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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 27 de setembro de 2024

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Jornalismo exercido pela própria população

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Mensagem N°13527
De: Flavio Pinto Data: Terça 30/5/2006 07:50:10
Cidade: Belo Horizonte-MG

AVENIDA , DE DONA VIDINHA E DONA DOCHA



De manhã, bem cedinho , lá vinha o velho vaqueiro (acho que se chamava Luiz) montado na garupa de uma mula tordilhada, dois vasilhames de 20 litros, cheios até a tampa, um em cada lado da bruaca.

Passava à esquerda do Larguinho e parava na Rua de Trás (bem em frente a casa de “Seu” Athaydinho e D.Aldinha) no meio da grande calçada de pedras.

Devagar, com um indefectível cigarrinho de palha apagado na boca, ia atendendo a fila de empregadas, madames, meninos e meninas, cada um , democraticamente, com a sua própria vasilha na mão esperando a vez de ter o puro leite de todos os dias.

Uns pagavam na hora, outros, da conta do fiado, ele anotava numa velha caderneta. De vez em quando não aparecia, a gente tinha que ir buscar na fonte : casa de Dona Docha, a dona da fazenda do leite e da manteiga – era só o que sabíamos, então - no meio da Avenida Coronel Prates.

O percurso era pequeno e também tinha suas compensações, além do gostoso cheiro de café torrado e dos aviões da Panair, no ar.

Por conta do espetáculo do trepidante esvoaçar e invariável lanche dos lindos pombos de Dona Vidinha Pires , grandes personagens daquela hora da manhã, se fartando à larga das sobras de palhas de milho, fubá e café do Moinho Indiano, espalhadas no meio da rua..

Quando, coitados, se tornavam fáceis alvos de implacáveis estilingues e bodoques.

Nunca consegui acertar nenhum – minha pontaria era péssima - mas sempre ouvi falar de muito guisado à custa deles.

Não me recordo se - nesta época da rua de terra - já existiam estas mesmas árvores que agora derrubaram. Acho que foram plantadas quando do calçamento. De paralelepípedo.

Lembro-me dos postes de luz ,de aroeira, baixinhos, com pequenas lâmpadas iluminando as noites com um brilho meio amarelado, um tanto fosco, talvez para não incomodar a visão do céu e as estrelas ou o clarão dos plenilúnios de maio, quando os tocadores, os poetas e os cantores faziam a festa, a cada esquina ou janela de uma linda donzela.

Ou mesmo (quem poderá desdizer ?) , por ordem da inesquecível Dona Vidinha que, além do maravilhoso pombal era também proprietária da luz elétrica da cidade e gostava de ver (e ter) todo aquele movimento passante e cantante em frente sua varanda.

Colega de seus netos (pré-primário de Irmã Salete e primário das Irmãs Eloína, Blanda e Rosângela, no Coleginho,do Imaculada) ocasionalmente era convidado a ir lá, desfrutar – literalmente – de seu maravilhoso pomar que tinha as frutas mais variadas e gostosas daquele mundo.

Desde que , em outras (e várias) vezes sem convite e por debaixo da cerca de arame farpado na divisa do Rio Vieira - tal qual metade da garotada das redondezas - já havia estado naquela maravilha de pomar, eu , sempre, quando entrava pela porta da frente, do jeito normal e civilizado, ficava um tanto ou quase ressabiado.

Sentada na cadeira de balanço no alpendre da velha casa com um jardim na frente, prestando atenção a tudo e todos à sua volta , os netos pediam-lhe a bênção e lá ia eu, atrás, passando de liso.

Ela me olhava por cima dos óculos e dizia sempre a mesma frase. Toda vez.

- Cuidado para não comer jambo verde, Doutor Orlando. Eles dão dor de barriga !

E dava sempre uma grande risada, após me chamar pelo nome do meu tio.

Depois, tudo mudou na velha rua.

Dona Vidinha e Dona Docha - que Deus as tenha - se foram, o leite começou a vir da cooperativa num tonel de alumínio, numa carrocinha puxada por um burro e chamava-se vaquinha, com uma torneira atrás e um mostrador de vidro onde aparecia o líquido já pasteurizado, livre de todas as impurezas. Não precisava nem ferver, diziam. Mas minha mãe fervia.

Logo, implicaram com a velha avenida.

A Igrejinha do Rosário estava na mão errada da rua, o seminário atrapalhava o clero, as árvores envelheceram e os canteiros prejudicavam o tráfego.

Perdeu a graça.



Abraço a todos.

Flavio Pinto

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Mensagem N°13393
De: Web Outros Data: Quinta 25/5/2006 16:45:24
Cidade: Belo Horizonte/MG

Ínvios caminhos

Manoel Hygino dos Santos (Jornal Hoje em Dia, 25/05/2006)

A imprensa tem goelas para as grandes notícias. Difícil, sem embargo, manter as manchetes, o público sempre ávido de novidades, do que lhe sacie o interesse e a fome de informação, em determinados momentos e circunstâncias o mais escandaloso, do mais sórdido.
Os fatos correntes não faltam às páginas, telas e rádios. Depois do pré-caos em que se viu o Brasil transformado pela falta de conservação de suas rodovias, sobreveio a operação tapa-buracos e conseqüentes acusações e denúncias sobre as condições em que se fazia a obra. Era um bom assunto para suceder ao escândalo do mensalão, que perdurava por meses na avalanche de falcatruas. Fatos novos surgiram, enquanto a questão levantada por Roberto Jefferson entrava em banho-maria, por força de normas legais e regimentais. Mas o estado das estradas de rodagem permaneceu no noticiário e na repulsa dos obrigados a deslocar-se no país por terra. No Norte de Minas, a estrada continua péssima, entre Engenheiro Navarro e Joaquim Felício. Segundo o experimentado homem de imprensa Paulo Narciso, aquele trecho é um campo lunar, um deboche absoluto à população produzido em várias esferas de Governo.
O jornalista comenta que, apesar da saudade e dos motivos muitos, ir a Belo Horizonte se tornou difícil como nos anos anteriores a 1970, mas sem o romantismo de então. A passagem aérea se mantém abusiva em preço, e não há concorrência para reduzí-lo. Fica, assim, restrita aos políticos, que não pagam do próprio bolso e estão dispensados dos ínvios caminhos, como resumiria Monzeca, o sagaz e lendário jornalista jamais esquecido. É algo para se pensar e para se agir, enquanto há tempo. Porque, na nossa democracia nominal, as crianças sequer podem brincar na porta de casa ou no pátio das escolas, ameaçados pelo trânsito perigoso ou pelos aliciadores de inocentes para as drogas.
Quanto a rodovias, sabe-se porque preferem muitas autoridades o transporte aéreo. Não por ser mais rápido ou corram menos risco. Desobrigam-se de encontrar manifestações de descontentamento, organizadas por quantos não mais se conformam com as más condições das pistas. Para fugir a críticas, melhor passar ao largo. Como também sofremos o viés de atirar a culpa dos males sobre o passado, Governos tiveram a desastrosa iniciativa de construir rodovias, que não teriam como conservar. Uma falta de perspectiva imperdoável, que repercute nocivamente nos administradores dos tempos seguintes.
Aconteceu o mesmo com as ferrovias, que constituíram durante séculos o sonho das populações interioranas. Construídas com o tributo de gerações, foram desativadas sumariamente, consideradas anti-econômicas. Não previram os antigos essa possibilidade?
Ocorre, agora, com as rodovias, inviabilizadas pela incúria, pela falta de planejamento, pelo desvio de recursos, gerando insatisfação que abrange outras áreas de Governo e influi perniciosamente no amolecimento da sociedade, no desânimo diante dos fatos e na falta de esperança.
Os mais idosos lembram a frase: Estamos indo para o buraco. Agora se tem a referência concreta: o buraco das estradas. Que reaviva o pessimismo de muitos: esta vida é um buraco.
Enfrentando estes caminhos, que já foram estradas modernas, lembramo-nos das antigas estradas com duro sacrifício em recônditas regiões. Terra e cascalho, que produziam poeira e morte. O brasileiro permanece desrespeitado pelo poder público.

