco. Agora se tem a referência concreta: o buraco das estradas. Que reaviva o pessimismo de muitos: esta vida é um buraco.
Enfrentando estes caminhos, que já foram estradas modernas, lembramo-nos das antigas estradas com duro sacrifício em recônditas regiões. Terra e cascalho, que produziam poeira e morte. O brasileiro permanece desrespeitado pelo poder público.

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Mensagem N°13232
De: Waldyr Senna Data: Sexta 19/5/2006 15:38:37
Cidade: Montes Claros

O silêncio como resposta

Waldyr Senna Batista

Pessoa da intimidade do prefeito Athos Avelino assegura que ele não pretende responder aos ataques, cada vez mais virulentos, de que tem sido alvo, pelo rádio. Segundo o informante, ele interpreta isso como resquício da campanha eleitoral e reação de inconformismo de político perdedor de três eleições seguidas. Temendo perder mais uma, agora, o que seria a pá de cal em suas pretensões, esse político estaria mirando mais o pleito municipal de 2008.
Mas o amigo do prefeito discorda desse posicionamento. Na sua opinião, a administração tem muito a mostrar, pelo que seria fácil dar resposta à altura, inclusive falando sobre projetos para concretização a médio e longo prazo. O que está faltando, diz ele, é divulgação.
Uma avaliação típica do doutor Pangloss, aquele personagem do célebre Voltaire, para quem tudo transcorre sempre às mil maravilhas. O tipo do otimista incondicional, cujas lentes só permitem divisar imagens positivas. O que não parece ser o caso de grande parte da população, que vê a cidade atravessando momento crítico, em que até a prestação de serviços corriqueiros têm deixado a desejar. Falta de pontualidade na coleta de lixo e morosidade na recuperação das pistas esburacadas, por exemplo.
E se tem faltado divulgação, seria o caso de o prefeito cobrar serviço de sua numerosa equipe do setor (fala-se em mais de vinte pessoas), incluindo um técnico tido como PhD em comunicação, remunerado em bases inusitadas para visitas esporádicas à cidade. Se o trabalho desenvolvido por esse clone paroquial de Duda Mendonça tem sido deficiente, conviria contratar a prata da casa, pois a cidade dispõe de muitas agências qualificadas, que pelo menos não produziriam peça ridícula como aquela referente à cobrança do IPTU; ou então que se procure saber na prefeitura da vizinha Pirapora qual foi o autor da campanha de divulgação por ela veiculada, muitos furos acima em termos de qualidade.
Deve haver inúmeras explicações para a imagem ruim da atual administração junto à população. Na formação do secretariado, foi erro irreparável a entrega, ao PT, dos cargos de maior importância, quando seria conveniente a formação de governo de coalizão, tendo em vista que a eleição desenvolveu-se em ambiente relativamente sereno. Não ter o prefeito se preocupado em ter bancada de sustentação na câmara, foi outra falha, que começa a provocar dor de cabeça, com a derrubada até de vetos apostos a leis inexeqüíveis e inconstitucionais, como já aconteceu. E mesmo a inaptidão de alguns secretários estaria gerando o emperramento da administração, que segue “ciscando” há exatos 16 meses (a terça parte do mandato já transcorreu).
A administração estaria atribuindo importância demasiada a procedimentos como a ida do prefeito às secretarias para despachos, prática de há muito ultrapassada, que só produzia algum efeito quando resultasse em decisões de grande impacto. Não havendo, tudo acontece burocraticamente, com exame de papelório e uso de carimbo. Nessa área, muito mais útil seria eliminar a blindagem imposta para o acesso ao chefe do executivo, a cujo gabinete só se chega após rigorosa triagem a cargo de funcionários, secretária e chefe de gabinete.
Se o prefeito Athos Avelino tiver de fato optado pela tolerância, ignorando os ataques demolidores de inimigos bem municiados, como informa seu amigo, seria recomendável que ao menos uma medida de grande repercussão ele pudesse concretizar, para mostrar à população que a administração existe e funciona. Aquelas promessas requentadas, feitas pelo governador do Estado e pelo presidente da República, não servem, pois podem demorar demais a acontecer. E a reforma da avenida Cel. Prates, em andamento, talvez fosse o caso, dependendo dos saudosistas e ambientalistas que já começarão a se manifestar.

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Mensagem N°13137
De: Flavio Pinto Data: Quarta 17/5/2006 11:36:53
Cidade: Belo Horizonte-MG

DAS GERAÇÕES


A minha geração, isso é a nascida no durante ou pós Segunda Grande Guerra, talvez tenha sido das últimas a usufruir daquela famosa infância tranqüila – tão falada e relatada – de cidade do interior.

Pouco ou nenhum movimento de automóveis. Muita gente tinha até cavalos e charretes para circular pelas ruas – a maioria - sem calçamento.

Assim foi em Montes Claros, como deve ter sido em outras cidades pelo Brasil inteiro. Como eu nasci aqui, graças a Deus, só falo daqui. Quem quiser que fale da sua.

E não quero dizer com tudo isso que a minha infância foi melhor do que qualquer outra, pois quando se é criança, em qualquer tempo ou lugar tudo é mágico e maravilhoso.

Seja em outro século na beirada de um rio sem poluição pescando piaus, com as unhas sujas de cavar o chão à procura de minhocas, ou num cibernético Shopping Center, todo limpinho, de tênis Nike e cabelo explicado, comendo cheeseburger e ficando - de leve - com mil garotas ou jogando games que desafiam qualquer inteligência normal.

Desde que você tenha uma família e haja amor e carinho nela. Se não, fica difícil, e repetimos, em qualquer tempo, era ou lugar..

As mudanças acontecidas no pós-guerra, advindas das invenções desenvolvidas rapidamente para o esforço de guerra, principalmente pelos alemães e copiadas pelos aliados , foram, uma após outra tomando conta do mundo e o que antes parecia impossível, passou a fazer parte do dia a dia de qualquer cidadão.

Onde você, irrequieto garoto do começo dos anos cinqüenta , em plena matinê do Cine São Luiz, assistindo Flash Gordon no Planeta Mongo, via o Dr.Zarkov falar com Dale e o Príncipe Barin, de outro planeta para a Terra - com as imagens aparecendo num visor, simultaneamente, a milhares de quilômetros de distância - poderia imaginar que um dia faríamos igual ? Ou melhor ?