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Mensagem N°13232
De: Waldyr Senna Data: Sexta 19/5/2006 15:38:37
Cidade: Montes Claros

O silêncio como resposta

Waldyr Senna Batista

Pessoa da intimidade do prefeito Athos Avelino assegura que ele não pretende responder aos ataques, cada vez mais virulentos, de que tem sido alvo, pelo rádio. Segundo o informante, ele interpreta isso como resquício da campanha eleitoral e reação de inconformismo de político perdedor de três eleições seguidas. Temendo perder mais uma, agora, o que seria a pá de cal em suas pretensões, esse político estaria mirando mais o pleito municipal de 2008.
Mas o amigo do prefeito discorda desse posicionamento. Na sua opinião, a administração tem muito a mostrar, pelo que seria fácil dar resposta à altura, inclusive falando sobre projetos para concretização a médio e longo prazo. O que está faltando, diz ele, é divulgação.
Uma avaliação típica do doutor Pangloss, aquele personagem do célebre Voltaire, para quem tudo transcorre sempre às mil maravilhas. O tipo do otimista incondicional, cujas lentes só permitem divisar imagens positivas. O que não parece ser o caso de grande parte da população, que vê a cidade atravessando momento crítico, em que até a prestação de serviços corriqueiros têm deixado a desejar. Falta de pontualidade na coleta de lixo e morosidade na recuperação das pistas esburacadas, por exemplo.
E se tem faltado divulgação, seria o caso de o prefeito cobrar serviço de sua numerosa equipe do setor (fala-se em mais de vinte pessoas), incluindo um técnico tido como PhD em comunicação, remunerado em bases inusitadas para visitas esporádicas à cidade. Se o trabalho desenvolvido por esse clone paroquial de Duda Mendonça tem sido deficiente, conviria contratar a prata da casa, pois a cidade dispõe de muitas agências qualificadas, que pelo menos não produziriam peça ridícula como aquela referente à cobrança do IPTU; ou então que se procure saber na prefeitura da vizinha Pirapora qual foi o autor da campanha de divulgação por ela veiculada, muitos furos acima em termos de qualidade.
Deve haver inúmeras explicações para a imagem ruim da atual administração junto à população. Na formação do secretariado, foi erro irreparável a entrega, ao PT, dos cargos de maior importância, quando seria conveniente a formação de governo de coalizão, tendo em vista que a eleição desenvolveu-se em ambiente relativamente sereno. Não ter o prefeito se preocupado em ter bancada de sustentação na câmara, foi outra falha, que começa a provocar dor de cabeça, com a derrubada até de vetos apostos a leis inexeqüíveis e inconstitucionais, como já aconteceu. E mesmo a inaptidão de alguns secretários estaria gerando o emperramento da administração, que segue “ciscando” há exatos 16 meses (a terça parte do mandato já transcorreu).
A administração estaria atribuindo importância demasiada a procedimentos como a ida do prefeito às secretarias para despachos, prática de há muito ultrapassada, que só produzia algum efeito quando resultasse em decisões de grande impacto. Não havendo, tudo acontece burocraticamente, com exame de papelório e uso de carimbo. Nessa área, muito mais útil seria eliminar a blindagem imposta para o acesso ao chefe do executivo, a cujo gabinete só se chega após rigorosa triagem a cargo de funcionários, secretária e chefe de gabinete.
Se o prefeito Athos Avelino tiver de fato optado pela tolerância, ignorando os ataques demolidores de inimigos bem municiados, como informa seu amigo, seria recomendável que ao menos uma medida de grande repercussão ele pudesse concretizar, para mostrar à população que a administração existe e funciona. Aquelas promessas requentadas, feitas pelo governador do Estado e pelo presidente da República, não servem, pois podem demorar demais a acontecer. E a reforma da avenida Cel. Prates, em andamento, talvez fosse o caso, dependendo dos saudosistas e ambientalistas que já começarão a se manifestar.

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Mensagem N°13137
De: Flavio Pinto Data: Quarta 17/5/2006 11:36:53
Cidade: Belo Horizonte-MG

DAS GERAÇÕES


A minha geração, isso é a nascida no durante ou pós Segunda Grande Guerra, talvez tenha sido das últimas a usufruir daquela famosa infância tranqüila – tão falada e relatada – de cidade do interior.

Pouco ou nenhum movimento de automóveis. Muita gente tinha até cavalos e charretes para circular pelas ruas – a maioria - sem calçamento.

Assim foi em Montes Claros, como deve ter sido em outras cidades pelo Brasil inteiro. Como eu nasci aqui, graças a Deus, só falo daqui. Quem quiser que fale da sua.

E não quero dizer com tudo isso que a minha infância foi melhor do que qualquer outra, pois quando se é criança, em qualquer tempo ou lugar tudo é mágico e maravilhoso.

Seja em outro século na beirada de um rio sem poluição pescando piaus, com as unhas sujas de cavar o chão à procura de minhocas, ou num cibernético Shopping Center, todo limpinho, de tênis Nike e cabelo explicado, comendo cheeseburger e ficando - de leve - com mil garotas ou jogando games que desafiam qualquer inteligência normal.

Desde que você tenha uma família e haja amor e carinho nela. Se não, fica difícil, e repetimos, em qualquer tempo, era ou lugar..

As mudanças acontecidas no pós-guerra, advindas das invenções desenvolvidas rapidamente para o esforço de guerra, principalmente pelos alemães e copiadas pelos aliados , foram, uma após outra tomando conta do mundo e o que antes parecia impossível, passou a fazer parte do dia a dia de qualquer cidadão.

Onde você, irrequieto garoto do começo dos anos cinqüenta , em plena matinê do Cine São Luiz, assistindo Flash Gordon no Planeta Mongo, via o Dr.Zarkov falar com Dale e o Príncipe Barin, de outro planeta para a Terra - com as imagens aparecendo num visor, simultaneamente, a milhares de quilômetros de distância - poderia imaginar que um dia faríamos igual ? Ou melhor ?

Hoje , com a “webcam”, qualquer criança senta no computador e fala daí do centro da cidade ou do Alto dos Morrinhos para Bangladesh ou Marrakesh, sem miséria e com muita imagem.

Só não fala pro grande George Harrison porque ainda não inventaram essa.

Sem falar da nossa 98 , de onde mando um alô , agora , para todos os montes-clarenses espalhados pelo planeta.

E um abraço.

Flavio Pinto


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Mensagem N°13134
De: SAulo Data: Quarta 17/5/2006 10:55:53
Cidade: BH

Leio que a PM de Montes Claros – o Décimo Batalhão de Infantaria, como era chamado – faz 50 anos, por estes dias.

Fecho os olhos.

“Convosco recomponho, revenho ver” (Guimarães Rosa dita ao meu ouvido):

Tenho 5 anos e o homem que me leva pela mão é meu pai.
São 8 horas da noite e vamos pela rua Quinze, quase escura.

Paramos diante da Loja Imperial, na esquina da praça Dr. Carlos.

Há um rumor diferente na cidade.

Daqui a pouco, o som da charamela despontará na distante esquina e um pelotão de homens, todos de amarelo com cuias na cabeça, passará diante dos meus olhos de menino.

Pai, o que é ?

É o batalhão, meu filho. Chegou o batalhão ! Veio de Belo Horizonte.

O ruído dos pés batendo no chão é este que ouço. Ficou também o dobrado, a música - cinqüentenária, sei agora.

Ouço os passos daquela noite. E a mão do meu pai – diante do céu que não se apaga - está úmida junto da minha mão, querida Montes Claros.

Mas ouço, dolorosamente, o gemido das árvores que tombam na avenida coronel Prates, e das máquinas que as levantam pelo pescoço.

Por favor, chamem o batalhão.


(Enquanto não vem o batalhão, o poeta Agenor Barbosa, o menino e o pai do menino recitam pelo caminho de volta:

“À doçura sem fim do silêncio, que espalma/ as suas asas sobre a noite, eu me avizinho/ de minha terra, que me acena como um ninho/ e, na distância, é sempre linda e sempre calma./
A minha terra vive dentro de minha alma.../Deixem que fale o coração devagarinho.../ Que eu pare um pouco, em meio à sombra do caminho/ e lhe teça, a sorrir, este canto e esta palma/
Ouço de longe a voz do berço que me chama/ Voz serena, de amor, de carinho e piedade/ que é suave como um beijo e arde como uma flama/
Minha terra Natal! Minha velha cidade! Dentro do coração que te pertence, clama a dor do meu exílio e da minha saudade”.)

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Mensagem N°12880
De: Flavio Pinto Data: Terça 9/5/2006 06:01:29
Cidade: Belo Horizonte-MG

RUA DA FÁBRICA, JATOBÁ E ESTRELA...ADEUS, ADEUS !

Mexem e remexem na minha rua da saudade.

Que seja, então, feita a vossa vontade, senhores da razão de qual será o mais certo futuro e das afiadas respostas para tudo e sobre tudo.

Mesmo que elas representem apenas o vazio do simples nada de uma faca sem cabo e sem lâmina.

Que se deixe, então, o dragão de aço jogar ao chão todas as velhas árvores com seu humilde (e único) sonho de grandeza : um muito de diária beleza para moradores sem nenhuma paixão e um pouco de sombra para um apaixonado menino eternamente à espera de sua amada. A mais linda de todas.

Ao vento, suas flores, pétalas e perfume dirão a verdade ou não, a possíveis passantes estelares da hora e do tempo : ali existiu mais que um passado, um iluminado palco de grandes e melhores cenas de gerações.

Mas, nada a temer, se são apenas pedaços de saudade que se vão. E saudade não vota. Apenas volta, a cada curva do caminho.

Se não há escuta, nem mais para as vozes vindas das estrelas, eles, os poetas, quais solitários guerreiros de lança e espada em punho deporão as armas e poderão até, momentaneamente, saírem vencidos na inglória peleja contra a intransigente magnificência perpetrada pelo poder : máquina acima do homem.

Moderna insensatez de gente de pouca crença, rezares e viveres.

Mas, eles, os poetas, sempre voltarão, principalmente os que falam com as estrelas.

Um dia o povo ainda haverá de ouvi-los.

E se manifestará, nesta terra de eterna inconfidência.

Que não seja nunca.

E nem tarde.

Abraços a todos.

Flavio Pinto

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Mensagem N°12847
De: Saulo Data: Domingo 7/5/2006 22:15:13
Cidade: BH

Sobre esta avenida coronel Prates, vou contar. Éramos meninos. Os postes passavam pelo meio da rua, onde hoje ficam as árvores, que eu vi plantar. Um dia, o caminhão esbarrou no poste, na esquina da rua padre Augusto, e fogo saiu comendo a fiação, que era toda encapada. Foi bonito de ver. Pela rua, quase toda tarde, passava a boiada que vinha da malhada dos Santos Reis para o frigorífico Otany, perto de onde hoje fica o prédio da Prefeitura. Fechávamos as portas, correndo. Quem atrasava, permitia que uma outra vaca brava entrasse dentro das casas, com os vaqueiros correndo atrás. Era uma festa. A gente subia nos muros e esperava o peão sair de lá puxando a vaca pelo rabo. Era assim a avenida coronel Prates, ou rua da “fábrica”, em 1960. O prefeito Simeão Ribeiro, que morava na avenida, mandou colocar paralelepípedo e fez o canteiro central. Eram lindas touceiras de uma planta, um lírio, que, depois, muito depois, soube chamar-se Caetés. Nós brincávamos no meio delas, dos caetés. Não havia medo de ladrão, e ficávamos nas ruas até tarde. A luz, a luz era uma mixórdiazinha, mas éramos felizes. Muito felizes. (Como os meninos são, menos agora, quando não podem brincar na porta de suas casas.) Do outro lado, Jandira – ah! Jandira – contava história, e nos ensinava a olhar para o céu, fonte de todo encanto. Foi Jandira quem me ensinou a olhar para o céu, e para o céu olho até hoje, embasbacado, vendo as constelações, as 3 Marias, o Cruzeiro do Sul – toda estrela é minha irmã. Apenas as estrelas não mudam. Sim, de tanto olhar, subíamos para as estrelas. Morávamos lá, junto delas, pois Montes Claros permitia isto, queria isto. Eu menino. Neste tempo, a avenida tinha, completa, apenas a pista que passava ao lado do prédio da prefeitura. A outra era interrompida na igrejinha do Rosário, tão linda ali parada, e onde fazíamos fogueiras. Hoje, triste, leio e penso: o prédio do seminário acabou, vai virar supermercado, hipermercado; o canteiro central, meu Deus!, o que farão com o canteiro central e com as tipuanas ? As vacas que entravam pelas casas, as vacas bravas desapareceram, se foram, e não serão mais arrastadas pelo rabo; o matadouro se foi, as crianças se foram, as meninas internas do Colégio Imaculada também resolveram partir, uma e depois as outras. Por que so eu fiquei ? Acho que está na hora de partir também. As velhas árvores que vi plantar e crescer, minhas amigas, amiguíssimas, confidentes, algumas agora estão sendo levadas pela garra de aço do trator, dependuras na lâmina, e não posso despedir-me delas, como é do meu feitio, de menino antigo, tímido. O que faço? Tenho vontade de pedir para ir junto, de encarapitar-me junto delas e com elas seguir, para onde ?, não sei. Talvez não aceitem. Penso em resistir. Como resistir, se a trincheira que disponho são lírios, touceiras rubras inexistentes de um certo Caetés que viceja agora apenas na rua chamada saudade, que talvez desemboque numa outra, onde a Esperança fez sua morada. Vicejam estes meus caetés apenas no miradouro da memória, e em nenhum outro lugar. Esta noite, que é a última da avenida que vi erguer-se, que me empurrou para ser homem, esta noite verei o que posso fazer por ela, e quem sabe também por mim, nesta circunstância mais indefeso do que ela. Visitarei e consultarei o menino que eu fui. Talvez ele, com os outros, me ensine o que fazer na noite de despedidas. Boa noite, minha avenida. Seguiremos juntos. Iremos no meio de Caetés que por certo rebrotarão; teremos a companhia das estrelas vindas de um de nossas noites de maior esplendor, e Jandira afastará suas doenças, e suas dores (seu pão de dores), e lentamente virá, para contar as histórias que só Jandira sabe contar. Esta avenida não morrerá.