Hoje , com a “webcam”, qualquer criança senta no computador e fala daí do centro da cidade ou do Alto dos Morrinhos para Bangladesh ou Marrakesh, sem miséria e com muita imagem.

Só não fala pro grande George Harrison porque ainda não inventaram essa.

Sem falar da nossa 98 , de onde mando um alô , agora , para todos os montes-clarenses espalhados pelo planeta.

E um abraço.

Flavio Pinto


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Mensagem N°13134
De: SAulo Data: Quarta 17/5/2006 10:55:53
Cidade: BH

Leio que a PM de Montes Claros – o Décimo Batalhão de Infantaria, como era chamado – faz 50 anos, por estes dias.

Fecho os olhos.

“Convosco recomponho, revenho ver” (Guimarães Rosa dita ao meu ouvido):

Tenho 5 anos e o homem que me leva pela mão é meu pai.
São 8 horas da noite e vamos pela rua Quinze, quase escura.

Paramos diante da Loja Imperial, na esquina da praça Dr. Carlos.

Há um rumor diferente na cidade.

Daqui a pouco, o som da charamela despontará na distante esquina e um pelotão de homens, todos de amarelo com cuias na cabeça, passará diante dos meus olhos de menino.

Pai, o que é ?

É o batalhão, meu filho. Chegou o batalhão ! Veio de Belo Horizonte.

O ruído dos pés batendo no chão é este que ouço. Ficou também o dobrado, a música - cinqüentenária, sei agora.

Ouço os passos daquela noite. E a mão do meu pai – diante do céu que não se apaga - está úmida junto da minha mão, querida Montes Claros.

Mas ouço, dolorosamente, o gemido das árvores que tombam na avenida coronel Prates, e das máquinas que as levantam pelo pescoço.

Por favor, chamem o batalhão.


(Enquanto não vem o batalhão, o poeta Agenor Barbosa, o menino e o pai do menino recitam pelo caminho de volta:

“À doçura sem fim do silêncio, que espalma/ as suas asas sobre a noite, eu me avizinho/ de minha terra, que me acena como um ninho/ e, na distância, é sempre linda e sempre calma./
A minha terra vive dentro de minha alma.../Deixem que fale o coração devagarinho.../ Que eu pare um pouco, em meio à sombra do caminho/ e lhe teça, a sorrir, este canto e esta palma/
Ouço de longe a voz do berço que me chama/ Voz serena, de amor, de carinho e piedade/ que é suave como um beijo e arde como uma flama/
Minha terra Natal! Minha velha cidade! Dentro do coração que te pertence, clama a dor do meu exílio e da minha saudade”.)

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Mensagem N°12880
De: Flavio Pinto Data: Terça 9/5/2006 06:01:29
Cidade: Belo Horizonte-MG

RUA DA FÁBRICA, JATOBÁ E ESTRELA...ADEUS, ADEUS !

Mexem e remexem na minha rua da saudade.

Que seja, então, feita a vossa vontade, senhores da razão de qual será o mais certo futuro e das afiadas respostas para tudo e sobre tudo.

Mesmo que elas representem apenas o vazio do simples nada de uma faca sem cabo e sem lâmina.

Que se deixe, então, o dragão de aço jogar ao chão todas as velhas árvores com seu humilde (e único) sonho de grandeza : um muito de diária beleza para moradores sem nenhuma paixão e um pouco de sombra para um apaixonado menino eternamente à espera de sua amada. A mais linda de todas.

Ao vento, suas flores, pétalas e perfume dirão a verdade ou não, a possíveis passantes estelares da hora e do tempo : ali existiu mais que um passado, um iluminado palco de grandes e melhores cenas de gerações.

Mas, nada a temer, se são apenas pedaços de saudade que se vão. E saudade não vota. Apenas volta, a cada curva do caminho.

Se não há escuta, nem mais para as vozes vindas das estrelas, eles, os poetas, quais solitários guerreiros de lança e espada em punho deporão as armas e poderão até, momentaneamente, saírem vencidos na inglória peleja contra a intransigente magnificência perpetrada pelo poder : máquina acima do homem.

Moderna insensatez de gente de pouca crença, rezares e viveres.

Mas, eles, os poetas, sempre voltarão, principalmente os que falam com as estrelas.

Um dia o povo ainda haverá de ouvi-los.

E se manifestará, nesta terra de eterna inconfidência.

Que não seja nunca.

E nem tarde.

Abraços a todos.

Flavio Pinto

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Mensagem N°12847
De: Saulo Data: Domingo 7/5/2006 22:15:13
Cidade: BH

Sobre esta avenida coronel Prates, vou contar. Éramos meninos. Os postes passavam pelo meio da rua, onde hoje ficam as árvores, que eu vi plantar. Um dia, o caminhão esbarrou no poste, na esquina da rua padre Augusto, e fogo saiu comendo a fiação, que era toda encapada. Foi bonito de ver. Pela rua, quase toda tarde, passava a boiada que vinha da malhada dos Santos Reis para o frigorífico Otany, perto de onde hoje fica o prédio da Prefeitura. Fechávamos as portas, correndo. Quem atrasava, permitia que uma outra vaca brava entrasse dentro das casas, com os vaqueiros correndo atrás. Era uma festa. A gente subia nos muros e esperava o peão sair de lá puxando a vaca pelo rabo. Era assim a avenida coronel Prates, ou rua da “fábrica”, em 1960. O prefeito Simeão Ribeiro, que morava na avenida, mandou colocar paralelepípedo e fez o canteiro central. Eram lindas touceiras de uma planta, um lírio, que, depois, muito depois, soube chamar-se Caetés. Nós brincávamos no meio delas, dos caetés. Não havia medo de ladrão, e ficávamos nas ruas até tarde. A luz, a luz era uma mixórdiazinha, mas éramos felizes. Muito felizes. (Como os meninos são, menos agora, quando não podem brincar na porta de suas casas.) Do outro lado, Jandira – ah! Jandira – contava história, e nos ensinava a olhar para o céu, fonte de todo encanto. Foi Jandira quem me ensinou a olhar para o céu, e para o céu olho até hoje, embasbacado, vendo as constelações, as 3 Marias, o Cruzeiro do Sul – toda estrela é minha irmã. Apenas as estrelas não mudam. Sim, de tanto olhar, subíamos para as estrelas. Morávamos lá, junto delas, pois Montes Claros permitia isto, queria isto. Eu menino. Neste tempo, a avenida tinha, completa, apenas a pista que passava ao lado do prédio da prefeitura. A outra era interrompida na igrejinha do Rosário, tão linda ali parada, e onde fazíamos fogueiras. Hoje, triste, leio e penso: o prédio do seminário acabou, vai virar supermercado, hipermercado; o canteiro central, meu Deus!, o que farão com o canteiro central e com as tipuanas ? As vacas que entravam pelas casas, as vacas bravas desapareceram, se foram, e não serão mais arrastadas pelo rabo; o matadouro se foi, as crianças se foram, as meninas internas do Colégio Imaculada também resolveram partir, uma e depois as outras. Por que so eu fiquei ? Acho que está na hora de partir também. As velhas árvores que vi plantar e crescer, minhas amigas, amiguíssimas, confidentes, algumas agora estão sendo levadas pela garra de aço do trator, dependuras na lâmina, e não posso despedir-me delas, como é do meu feitio, de menino antigo, tímido. O que faço? Tenho vontade de pedir para ir junto, de encarapitar-me junto delas e com elas seguir, para onde ?, não sei. Talvez não aceitem. Penso em resistir. Como resistir, se a trincheira que disponho são lírios, touceiras rubras inexistentes de um certo Caetés que viceja agora apenas na rua chamada saudade, que talvez desemboque numa outra, onde a Esperança fez sua morada. Vicejam estes meus caetés apenas no miradouro da memória, e em nenhum outro lugar. Esta noite, que é a última da avenida que vi erguer-se, que me empurrou para ser homem, esta noite verei o que posso fazer por ela, e quem sabe também por mim, nesta circunstância mais indefeso do que ela. Visitarei e consultarei o menino que eu fui. Talvez ele, com os outros, me ensine o que fazer na noite de despedidas. Boa noite, minha avenida. Seguiremos juntos. Iremos no meio de Caetés que por certo rebrotarão; teremos a companhia das estrelas vindas de um de nossas noites de maior esplendor, e Jandira afastará suas doenças, e suas dores (seu pão de dores), e lentamente virá, para contar as histórias que só Jandira sabe contar. Esta avenida não morrerá.

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Mensagem N°12822
De: Waldyr Senna Data: Sexta 5/5/2006 16:45:29
Cidade: Montes Claros

Limite para a gastança

Waldyr Senna Batista

A construção da sede da Câmara municipal deixou de ser sangria desatada. Vai esperar melhores dias. Por enquanto, serão feitas adaptações e reformas na sede atual, com incorporação do auditório anexo, que será transformado em plenário, bem mais amplo do que o atual, passando este a ser usado para serviços administrativos.
Esse conjunto de medidas coincide com o que foi sugerido aqui, neste espaço, desde quando o tema começou a ser enfocado. Representa solução inspirada pelo bom senso, embora a ela tenha chegado a direção do legislativo compelida por decisão do Tribunal de contas do estado (TCE), que acusou erro de cálculo no repasse mensal feito pela prefeitura. Era, certamente, a denominada “economia” de que falava o presidente Ildeu Maia para justificar a temerária construção da nova sede.
Esse assunto tem sido marcado por uma sucessão de equívocos. A começar pela alegação de que a câmara precisa de sede própria, porque ocupa, “de favor”, parte do prédio da prefeitura. Não é verdade: o prédio pertence ao município e foi projetado com espaço apropriado para o legislativo, incluindo o luxo de destinar gabinete individual para cada vereador. Sendo a câmara instituição municipal, o executivo não lhe faz nenhum favor em tê-la funcionando ali. Quanto à dimensão desse espaço, é questão de entendimento entre as partes, como parece estar acontecendo agora. Fica muito mais barato para o contribuinte, que é quem paga a fatura.
Os vereadores precisam conscientizar-se de que as dependências que lhes são destinadas não têm, necessariamente, de crescer na proporção em que se expande a movimentação deles, e sim o contrário: a estrutura do legislativo é que tem de se limitar ao espaço disponível, desde que não se torne desconfortável e inapropriado, o que ainda não é o caso. Até porque, com 21 integrantes até há pouco e agora com 15, deve haver espaço sobrando.
Outra constatação é que a grande movimentação de público no prédio onde se reúnem os vereadores, duas vezes por semana, se dá muito mais em decorrência dos interesses clientelistas deles do que da instituição. Notadamente devido ao exagerado quadro de servidores e de pessoal agregado aos gabinetes. Como são eles próprios que decidem, os vereadores legislam em causa própria, montando equipe de cabos eleitorais com vistas à reeleição. Não é justo que o elevado dispêndio seja espetado na conta do contribuinte. Em vez de ampliar sempre esse contingente, o que o bom senso recomenda é o enxugamento do quadro, com economia para o erário.
Alguns vereadores alegam que precisam de mais espaço para o trabalho que exercem, pois são procurados pela população pobre em busca de ajuda para, por exemplo, pagamento de receitas e contas de água, entre outras solicitações. O argumento não prevalece, pois reflete distorção inaceitável, que infelizmente vigora em todo o país. Até se compreende que essas coisas ocorram, em função da crise nacional e do desemprego que predomina. Mas não é esse o perfil constitucional da representação popular. Se algum vereador escolher esse modelo de atuação, que instale escritório em outro local e utilize recursos próprios, inclusive os subsídios, que são muito elevados.
Diante de tudo isso, o corte imposto pelo TCE foi providencial. Primeiro, porque veio corrigir erro de interpretação das normas que regulam a transferência de recursos para o legislativo ( “até 6%” da receita própria ); e, segundo, porque vai funcionar como obstáculo à gastança, que costuma não ter limite quando se trata de usar recursos públicos.

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Mensagem N°12801
De: Flavio Pinto Data: Quinta 4/5/2006 17:20:23
Cidade: Belo Horizonte  País: Brasil

LALAU, LILI E O LOBO



A gente olha para a foto do Juiz Lalau publicada no Portal da 98 e fica até enternecido com o olhar singelo e a carinha boa dele.