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Mensagem N°12822
De: Waldyr Senna Data: Sexta 5/5/2006 16:45:29
Cidade: Montes Claros

Limite para a gastança

Waldyr Senna Batista

A construção da sede da Câmara municipal deixou de ser sangria desatada. Vai esperar melhores dias. Por enquanto, serão feitas adaptações e reformas na sede atual, com incorporação do auditório anexo, que será transformado em plenário, bem mais amplo do que o atual, passando este a ser usado para serviços administrativos.
Esse conjunto de medidas coincide com o que foi sugerido aqui, neste espaço, desde quando o tema começou a ser enfocado. Representa solução inspirada pelo bom senso, embora a ela tenha chegado a direção do legislativo compelida por decisão do Tribunal de contas do estado (TCE), que acusou erro de cálculo no repasse mensal feito pela prefeitura. Era, certamente, a denominada “economia” de que falava o presidente Ildeu Maia para justificar a temerária construção da nova sede.
Esse assunto tem sido marcado por uma sucessão de equívocos. A começar pela alegação de que a câmara precisa de sede própria, porque ocupa, “de favor”, parte do prédio da prefeitura. Não é verdade: o prédio pertence ao município e foi projetado com espaço apropriado para o legislativo, incluindo o luxo de destinar gabinete individual para cada vereador. Sendo a câmara instituição municipal, o executivo não lhe faz nenhum favor em tê-la funcionando ali. Quanto à dimensão desse espaço, é questão de entendimento entre as partes, como parece estar acontecendo agora. Fica muito mais barato para o contribuinte, que é quem paga a fatura.
Os vereadores precisam conscientizar-se de que as dependências que lhes são destinadas não têm, necessariamente, de crescer na proporção em que se expande a movimentação deles, e sim o contrário: a estrutura do legislativo é que tem de se limitar ao espaço disponível, desde que não se torne desconfortável e inapropriado, o que ainda não é o caso. Até porque, com 21 integrantes até há pouco e agora com 15, deve haver espaço sobrando.
Outra constatação é que a grande movimentação de público no prédio onde se reúnem os vereadores, duas vezes por semana, se dá muito mais em decorrência dos interesses clientelistas deles do que da instituição. Notadamente devido ao exagerado quadro de servidores e de pessoal agregado aos gabinetes. Como são eles próprios que decidem, os vereadores legislam em causa própria, montando equipe de cabos eleitorais com vistas à reeleição. Não é justo que o elevado dispêndio seja espetado na conta do contribuinte. Em vez de ampliar sempre esse contingente, o que o bom senso recomenda é o enxugamento do quadro, com economia para o erário.
Alguns vereadores alegam que precisam de mais espaço para o trabalho que exercem, pois são procurados pela população pobre em busca de ajuda para, por exemplo, pagamento de receitas e contas de água, entre outras solicitações. O argumento não prevalece, pois reflete distorção inaceitável, que infelizmente vigora em todo o país. Até se compreende que essas coisas ocorram, em função da crise nacional e do desemprego que predomina. Mas não é esse o perfil constitucional da representação popular. Se algum vereador escolher esse modelo de atuação, que instale escritório em outro local e utilize recursos próprios, inclusive os subsídios, que são muito elevados.
Diante de tudo isso, o corte imposto pelo TCE foi providencial. Primeiro, porque veio corrigir erro de interpretação das normas que regulam a transferência de recursos para o legislativo ( “até 6%” da receita própria ); e, segundo, porque vai funcionar como obstáculo à gastança, que costuma não ter limite quando se trata de usar recursos públicos.

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Mensagem N°12801
De: Flavio Pinto Data: Quinta 4/5/2006 17:20:23
Cidade: Belo Horizonte  País: Brasil

LALAU, LILI E O LOBO



A gente olha para a foto do Juiz Lalau publicada no Portal da 98 e fica até enternecido com o olhar singelo e a carinha boa dele.

Parece até um Bispo - daqueles bonzinhos de outrora - pronto para falar, santa e solenemente : “Deus te abençoe , meu filho”.

De quando a meninada fazia fila na saída do Palácio pra ganhar santinho.

Estudei minha infância inteira com o livro “Lalau, Lili e o Lobo”.

Nem o Lobo era ruim, pois era o nome do cachorro de estimação da família (aliás, da casa da vovó) que havia fugido da fazenda e eles (Lalau e Lili) passam metade do livro procurando-o.

Aquela linda viagem de Maria-Fumaça para a fazenda, com todos os colegas da classe, olhando a paisagem pela janela do trem. Lembrei-me agora, o coração chegou a doer de saudade.O refrão “passa boi, passa boiada” acompanhando e dando ritmo. Sem saber ou querer, o mais puro Villa-Lobos.

Depois, no campo, o nadar nos rios e cachoeiras, o ver tirar leite nas vacas e cutucar bichos de pé, tudo retratado em simples desenhos e algumas poucas linhas explicativas, levavam-nos a sonhos e viagens sem fim, mexendo com nossa imaginação e fazendo-nos sonhar de olhos abertos em plena luz do dia.

Nem o próprio cinema conseguia tanto.

Inimaginável para os meninos de hoje, mas a pura verdade.
Agora, as lembranças se quebram e se vão , revelando falsas estalactites de sabão numa grande caverna de sujeira que se tornou nosso querido solo pátrio.

Solo pátrio. Era como o chamávamos, no pátio do colégio, de pé, mão no coração, cantando a plenos pulmões : Brasil, um sonho intenso, um raio vívido, de amor e de esperança à terra desce.

Será que o Lalau é o mesmo. Ou fomos nós que mudamos ?

Abraços a todos.

Flavio Pinto

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Mensagem N°12716
De: Waldyr Senna Data: Sexta 28/4/2006 13:52:22
Cidade: MontesClaros

O prefeito preso e os 40 ladrões

Waldyr Senna Batista

A prisão de ex-prefeito de município norte-mineiro, ocorrida há dias, poderia ser tomada como sinal de novos tempos, se outros componentes não estivessem comprometendo o cenário. Mas surpreendeu, no país da impunidade garantida. Os fatos que a motivaram é que não provocaram surpresa, porque a opinião pública brasileira já perdeu a capacidade de se indignar ante a revelação de procedimentos delituosos praticados nessa área da administração pública. O ex-prefeito é acusado de envolvimento em falcatruas que superam os R$ 6 milhões.
Antigo comerciante de Montes Claros, hoje aposentado, relata que, em sua loja, na segunda metade dos anos 1960, era comum prefeitos ou emissários deles pleitearem a emissão de documentos fiscais para acobertar o desvio de dinheiro de suas prefeituras. Havia entrado em vigor a reforma tributária instituída pelo governo Castelo Branco, que propiciou aos municípios recursos que permitiram a revitalização das cidades, e ela só não produziu resultados mais satisfatórios porque a corrupção cuidou de drenar grande parte desse dinheiro para os bolsos dos administradores desonestos. O ex-empresário revela que, dos prefeitos que adquiriam mercadorias em seu estabelecimento, apenas três não lançavam mão do expediente fraudulento das notas frias: o de Bocaiúva, Wandick Dumont; o de Janaúba, Wildemar Maximino ( Vivi); e o de Montes Claros, Antônio Lafetá Rebello.
Esse processo criminoso estava apenas começando, tendo atingido proporções avassaladoras, ao ponto de, em Montes Claros, existirem empresas fantasmas, que não têm estoques e mantêm as portas permanentemente fechadas, pois existem como fachada para a venda de notas fiscais frias a prefeituras da região, para simulação de licitações.
Graças a esses golpes, vários políticos fizeram fortuna, enquanto seus municípios permanecem estagnados. Muitos, após o término dos mandatos, realizaram investimentos aqui, e em outras localidades, em operações típicas de lavagem de dinheiro, em operações que não resistiriam a rastreamento rigoroso da fiscalização com a quebra do sigilo bancário.
A partir dos anos 90 a situação parecia tendente a se modificar, tendo em vista novos dispositivos legais e a atuação de organismos policiais e judiciários. Essa perspectiva moralizadora culminou com a aprovação da Lei de responsabilidade fiscal (LRF), que alimentou a esperança de que, afinal, seria desfechado golpe fatal na corrupção sistêmica. O processo, no entanto, frustrou quem assim pensava devido aos recentes golpes denunciados, envolvendo as figuras mais expressivas do cenário político nacional, no que é considerado o maior escândalo da história da república. O minucioso levantamento executado pelas CPIs, que comprovou a existência do denso lamaçal, foi neutralizado no plenário da Câmara dos deputados, que votou pela impunidade, sob aplausos e ao ritmo de danças grotescas.
Num outro cenário, a nação assistiu ao constrangedor episódio envolvendo o principal ministro do governo petista, Antônio Palloci, da Fazenda, pilhado em mentiras e na criminosa quebra do sigilo bancário do caseiro que testemunhara e denunciara sua conduta antiética e imoral. Tudo isso no curso do governo de vestais, que se instalou exatamente em nome da ética e da moralidade.
Em princípio, houve quem atribuísse tudo ao denuncismo oposicionista de véspera de eleição. Mas nem esse argumento prevaleceu, a partir do resultado de apurações da polícia federal e da devastadora denúncia formulada pelo procurador-geral da república, apontando 40 envolvidos no que ele denominou de “organização criminosa que tinha como objetivo a continuidade do projeto de poder do PT”. Apesar de haver citado o ex-ministro José Dirceu como “dirigente da quadrilha”, o chefe do ministério público deixou de apontar o nome do Ali-babá...
Mesmo diante de cenário de tão ampla podridão, a prisão do ex-prefeito norte-mineiro não deixa de ser emblemática e precisa ser destacada. A Polícia federal, que admite a prisão de mais 80 prefeitos e cúmplices deles, garante que a assepsia será levada adiante. Espera-se apenas que ela agilize seu trabalho, antes que as indefectíveis liminares ponham na rua o ex-prefeito preso.

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Mensagem N°12695
De: Flavio Pinto Data: Quinta 27/4/2006 12:26:10
Cidade: Belo Horizonte-MG

UMA FESTA ATUALÍSSIMA


Era uma festa sem precedentes na velha cidade.

E quem bolou gabava-se até da criatividade do nome, quase nunca - ou pouquíssimo - usado na mídia nacional : Pós-Moderna. Aliás, Baile Pós-Moderno.

Que beleza ! Cabeças coroadas , oficialmente convidadas, com todos os devidos "R.S.P." respondidos, exibiam seus convites à porta, diferenciados apenas pela cor : verde para “Formador de Opinião”, azul para “Politicamente Correto” e vermelho para “Outros” .

Finalmente, após longos séculos de brigas, confusões, guerras civis e quarteladas sem fim, conseguiu-se definir, em apenas 3 itens, todas as classes e castas sociais, até as mais impuras e amaldiçoadas.

O pessoal fazia fila na porta do Grande Local de Eventos ( clube para quê? Coisa do passado!) , recebendo cada um seu crachá, de acordo com a cor do convite apresentado.
Crachá “F.O” para o verde, “P.C” para o azul e “OUT” para o último, aliás a maioria.

Silenciosa ? Talvez.

Cada mesa com suas bandeirinhas e cores afins: a verde sempre dividindo com azul as mesas da frente e a vermelha,embora fosse a maioria, nos fundos e sozinha, como sempre foi. Desde os primórdios.

Os convidados iam se ajeitando de acordo com a sua cor (do crachá, claro, para ser politicamente correto) e logo se notou um grande silêncio.

A orquestra parou de tocar e o dono da festa, ao microfone, lembrou a todos que aquela seria uma festa inovadora, realmente pós-moderna e...

...Somente os formadores de opinião poderiam falar e assim poder, sem interrupções, formar todas as opiniões. E também, os politicamente corretos que poderiam ( ou não) aprovar as cabeças feitas ali na hora.

Foi quando se levantou um conviva , da turma dos “Outros”, com muita humildade e educação e perguntou o que os vermelhos fariam, enquanto se formavam novas opiniões e se analisassem as próprias dentro dos corretos enquadramentos necessários.

- OUT! ...( óhoooooh...um grande sussurro, seguido de silêncio).... - Aliás, meu caríssimo representante dos “Outros” , apenas preste atenção e...(pausa para respirar e mostrar uma cara inteligente, formal e educada) fique apenas calado. Você e seus outros. Aprendam e apreendam o mais moderno do pós e depois (ainda me agradecerão) saiam daqui em paz para suas casas com a sua própria opinião formada. É tudo que queremos.

Salva de palmas. Dos verdes e azuis.

A orquestra voltou a tocar e os “Outros” começaram a dançar. Como sempre.


Ao microfone, o crooner - com um crachá vermelho no peito – soltava a voz :

“Prefiro ser essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”

E lá de cima, Raul Seixas mandava lembranças.


Abraços a todos.

Flavio Pinto

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Mensagem N°12488
De: Flavio Pinto Data: Quinta 20/4/2006 10:25:36
Cidade: Belo Horizonte-MG

FRIO, PAIXÃO E BACALHAU



O frio que anda fazendo aqui em Belo Horizonte não está de brincadeira e faz-nos, dentre outras coisas, buscar alento em névoas e brisas presas no fundo de um baú das saudades perdidas e flutuantes. Parece até enredo de filme B, anos quarenta.

Como sempre, dirão – acertadamente - os caros leitores.

No alto do Anchieta, onde me escondo, congela-se até corações.

Que o diga cá, este pobre meu, já meio paralisado pela visão que tive , outro dia, de uma linda participante daquelas auroras da vida , dos tempos que – infelizmente - não voltam mais, como disse o poeta.

Ela passou, andando na calçada do lado de lá, os cabelos longos, soltos e revoltos, o vento frio a fazendo encolher-se e colocar as mãos nos bolsos do casaco. Cinematograficamente.

Sorte minha que não me viu.

A beleza e o enlevo da hora me tornaram apenas um velho tolo e mudo, sem palavras até para cumprimentos formais.