Parece até um Bispo - daqueles bonzinhos de outrora - pronto para falar, santa e solenemente : “Deus te abençoe , meu filho”.

De quando a meninada fazia fila na saída do Palácio pra ganhar santinho.

Estudei minha infância inteira com o livro “Lalau, Lili e o Lobo”.

Nem o Lobo era ruim, pois era o nome do cachorro de estimação da família (aliás, da casa da vovó) que havia fugido da fazenda e eles (Lalau e Lili) passam metade do livro procurando-o.

Aquela linda viagem de Maria-Fumaça para a fazenda, com todos os colegas da classe, olhando a paisagem pela janela do trem. Lembrei-me agora, o coração chegou a doer de saudade.O refrão “passa boi, passa boiada” acompanhando e dando ritmo. Sem saber ou querer, o mais puro Villa-Lobos.

Depois, no campo, o nadar nos rios e cachoeiras, o ver tirar leite nas vacas e cutucar bichos de pé, tudo retratado em simples desenhos e algumas poucas linhas explicativas, levavam-nos a sonhos e viagens sem fim, mexendo com nossa imaginação e fazendo-nos sonhar de olhos abertos em plena luz do dia.

Nem o próprio cinema conseguia tanto.

Inimaginável para os meninos de hoje, mas a pura verdade.
Agora, as lembranças se quebram e se vão , revelando falsas estalactites de sabão numa grande caverna de sujeira que se tornou nosso querido solo pátrio.

Solo pátrio. Era como o chamávamos, no pátio do colégio, de pé, mão no coração, cantando a plenos pulmões : Brasil, um sonho intenso, um raio vívido, de amor e de esperança à terra desce.

Será que o Lalau é o mesmo. Ou fomos nós que mudamos ?

Abraços a todos.

Flavio Pinto

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Mensagem N°12716
De: Waldyr Senna Data: Sexta 28/4/2006 13:52:22
Cidade: MontesClaros

O prefeito preso e os 40 ladrões

Waldyr Senna Batista

A prisão de ex-prefeito de município norte-mineiro, ocorrida há dias, poderia ser tomada como sinal de novos tempos, se outros componentes não estivessem comprometendo o cenário. Mas surpreendeu, no país da impunidade garantida. Os fatos que a motivaram é que não provocaram surpresa, porque a opinião pública brasileira já perdeu a capacidade de se indignar ante a revelação de procedimentos delituosos praticados nessa área da administração pública. O ex-prefeito é acusado de envolvimento em falcatruas que superam os R$ 6 milhões.
Antigo comerciante de Montes Claros, hoje aposentado, relata que, em sua loja, na segunda metade dos anos 1960, era comum prefeitos ou emissários deles pleitearem a emissão de documentos fiscais para acobertar o desvio de dinheiro de suas prefeituras. Havia entrado em vigor a reforma tributária instituída pelo governo Castelo Branco, que propiciou aos municípios recursos que permitiram a revitalização das cidades, e ela só não produziu resultados mais satisfatórios porque a corrupção cuidou de drenar grande parte desse dinheiro para os bolsos dos administradores desonestos. O ex-empresário revela que, dos prefeitos que adquiriam mercadorias em seu estabelecimento, apenas três não lançavam mão do expediente fraudulento das notas frias: o de Bocaiúva, Wandick Dumont; o de Janaúba, Wildemar Maximino ( Vivi); e o de Montes Claros, Antônio Lafetá Rebello.
Esse processo criminoso estava apenas começando, tendo atingido proporções avassaladoras, ao ponto de, em Montes Claros, existirem empresas fantasmas, que não têm estoques e mantêm as portas permanentemente fechadas, pois existem como fachada para a venda de notas fiscais frias a prefeituras da região, para simulação de licitações.
Graças a esses golpes, vários políticos fizeram fortuna, enquanto seus municípios permanecem estagnados. Muitos, após o término dos mandatos, realizaram investimentos aqui, e em outras localidades, em operações típicas de lavagem de dinheiro, em operações que não resistiriam a rastreamento rigoroso da fiscalização com a quebra do sigilo bancário.
A partir dos anos 90 a situação parecia tendente a se modificar, tendo em vista novos dispositivos legais e a atuação de organismos policiais e judiciários. Essa perspectiva moralizadora culminou com a aprovação da Lei de responsabilidade fiscal (LRF), que alimentou a esperança de que, afinal, seria desfechado golpe fatal na corrupção sistêmica. O processo, no entanto, frustrou quem assim pensava devido aos recentes golpes denunciados, envolvendo as figuras mais expressivas do cenário político nacional, no que é considerado o maior escândalo da história da república. O minucioso levantamento executado pelas CPIs, que comprovou a existência do denso lamaçal, foi neutralizado no plenário da Câmara dos deputados, que votou pela impunidade, sob aplausos e ao ritmo de danças grotescas.
Num outro cenário, a nação assistiu ao constrangedor episódio envolvendo o principal ministro do governo petista, Antônio Palloci, da Fazenda, pilhado em mentiras e na criminosa quebra do sigilo bancário do caseiro que testemunhara e denunciara sua conduta antiética e imoral. Tudo isso no curso do governo de vestais, que se instalou exatamente em nome da ética e da moralidade.
Em princípio, houve quem atribuísse tudo ao denuncismo oposicionista de véspera de eleição. Mas nem esse argumento prevaleceu, a partir do resultado de apurações da polícia federal e da devastadora denúncia formulada pelo procurador-geral da república, apontando 40 envolvidos no que ele denominou de “organização criminosa que tinha como objetivo a continuidade do projeto de poder do PT”. Apesar de haver citado o ex-ministro José Dirceu como “dirigente da quadrilha”, o chefe do ministério público deixou de apontar o nome do Ali-babá...
Mesmo diante de cenário de tão ampla podridão, a prisão do ex-prefeito norte-mineiro não deixa de ser emblemática e precisa ser destacada. A Polícia federal, que admite a prisão de mais 80 prefeitos e cúmplices deles, garante que a assepsia será levada adiante. Espera-se apenas que ela agilize seu trabalho, antes que as indefectíveis liminares ponham na rua o ex-prefeito preso.