Continuei minha caminhada, em direção ao Mercado Distrital, de olho num futuro esquentamento – qualquer - para fazer frente à súbita friagem e emoção que quase liquidaram meu alquebrado coração. Se é, doce devaneio, que tal providência material poderia curar males ocultos por loucas e desenfreadas paixões !

Pensando juntar uma costela de vaca com um bocado de aipo, cebola e tomate, e adicionar - no capricho – meu reservado tempero de Montes Claros, comprado da mesma pessoa há anos no Mercado Municipal (desculpem, mas esqueci o nome dela, da vendedora de temperos.Mas não tem problema. Aí estarei, se Deus quiser, em maio e procurarei sanar esta falta), ali na meiúca, entre os vendedores de andu e os açougues, encontrei-me com a famosa cozinheira portuguesa Terezinha Xavier, minha amiga de muitos anos e proprietária da Taberna Balthazar, ali na Serra. Caraça, esquina de Oriente.

Por muitos anos, desde quando era apenas um meio boteco meio mercearia na Estevão Pinto, deliciei-me – junto com a querida turma imortal - com seus maravilhosos petiscos d’além mar, feitos com o maior carinho, que já lhe anteviam um grande sucesso no ramo da gastronomia, tarefa bem difícil de se levar nos magros tempos atuais.

Ao lado, sempre e eternamente, meu grande amigo Aurélio.

Aí, voltando ao Distrital, não sem antes me ensinar a melhor forma de fazer o caldo de costela, Terezinha me convidou para provar um novo lançamento da casa : bacalhau na abóbora, com queijo Minas, servido bem quente, saindo fumaça, acompanhado de um bom vinho patrício como se convêm nestas geladas e apaixonadas noites mineiras.

Logo fui lá, no tal e benedicto bacalhau e...

...Mais as taças várias de um encorpado Periquita, esqueci-me, por indescritíveis momentos, dos ventos frios cortantes e suas misteriosas mulheres assassinas de incautos e frágeis corações, adentrando-me ao paraíso do bem comer e beber, antes terreno imaculado e indevassável de poucos imortais, hoje ao alcance de uma centena de assíduos e novos fregueses , felizes mortais, ora pois.


Abraços a todos


Flavio Pinto


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Mensagem N°12369
De: Saulo Data: Sexta 14/4/2006 18:40:01
Cidade: Belo Horizonte

Oh, vós que buscais a Montes Claros de tempos não tão
distantes!

Vendo este breve, em que se avisa sobre um alarido ímpio na madrugada da Sexta-Feira da Paixão em minha terra, ocorre-me chamar-vos.

Vinde visitar a Semana Santa de Montes Claros, de tempos ainda próximos.

Era toda de luto cerrado.

Já na quarta-feira anterior à sagrada semana, Padre Dudu
conduzia a procissão de archotes. Eu estou nela, menino; sigo a caminhada noturna, lenta, devota, homens de um lado, mulheres do outro.

Revejo o mesmo padre Dudu, pela manhã de Domingo de Ramos, cantando, cantando hosanas! Hosanas!, e nós o seguimos, vivando.

Depois, o padre tão bom, ainda que às vezes repentinamente zangão, o padre Dudu nos envia ao confessionário. Todos.

A Via-Sacra, 3 vezes por semana, repleta de misereres, já está pelo segundo mês de prontidão, toda terça, toda quinta, todo sábado, e não a perdemos.

Cantamos em latim, assim como respondemos a missa em latim, de costas para os fiéis, os olhos apenas para Deus, Nosso Senhor.

A Quinta-feira Santa quando enfim chega, já tem a cidade a seus pés, paralisada e contrita, confessada e comungada.

A Procissão do Encontro sobe as ruas e abre a Sexta da Paixão; dolorida, piedosa, lenta, comovida, atrás dos passos do que vai se encontrar com Sua mãe para dela despedir-se.

Mãe e Filho encontram-se no cruzamento desta vida pequenina, e o punhal exato sobre o coração da mãe comove o menino, a lâmina espetada ali debaixo de negros véus – a mater dolorosa.

“Mulher, eis o seu filho. Filho, eis a sua mãe”, cintila a frase.

(Pelo rádio, lembrai-vos?, pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro, a PRH5, um Ghuiaroni, piedoso, repete por aguardadas horas o martírio e as quedas de Jesus rumo ao Gólgota, atrás dos quais vamos também, deixando lágrimas, arrependimentos e promessas.)

Ás 3 da tarde, três e quinze, Jesus despido agoniza na Cruz, e nós, de joelhos, cantamos, olhos arrebatados para a Cruz:

Eis o lenho da Cruz,
De onde pendeu a salvação do mundo.

Cantamos, penitentes:

Perdão, Deus clemente, perdoai, Senhor.

Cantamos, arrependidos:

Pela Virgem Dolorosa, nossa mãe tão piedosa,
Perdoai-nos, ó Senhor.

Cantamos, exultantes:

Vitória, Tu reinarás.
Ó Cruz, tu nos salvarás. Vitória....

E a matraca, que da madeira retira secos, metálicos e multiplicados lamentos, a matraca vibra o luto e a dor geral. ( Ouvi, ela está dentro de vós).

À noite, ainda nos braços do meu pai, quase compartindo-lhe o aromoso cigarro de palha e o olhar que não se desfaz, vamos à cerimônia do Descendimento.

Verônica canta do balcão da Matriz, pela voz da linda Ieda (ou será outro nome ?, ajudai-me a recordar), exibindo no sudário a Divina Face.

“Perdão, Deus Clemente!”

Cristo, exausto, é retirado da Cruz e o seguimos na Procissão do Enterro.

Toda a cidade vai junto, a passos lentos, sepultar o que não morre.

Vamos todos, lentamente, dobrados sobre nossas culpas, o Réquien da banda da música soluçando em nome geral.

Depois, voltar para casa a desoras, sem nada falar, sem comentários, severamente mudos, pois a dulcíssima Montes Claros, ao contrário da atual (como leio), não ousa erguer a voz na Sexta-Feira da Paixão.

(Não ousa espalhar pela noite lascas perdidas de um rock insolente e atrevido, trêfego e pândego, a pedir autoridade, e, a mais, piedade.)

***



Sabei, agora, que procuro por minha terra, e isto vos confio.

Sabei que dela, da Santa Semana, só me espera a lua cheia. Restou a lua cheia.

A esplêndida lua-cheia sobre os Montes Claros me devolverá a Semana Santa.

Eu a encontrarei, pois a busco, e ela a mim.

Vinde comigo.

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Mensagem N°12232
De: Flavio Pinto Data: Domingo 9/4/2006 13:35:30
Cidade: Belo Horizonte-MG

DE SEMANA SANTA , CARNAVAL, GENTE E DONA FINA


Hoje em dia - e desde muito tempo - as cidades mineiras ficam vazias na Semana Santa.

Com algumas exceções - Diamantina, Ouro Preto, Mariana, São João Del Rei, dentre
outras - que cultuam santa e religiosamente as tradições e sabem da contribuição e importância deste sazonal turismo para a ativação do comércio e mercado hoteleiro/gastronômico da cidade. E, lógico, também espiritual, para os que crêem mais do que os outros, além de ser um motivo para os conterrâneos ausentes naturalmente se encontrarem..

Na Europa, principalmente na Espanha, a época se traduz em disputados e caros pacotes turísticos internacionais, onde visitantes do mundo inteiro aportam às suas tradicionais cidades , apenas para verem procissões e assistirem solenes missas ao som de belíssimas músicas sacras e cantos gregorianos, de fundo.