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Mensagem N°12695
De: Flavio Pinto Data: Quinta 27/4/2006 12:26:10
Cidade: Belo Horizonte-MG

UMA FESTA ATUALÍSSIMA


Era uma festa sem precedentes na velha cidade.

E quem bolou gabava-se até da criatividade do nome, quase nunca - ou pouquíssimo - usado na mídia nacional : Pós-Moderna. Aliás, Baile Pós-Moderno.

Que beleza ! Cabeças coroadas , oficialmente convidadas, com todos os devidos "R.S.P." respondidos, exibiam seus convites à porta, diferenciados apenas pela cor : verde para “Formador de Opinião”, azul para “Politicamente Correto” e vermelho para “Outros” .

Finalmente, após longos séculos de brigas, confusões, guerras civis e quarteladas sem fim, conseguiu-se definir, em apenas 3 itens, todas as classes e castas sociais, até as mais impuras e amaldiçoadas.

O pessoal fazia fila na porta do Grande Local de Eventos ( clube para quê? Coisa do passado!) , recebendo cada um seu crachá, de acordo com a cor do convite apresentado.
Crachá “F.O” para o verde, “P.C” para o azul e “OUT” para o último, aliás a maioria.

Silenciosa ? Talvez.

Cada mesa com suas bandeirinhas e cores afins: a verde sempre dividindo com azul as mesas da frente e a vermelha,embora fosse a maioria, nos fundos e sozinha, como sempre foi. Desde os primórdios.

Os convidados iam se ajeitando de acordo com a sua cor (do crachá, claro, para ser politicamente correto) e logo se notou um grande silêncio.

A orquestra parou de tocar e o dono da festa, ao microfone, lembrou a todos que aquela seria uma festa inovadora, realmente pós-moderna e...

...Somente os formadores de opinião poderiam falar e assim poder, sem interrupções, formar todas as opiniões. E também, os politicamente corretos que poderiam ( ou não) aprovar as cabeças feitas ali na hora.

Foi quando se levantou um conviva , da turma dos “Outros”, com muita humildade e educação e perguntou o que os vermelhos fariam, enquanto se formavam novas opiniões e se analisassem as próprias dentro dos corretos enquadramentos necessários.

- OUT! ...( óhoooooh...um grande sussurro, seguido de silêncio).... - Aliás, meu caríssimo representante dos “Outros” , apenas preste atenção e...(pausa para respirar e mostrar uma cara inteligente, formal e educada) fique apenas calado. Você e seus outros. Aprendam e apreendam o mais moderno do pós e depois (ainda me agradecerão) saiam daqui em paz para suas casas com a sua própria opinião formada. É tudo que queremos.

Salva de palmas. Dos verdes e azuis.

A orquestra voltou a tocar e os “Outros” começaram a dançar. Como sempre.


Ao microfone, o crooner - com um crachá vermelho no peito – soltava a voz :

“Prefiro ser essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”

E lá de cima, Raul Seixas mandava lembranças.


Abraços a todos.

Flavio Pinto

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Mensagem N°12488
De: Flavio Pinto Data: Quinta 20/4/2006 10:25:36
Cidade: Belo Horizonte-MG

FRIO, PAIXÃO E BACALHAU



O frio que anda fazendo aqui em Belo Horizonte não está de brincadeira e faz-nos, dentre outras coisas, buscar alento em névoas e brisas presas no fundo de um baú das saudades perdidas e flutuantes. Parece até enredo de filme B, anos quarenta.

Como sempre, dirão – acertadamente - os caros leitores.

No alto do Anchieta, onde me escondo, congela-se até corações.

Que o diga cá, este pobre meu, já meio paralisado pela visão que tive , outro dia, de uma linda participante daquelas auroras da vida , dos tempos que – infelizmente - não voltam mais, como disse o poeta.

Ela passou, andando na calçada do lado de lá, os cabelos longos, soltos e revoltos, o vento frio a fazendo encolher-se e colocar as mãos nos bolsos do casaco. Cinematograficamente.

Sorte minha que não me viu.

A beleza e o enlevo da hora me tornaram apenas um velho tolo e mudo, sem palavras até para cumprimentos formais.

Continuei minha caminhada, em direção ao Mercado Distrital, de olho num futuro esquentamento – qualquer - para fazer frente à súbita friagem e emoção que quase liquidaram meu alquebrado coração. Se é, doce devaneio, que tal providência material poderia curar males ocultos por loucas e desenfreadas paixões !

Pensando juntar uma costela de vaca com um bocado de aipo, cebola e tomate, e adicionar - no capricho – meu reservado tempero de Montes Claros, comprado da mesma pessoa há anos no Mercado Municipal (desculpem, mas esqueci o nome dela, da vendedora de temperos.Mas não tem problema. Aí estarei, se Deus quiser, em maio e procurarei sanar esta falta), ali na meiúca, entre os vendedores de andu e os açougues, encontrei-me com a famosa cozinheira portuguesa Terezinha Xavier, minha amiga de muitos anos e proprietária da Taberna Balthazar, ali na Serra. Caraça, esquina de Oriente.

Por muitos anos, desde quando era apenas um meio boteco meio mercearia na Estevão Pinto, deliciei-me – junto com a querida turma imortal - com seus maravilhosos petiscos d’além mar, feitos com o maior carinho, que já lhe anteviam um grande sucesso no ramo da gastronomia, tarefa bem difícil de se levar nos magros tempos atuais.

Ao lado, sempre e eternamente, meu grande amigo Aurélio.

Aí, voltando ao Distrital, não sem antes me ensinar a melhor forma de fazer o caldo de costela, Terezinha me convidou para provar um novo lançamento da casa : bacalhau na abóbora, com queijo Minas, servido bem quente, saindo fumaça, acompanhado de um bom vinho patrício como se convêm nestas geladas e apaixonadas noites mineiras.

Logo fui lá, no tal e benedicto bacalhau e...

...Mais as taças várias de um encorpado Periquita, esqueci-me, por indescritíveis momentos, dos ventos frios cortantes e suas misteriosas mulheres assassinas de incautos e frágeis corações, adentrando-me ao paraíso do bem comer e beber, antes terreno imaculado e indevassável de poucos imortais, hoje ao alcance de uma centena de assíduos e novos fregueses , felizes mortais, ora pois.


Abraços a todos


Flavio Pinto


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Mensagem N°12369
De: Saulo Data: Sexta 14/4/2006 18:40:01
Cidade: Belo Horizonte

Oh, vós que buscais a Montes Claros de tempos não tão
distantes!

Vendo este breve, em que se avisa sobre um alarido ímpio na madrugada da Sexta-Feira da Paixão em minha terra, ocorre-me chamar-vos.

Vinde visitar a Semana Santa de Montes Claros, de tempos ainda próximos.

Era toda de luto cerrado.

Já na quarta-feira anterior à sagrada semana, Padre Dudu
conduzia a procissão de archotes. Eu estou nela, menino; sigo a caminhada noturna, lenta, devota, homens de um lado, mulheres do outro.

Revejo o mesmo padre Dudu, pela manhã de Domingo de Ramos, cantando, cantando hosanas! Hosanas!, e nós o seguimos, vivando.

Depois, o padre tão bom, ainda que às vezes repentinamente zangão, o padre Dudu nos envia ao confessionário. Todos.

A Via-Sacra, 3 vezes por semana, repleta de misereres, já está pelo segundo mês de prontidão, toda terça, toda quinta, todo sábado, e não a perdemos.

Cantamos em latim, assim como respondemos a missa em latim, de costas para os fiéis, os olhos apenas para Deus, Nosso Senhor.

A Quinta-feira Santa quando enfim chega, já tem a cidade a seus pés, paralisada e contrita, confessada e comungada.

A Procissão do Encontro sobe as ruas e abre a Sexta da Paixão; dolorida, piedosa, lenta, comovida, atrás dos passos do que vai se encontrar com Sua mãe para dela despedir-se.

Mãe e Filho encontram-se no cruzamento desta vida pequenina, e o punhal exato sobre o coração da mãe comove o menino, a lâmina espetada ali debaixo de negros véus – a mater dolorosa.

“Mulher, eis o seu filho. Filho, eis a sua mãe”, cintila a frase.

(Pelo rádio, lembrai-vos?, pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro, a PRH5, um Ghuiaroni, piedoso, repete por aguardadas horas o martírio e as quedas de Jesus rumo ao Gólgota, atrás dos quais vamos também, deixando lágrimas, arrependimentos e promessas.)

Ás 3 da tarde, três e quinze, Jesus despido agoniza na Cruz, e nós, de joelhos, cantamos, olhos arrebatados para a Cruz:

Eis o lenho da Cruz,
De onde pendeu a salvação do mundo.

Cantamos, penitentes:

Perdão, Deus clemente, perdoai, Senhor.

Cantamos, arrependidos:

Pela Virgem Dolorosa, nossa mãe tão piedosa,
Perdoai-nos, ó Senhor.

Cantamos, exultantes:

Vitória, Tu reinarás.
Ó Cruz, tu nos salvarás. Vitória....

E a matraca, que da madeira retira secos, metálicos e multiplicados lamentos, a matraca vibra o luto e a dor geral. ( Ouvi, ela está dentro de vós).

À noite, ainda nos braços do meu pai, quase compartindo-lhe o aromoso cigarro de palha e o olhar que não se desfaz, vamos à cerimônia do Descendimento.

Verônica canta do balcão da Matriz, pela voz da linda Ieda (ou será outro nome ?, ajudai-me a recordar), exibindo no sudário a Divina Face.

“Perdão, Deus Clemente!”

Cristo, exausto, é retirado da Cruz e o seguimos na Procissão do Enterro.

Toda a cidade vai junto, a passos lentos, sepultar o que não morre.

Vamos todos, lentamente, dobrados sobre nossas culpas, o Réquien da banda da música soluçando em nome geral.

Depois, voltar para casa a desoras, sem nada falar, sem comentários, severamente mudos, pois a dulcíssima Montes Claros, ao contrário da atual (como leio), não ousa erguer a voz na Sexta-Feira da Paixão.

(Não ousa espalhar pela noite lascas perdidas de um rock insolente e atrevido, trêfego e pândego, a pedir autoridade, e, a mais, piedade.)

***



Sabei, agora, que procuro por minha terra, e isto vos confio.

Sabei que dela, da Santa Semana, só me espera a lua cheia. Restou a lua cheia.

A esplêndida lua-cheia sobre os Montes Claros me devolverá a Semana Santa.

Eu a encontrarei, pois a busco, e ela a mim.

Vinde comigo.

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Mensagem N°12232
De: Flavio Pinto Data: Domingo 9/4/2006 13:35:30
Cidade: Belo Horizonte-MG

DE SEMANA SANTA , CARNAVAL, GENTE E DONA FINA


Hoje em dia - e desde muito tempo - as cidades mineiras ficam vazias na Semana Santa.

Com algumas exceções - Diamantina, Ouro Preto, Mariana, São João Del Rei, dentre
outras - que cultuam santa e religiosamente as tradições e sabem da contribuição e importância deste sazonal turismo para a ativação do comércio e mercado hoteleiro/gastronômico da cidade. E, lógico, também espiritual, para os que crêem mais do que os outros, além de ser um motivo para os conterrâneos ausentes naturalmente se encontrarem..

Na Europa, principalmente na Espanha, a época se traduz em disputados e caros pacotes turísticos internacionais, onde visitantes do mundo inteiro aportam às suas tradicionais cidades , apenas para verem procissões e assistirem solenes missas ao som de belíssimas músicas sacras e cantos gregorianos, de fundo.

Em Montes Claros, era assim e melhor ainda, posto que era de graça.

A Praça da Matriz cheia da gente da cidade e de todas as cidades circunvizinhas, o discurso de Padre Dudu no Descendimento da Cruz, a procissão do Enterro ou Senhor Morto, o belíssimo canto pela voz da Maria Beú, a Verônica, a cerimônia de Lava-pés, onde o Bispo beijava os pés de doze escolhidos seminaristas, que tanto podiam ser do Seminário de Padre Pedro ou do de Padre Joaquim e vinham a pé, descendo a rua Doutor Veloso cantando - como bem explicou no Mural, outro dia, o nonagésimo oitaviano Saulo - em vozes afinadas, belíssimas, de quase crianças, com suas sotainas, de querubins, de serafins, especialmente a Ladainha de Nossa Senhora, em puro e legítimo latim, afinadíssimo : "Sancta Maria, ora pro nobis. Sancta Dei Genitrix, ora pro nobis”.