Em Montes Claros, era assim e melhor ainda, posto que era de graça.

A Praça da Matriz cheia da gente da cidade e de todas as cidades circunvizinhas, o discurso de Padre Dudu no Descendimento da Cruz, a procissão do Enterro ou Senhor Morto, o belíssimo canto pela voz da Maria Beú, a Verônica, a cerimônia de Lava-pés, onde o Bispo beijava os pés de doze escolhidos seminaristas, que tanto podiam ser do Seminário de Padre Pedro ou do de Padre Joaquim e vinham a pé, descendo a rua Doutor Veloso cantando - como bem explicou no Mural, outro dia, o nonagésimo oitaviano Saulo - em vozes afinadas, belíssimas, de quase crianças, com suas sotainas, de querubins, de serafins, especialmente a Ladainha de Nossa Senhora, em puro e legítimo latim, afinadíssimo : "Sancta Maria, ora pro nobis. Sancta Dei Genitrix, ora pro nobis”.

Claro que,no sábado de Aleluia, a meninada alvoroçada e desatinada – leia-se Turma do Larguinho - empalhava e vestia de roupas velhas um maligno Judas, arrastando-o pelas ruas durante horas, até enforcá-lo ou queimá-lo em praça pública, sob aplausos de todos os passantes. Mil e setecentos anos depois, estão descobrindo que o Judas não foi tão maligno assim... E agora , garotos ? Por via das dúvidas, nada de malhá-lo este ano !

Porém, triste realidade dos dias de hoje, chega a Semana Santa, o povo some. Os mais entusiasmados (e abonados) viajam centenas de quilômetros em estradas esburacadas e perigosas para tomar um rápido e quente sol nas costas e uma cara cerveja gelada, em praias repletas. De mineiros e axé-music. De baianos não, por que sábia e preguiçosamente ficam dormindo nos feriados, para dar mais espaço aos visitantes que gastam.

No Carnaval é a mesma coisa. Se v. quiser ouvir som de asas de mosquito batendo é só parar no meio da rua Quinze, ou em qualquer rua do Centro, nos dias dedicados a Momo. Vai escutar até o que não se quer.

Depois, passada a folia, onde as velhas cidades e as praias faturam alto ( do bolso do montes-clarense), ficam,empresários tupiniquins - e afins - caçando confusão e arrumando carnavais fora de época , à guisa de correr atrás do prejuízo, para não fazer mais do que tentar conseguir atazanar os ouvidos e a paciência do povo. Por um mísero punhado de dólares...

Sem nos esquecermos que colocam em risco a segurança da cidade, pois em sendo – na região - um evento único e anunciado, atrai , no vácuo e sombra das pessoas boas e bem intencionadas, uma multidão de espertos malandros, que nem o próprio batalhão de polícia – inteirinho - consegue dar jeito.

Pode parecer uma crônica irada , contra o direito de cada um fazer o que quer ou a se querer ganhar dinheiro, coisa nada fácil na atualidade que vive hoje o país.

Mas é apenas um breve chamado para refletir sobre o quanto se precisa dar mais valor à rica cultura e tradições deste nosso querido norte. Catrumanos que somos.

E – em se falando de gente fina que dá o devido valor à nossa cultura e tradição - para dizer à Dona Fina, Virgílio e Virgínia , da felicidade que senti, de longe, ao saber da recente e maravilhosa apresentação (um amigo que viu e ouviu e me contou) do Grupo de Serestas João Chaves num bar da parte antiga e nobre da cidade, aquela que até hoje continua intacta em nosso coração.

Gostaria de ter estado lá.


Abraços a todos.


Flavio Pinto

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Mensagem N°12114
De: Flavio Pinto Data: Quarta 5/4/2006 09:02:08
Cidade: Belo Horizonte-MG

DE BUARQUE A SHAKESPEARE, SEM MEDO DE SER FELIZ


Não sei se para todo mundo, mas a mim, particularmente, sempre me pareceu que as vacas – durante toda a minha curta e prosaica existência - foram (e continuam, infelizmente) magras. Falta-me, confesso, um dinheirinho sobrando, para umas viagens que não fiz - e gostaria de fazer - e umas pequenas melhorias na vida dos meninos. Mas tudo tem seu tempo, já disse alguém.E a gente vai levando.

Sina danada de pobre feliz, se é que é aceitável, na sociedade dita organizada, esta complexa afirmativa de existir real felicidade na pobreza material.
Por isso, desculpem-me, então, possíveis críticos e apressados analistas de comportamento, pois quero , antes de tudo, que saibam que nada se dirá aqui em favor da pobreza de espírito, esta, sim, sem jeito de se dar jeito, do início ao resto da vida. Vivam e durmam com ela , a quem de direito...E que Deus olhe por vocês.

Só que, pela santa e salomônica sabedoria das compensações divinas, depois que o tempo - como bem disse um dia o grande Chico - vai passando, roda mundo, roda-gigante, rodamoinho, roda pião e rodou num instante nas voltas do coração - a gente começa a ver que, no fundo mesmo, elas, antigamente, eram mais gordas, simples e (porque não dizer ?) belas (ou pelo menos, pareciam) do que supunha esta vã e possivelmente tola filosofia hamletiana que me acomete e lhes repasso.

Certo dia, na velha Montes Claros, no Bar São Benedito, a meninada vibrou, certa vez, com uma grande e inesquecível promoção : os picolés ali seriam vendidos a dois por quinhentos réis . Para o pessoal mais novo não voar demais , mais ou menos, hoje, cinqüenta centavos.

Em todos os bares, Minas Bar, Big Bar, Sibéria e aquele da esquina da Praça Cel.Ribeiro, da mãe de Tony Colorido, continuava o mesmo preço : quinhentão o picolé.

A gente ria - alegria pura - e espalhava a boa nova nos quatro cantos da cidade , fazendo fila na porta do São Benedito, cheio das portas de dois metros de altura, ali na esquina debaixo, na Praça Doutor Carlos, do outro lado do Mercado.

Que maravilha, principalmente pra quem ganhava uma semanada de dois mil réis, que mal dava pro matinê no Cine São Luiz (ou Coronel Ribeiro) e um esperado e sagrado picolé, depois da suada sessão de bang-bang e seriado. Não sei se era Nioka ou a Volta do Sombra.

Se bem que , devo dizer, os picolés de groselha, tanto os redondos quanto os retangulares, não agüentavam uma chupada profunda ou muito forte : logo passavam de um rosa claro inicial para um total branco gelo-água, antes de se chegar mesmo à sua metade.

Mas ninguém reclamava, o calor e a sede eram os mesmos de hoje e chupar um gelinho era bão também....

Abraços a todos.