Claro que,no sábado de Aleluia, a meninada alvoroçada e desatinada – leia-se Turma do Larguinho - empalhava e vestia de roupas velhas um maligno Judas, arrastando-o pelas ruas durante horas, até enforcá-lo ou queimá-lo em praça pública, sob aplausos de todos os passantes. Mil e setecentos anos depois, estão descobrindo que o Judas não foi tão maligno assim... E agora , garotos ? Por via das dúvidas, nada de malhá-lo este ano !

Porém, triste realidade dos dias de hoje, chega a Semana Santa, o povo some. Os mais entusiasmados (e abonados) viajam centenas de quilômetros em estradas esburacadas e perigosas para tomar um rápido e quente sol nas costas e uma cara cerveja gelada, em praias repletas. De mineiros e axé-music. De baianos não, por que sábia e preguiçosamente ficam dormindo nos feriados, para dar mais espaço aos visitantes que gastam.

No Carnaval é a mesma coisa. Se v. quiser ouvir som de asas de mosquito batendo é só parar no meio da rua Quinze, ou em qualquer rua do Centro, nos dias dedicados a Momo. Vai escutar até o que não se quer.

Depois, passada a folia, onde as velhas cidades e as praias faturam alto ( do bolso do montes-clarense), ficam,empresários tupiniquins - e afins - caçando confusão e arrumando carnavais fora de época , à guisa de correr atrás do prejuízo, para não fazer mais do que tentar conseguir atazanar os ouvidos e a paciência do povo. Por um mísero punhado de dólares...

Sem nos esquecermos que colocam em risco a segurança da cidade, pois em sendo – na região - um evento único e anunciado, atrai , no vácuo e sombra das pessoas boas e bem intencionadas, uma multidão de espertos malandros, que nem o próprio batalhão de polícia – inteirinho - consegue dar jeito.

Pode parecer uma crônica irada , contra o direito de cada um fazer o que quer ou a se querer ganhar dinheiro, coisa nada fácil na atualidade que vive hoje o país.

Mas é apenas um breve chamado para refletir sobre o quanto se precisa dar mais valor à rica cultura e tradições deste nosso querido norte. Catrumanos que somos.

E – em se falando de gente fina que dá o devido valor à nossa cultura e tradição - para dizer à Dona Fina, Virgílio e Virgínia , da felicidade que senti, de longe, ao saber da recente e maravilhosa apresentação (um amigo que viu e ouviu e me contou) do Grupo de Serestas João Chaves num bar da parte antiga e nobre da cidade, aquela que até hoje continua intacta em nosso coração.

Gostaria de ter estado lá.


Abraços a todos.


Flavio Pinto

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Mensagem N°12114
De: Flavio Pinto Data: Quarta 5/4/2006 09:02:08
Cidade: Belo Horizonte-MG

DE BUARQUE A SHAKESPEARE, SEM MEDO DE SER FELIZ


Não sei se para todo mundo, mas a mim, particularmente, sempre me pareceu que as vacas – durante toda a minha curta e prosaica existência - foram (e continuam, infelizmente) magras. Falta-me, confesso, um dinheirinho sobrando, para umas viagens que não fiz - e gostaria de fazer - e umas pequenas melhorias na vida dos meninos. Mas tudo tem seu tempo, já disse alguém.E a gente vai levando.

Sina danada de pobre feliz, se é que é aceitável, na sociedade dita organizada, esta complexa afirmativa de existir real felicidade na pobreza material.
Por isso, desculpem-me, então, possíveis críticos e apressados analistas de comportamento, pois quero , antes de tudo, que saibam que nada se dirá aqui em favor da pobreza de espírito, esta, sim, sem jeito de se dar jeito, do início ao resto da vida. Vivam e durmam com ela , a quem de direito...E que Deus olhe por vocês.

Só que, pela santa e salomônica sabedoria das compensações divinas, depois que o tempo - como bem disse um dia o grande Chico - vai passando, roda mundo, roda-gigante, rodamoinho, roda pião e rodou num instante nas voltas do coração - a gente começa a ver que, no fundo mesmo, elas, antigamente, eram mais gordas, simples e (porque não dizer ?) belas (ou pelo menos, pareciam) do que supunha esta vã e possivelmente tola filosofia hamletiana que me acomete e lhes repasso.

Certo dia, na velha Montes Claros, no Bar São Benedito, a meninada vibrou, certa vez, com uma grande e inesquecível promoção : os picolés ali seriam vendidos a dois por quinhentos réis . Para o pessoal mais novo não voar demais , mais ou menos, hoje, cinqüenta centavos.

Em todos os bares, Minas Bar, Big Bar, Sibéria e aquele da esquina da Praça Cel.Ribeiro, da mãe de Tony Colorido, continuava o mesmo preço : quinhentão o picolé.

A gente ria - alegria pura - e espalhava a boa nova nos quatro cantos da cidade , fazendo fila na porta do São Benedito, cheio das portas de dois metros de altura, ali na esquina debaixo, na Praça Doutor Carlos, do outro lado do Mercado.

Que maravilha, principalmente pra quem ganhava uma semanada de dois mil réis, que mal dava pro matinê no Cine São Luiz (ou Coronel Ribeiro) e um esperado e sagrado picolé, depois da suada sessão de bang-bang e seriado. Não sei se era Nioka ou a Volta do Sombra.

Se bem que , devo dizer, os picolés de groselha, tanto os redondos quanto os retangulares, não agüentavam uma chupada profunda ou muito forte : logo passavam de um rosa claro inicial para um total branco gelo-água, antes de se chegar mesmo à sua metade.

Mas ninguém reclamava, o calor e a sede eram os mesmos de hoje e chupar um gelinho era bão também....

Abraços a todos.

Flavio Pinto






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Mensagem N°11989
De: Oswaldo Antunes Data: Sexta 31/3/2006 09:35:34
Cidade: Montes Claros

INQUISIÇÃO NO SENADO

Oswaldo Antunes

Não dá para aceitar, sem aderir ao exagero, o procedimento de um senador da
República que ocupou a tribuna várias vezes, colérico, para exigir a saída
de um Ministro. E dois dias depois, quando aquela autoridade deixou o cargo,
o senador disse que havia derrubado o melhor Ministro da Fazenda que o
Brasil já teve. Assim mesmo. O inferno de Palocci foi uma espécie de jogo de
bingo. Povo, decência e honorabilidade parlamentar ficaram em segundo lugar.
Trata-se de ganhar eleição.
Exagero por exagero, digamos que esse tipo de campanha eleitoral era
inusitado: as crises nascidas em uma comissão de inquérito. Primeiro a dos
Correios: depois de 9 meses, 5.000 paginas e milhões de reais, está acabando
como começou: indicia pessoas por crimes eleitorais, enquanto outros
delitos são inventados e praticados nesse campo. Mas a outra, a dos bingos,
é particularmente curiosa: é comandada por senadores irados, entre eles, o
autor da frase referida,e ACM que renunciou ao mandato e à presidência da
casa por falta de lisura. Devia apurar irregularidades nos bingos, os de
verdade. Mas está cantando pedras. Até a pedra 90 já foi cantada. E leva o
jogo para o plenário do Senado marcar na cartela. Logo o Senado, cuja função
constitucional seria a de moderar crises.
Não se tem conhecimento de Inquisição parecida. As CPIs nasceram do clamor
popular contra fatos determinados. São convocadas para finalidade, nunca em
aberto ou para servir a interesses partidários. O jurista Pontes de Miranda
é preciso e exato ao dizer que não se pode abrir CPI para crises in
abstracto". E o que vem sendo feito, sob a alegação de depurar a
moralidade, é fabricar crises, muitas delas abstratas, visando a derrubar
um Presidente que o povo apóia.
Veja-se o caso curioso do caseiro que teve o sigilo bancário violado. O STF
impedira sua oitiva, que caminhava para a violação de outra garantia
constitucional, a da "intimidade, da vida privada, da honra e da imagem de
uma pessoa". Os senadores protestaram, culparam por isso o Presidente da
República e pediram a demissão do Ministro. Esqueceu-se que, tão importante
quanto salvaguardar segredo bancário, é a honra das pessoas.
O palavrório repercutiu na mídia ávida de escândalos, a ponto de um jornal
italiano publicar, em manchete, esse absurdo: "Brasil: sexo e evasivas
abalam o governo Lula". Parece estarem sendo desprezadas as convenções e a
justiça social. Esquecem-se, novamente, as crianças vítimas do trafico de
drogas, de quem o Congresso nem tomou conhecimento. E esse assunto sim,
devia merecer comissão de inquérito, se fosse possível, permanente. Porque
a CPI do Tráfico de Drogas acabou tão rapidamente que parecia estar com
medo. Nem deixou vestígios de punição, a não ser Fernandinho Beira Mar,
condenado a voar para conhecer prisões em diversos Estados.
Enquanto isso, a CPI dos bingos vai fazendo a função de tontear cabeças e
viciar a opinião pública. Põe à mostra velhos vícios e o preconceito de uma
parte da elite que, em dois partidos, domina a Inquisição pré-eleitoral.
Para atingir a popularidade de provável candidato à reeleição, vai
derrubando tudo ao redor para que a esperança prometida não volte a influir
nas urnas.

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Mensagem N°11909
De: Flavio Pinto Data: Terça 28/3/2006 12:39:37
Cidade: Belo Horizonte-MG

UM CARRO DE BOI E UMA AVENTURA


No rádio de cabeceira, madrugada de sábado para domingo, Tonico e Tinoco me acordando.

“...Meu véio carro de boi, a sua cantiga amarga
No peso bruto da carga, o seu cocão ringidor
Meu véio carro de boi, quantas coisa ocê retrata
A estrada a a verde mata,e o tempo do meu amor...”

Como um fulminante raio em noite de trovoada, bateu uma saudade doida.

Eu me vi em pé na rua Joaquim Nabuco esquina de Lafetá, menino de calça curta, com meu querido amigo Claude Bello, escutando ao longe o rangido do eixo das rodas, untado ininterruptamente de óleo de mamona, para justamente aumentar o ranger. Até fazer chorar. Nós e as rodas.

Nossos corações disparados de aflição. Esperar carro de boi não era fácil, não !

Avistamos primeiro o sorridente guia, Toinho, à frente dos oito bois do lindo carro de seu pai, Seu Menê, todo alegre e acenando para saltarmos logo na traseira, ainda vazia, indo buscar cana para o Engenho do Pequi.

E rangendo, chorando, rangendo, ele ia, devagar , sempre devagar...

Cel.Prates, passando na porta do Café Indiano ( sinto até hoje aquele cheiro de café torrado), Diocesano, Colégio Imaculada, Fábrica de Tecidos Santa Helena, Santa Casa.

Descendo e subindo ladeira, até o Seminário.

Finalmente, chegávamos ao Melo e à cana “caiana” - da melhor qualidade – da fazenda de Nivaldo Maciel. Só esperando ser cortada e embarcada.

Se a gente desse - a sublime - sorte do dono estar lá no dia, ele, com a maior das boas vontades, faria um aboio - de cinco minutos , contados no relógio - saudando os visitantes que chegavam. Até os bois ficavam encantados e diminuíam ainda mais o passo, para melhor ouvir tal maravilha.

Enquanto os camaradas carregavam o carro, dois dos meninos de Nivaldo, Ronaldo e Murilo, sempre hospitaleiros como o pai, levavam-nos para os pés de manga.
Não sem antes nos deliciarmos com um sem número de roletes de cana, cortados na hora.
Depois, vinham as mangas-rosas, bitelas. A barriga chegava a estufar.

E a volta. O carro cheio de cana, bem amarrada e segura e coberta com couros de boi, aboletávamo-nos em cima, sentindo-nos como verdadeiros aventureiros em caçadas de tigres nas florestas de Bengala.

Pingos de chuva, a gente tirava a camisa e punha debaixo do couro curtido, a chuva aumentava e mais a gente gostava.

Mais um par de horas, o Engenho do Pequi, meu tio Joanir Maurício fazendo festas à nossa chegada e estranhando a gente recusar o canecão de garapa que ele mesmo pegou na bica do engenho.

Depois , sorrindo, ouvindo Seu Menê contar da quantidade de manga-rosa que tínhamos comido...


Abraço a todos.


Flavio Pinto





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