Flavio Pinto






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Mensagem N°11989
De: Oswaldo Antunes Data: Sexta 31/3/2006 09:35:34
Cidade: Montes Claros

INQUISIÇÃO NO SENADO

Oswaldo Antunes

Não dá para aceitar, sem aderir ao exagero, o procedimento de um senador da
República que ocupou a tribuna várias vezes, colérico, para exigir a saída
de um Ministro. E dois dias depois, quando aquela autoridade deixou o cargo,
o senador disse que havia derrubado o melhor Ministro da Fazenda que o
Brasil já teve. Assim mesmo. O inferno de Palocci foi uma espécie de jogo de
bingo. Povo, decência e honorabilidade parlamentar ficaram em segundo lugar.
Trata-se de ganhar eleição.
Exagero por exagero, digamos que esse tipo de campanha eleitoral era
inusitado: as crises nascidas em uma comissão de inquérito. Primeiro a dos
Correios: depois de 9 meses, 5.000 paginas e milhões de reais, está acabando
como começou: indicia pessoas por crimes eleitorais, enquanto outros
delitos são inventados e praticados nesse campo. Mas a outra, a dos bingos,
é particularmente curiosa: é comandada por senadores irados, entre eles, o
autor da frase referida,e ACM que renunciou ao mandato e à presidência da
casa por falta de lisura. Devia apurar irregularidades nos bingos, os de
verdade. Mas está cantando pedras. Até a pedra 90 já foi cantada. E leva o
jogo para o plenário do Senado marcar na cartela. Logo o Senado, cuja função
constitucional seria a de moderar crises.
Não se tem conhecimento de Inquisição parecida. As CPIs nasceram do clamor
popular contra fatos determinados. São convocadas para finalidade, nunca em
aberto ou para servir a interesses partidários. O jurista Pontes de Miranda
é preciso e exato ao dizer que não se pode abrir CPI para crises in
abstracto". E o que vem sendo feito, sob a alegação de depurar a
moralidade, é fabricar crises, muitas delas abstratas, visando a derrubar
um Presidente que o povo apóia.
Veja-se o caso curioso do caseiro que teve o sigilo bancário violado. O STF
impedira sua oitiva, que caminhava para a violação de outra garantia
constitucional, a da "intimidade, da vida privada, da honra e da imagem de
uma pessoa". Os senadores protestaram, culparam por isso o Presidente da
República e pediram a demissão do Ministro. Esqueceu-se que, tão importante
quanto salvaguardar segredo bancário, é a honra das pessoas.
O palavrório repercutiu na mídia ávida de escândalos, a ponto de um jornal
italiano publicar, em manchete, esse absurdo: "Brasil: sexo e evasivas
abalam o governo Lula". Parece estarem sendo desprezadas as convenções e a
justiça social. Esquecem-se, novamente, as crianças vítimas do trafico de
drogas, de quem o Congresso nem tomou conhecimento. E esse assunto sim,
devia merecer comissão de inquérito, se fosse possível, permanente. Porque
a CPI do Tráfico de Drogas acabou tão rapidamente que parecia estar com
medo. Nem deixou vestígios de punição, a não ser Fernandinho Beira Mar,
condenado a voar para conhecer prisões em diversos Estados.
Enquanto isso, a CPI dos bingos vai fazendo a função de tontear cabeças e
viciar a opinião pública. Põe à mostra velhos vícios e o preconceito de uma
parte da elite que, em dois partidos, domina a Inquisição pré-eleitoral.
Para atingir a popularidade de provável candidato à reeleição, vai
derrubando tudo ao redor para que a esperança prometida não volte a influir
nas urnas.

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Mensagem N°11909
De: Flavio Pinto Data: Terça 28/3/2006 12:39:37
Cidade: Belo Horizonte-MG

UM CARRO DE BOI E UMA AVENTURA


No rádio de cabeceira, madrugada de sábado para domingo, Tonico e Tinoco me acordando.

“...Meu véio carro de boi, a sua cantiga amarga
No peso bruto da carga, o seu cocão ringidor
Meu véio carro de boi, quantas coisa ocê retrata
A estrada a a verde mata,e o tempo do meu amor...”

Como um fulminante raio em noite de trovoada, bateu uma saudade doida.

Eu me vi em pé na rua Joaquim Nabuco esquina de Lafetá, menino de calça curta, com meu querido amigo Claude Bello, escutando ao longe o rangido do eixo das rodas, untado ininterruptamente de óleo de mamona, para justamente aumentar o ranger. Até fazer chorar. Nós e as rodas.

Nossos corações disparados de aflição. Esperar carro de boi não era fácil, não !

Avistamos primeiro o sorridente guia, Toinho, à frente dos oito bois do lindo carro de seu pai, Seu Menê, todo alegre e acenando para saltarmos logo na traseira, ainda vazia, indo buscar cana para o Engenho do Pequi.

E rangendo, chorando, rangendo, ele ia, devagar , sempre devagar...

Cel.Prates, passando na porta do Café Indiano ( sinto até hoje aquele cheiro de café torrado), Diocesano, Colégio Imaculada, Fábrica de Tecidos Santa Helena, Santa Casa.

Descendo e subindo ladeira, até o Seminário.

Finalmente, chegávamos ao Melo e à cana “caiana” - da melhor qualidade – da fazenda de Nivaldo Maciel. Só esperando ser cortada e embarcada.

Se a gente desse - a sublime - sorte do dono estar lá no dia, ele, com a maior das boas vontades, faria um aboio - de cinco minutos , contados no relógio - saudando os visitantes que chegavam. Até os bois ficavam encantados e diminuíam ainda mais o passo, para melhor ouvir tal maravilha.

Enquanto os camaradas carregavam o carro, dois dos meninos de Nivaldo, Ronaldo e Murilo, sempre hospitaleiros como o pai, levavam-nos para os pés de manga.
Não sem antes nos deliciarmos com um sem número de roletes de cana, cortados na hora.
Depois, vinham as mangas-rosas, bitelas. A barriga chegava a estufar.

E a volta. O carro cheio de cana, bem amarrada e segura e coberta com couros de boi, aboletávamo-nos em cima, sentindo-nos como verdadeiros aventureiros em caçadas de tigres nas florestas de Bengala.

Pingos de chuva, a gente tirava a camisa e punha debaixo do couro curtido, a chuva aumentava e mais a gente gostava.

Mais um par de horas, o Engenho do Pequi, meu tio Joanir Maurício fazendo festas à nossa chegada e estranhando a gente recusar o canecão de garapa que ele mesmo pegou na bica do engenho.

Depois , sorrindo, ouvindo Seu Menê contar da quantidade de manga-rosa que tínhamos comido...


Abraço a todos.


Flavio Pinto





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Mensagem N°11819
De: Saulo Data: Quinta 23/3/2006 22:35:58
Cidade: Belo Horizonte

A notícia de que o Seminário Menor de Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças, isto é, o prédio do Seminário Menor de Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças, está vindo abaixo tocou as minhas mais cavas recordações de criança.

Vi-me de novo, entre cobertas, nas frias manhãs de Montes Claros.
Montes Claros tinha frio.

É mês de maio. Todos dormem.

O palor da noite não se foi, e o sol ainda não veio.

Como uma névoa, como num sonho, o som começa baixinho, e vem, lento, flutuando de encontro a nós.

São vozes afinadas, belíssimas, de quase crianças, com suas sotainas, de querubins, de serafins.

Cantam laudes.

Especialmente, cantam a Ladainha de Nossa Senhora, em puro e legítimo latim, afinadíssimo.

"Sancta Maria, ora pro nobis.
Sancta Dei Genitrix, ora pro nobis.
Sancta Virgo virginum, ora pro nobis.
Mater Christi, ora pro nobis.
Mater divinæ gratiæ, ora pro nobis.
Mater purissima, ora pro nobis.
...................................................
.....................................
........................................`

(Ouçam.

Abram os corações e ouçam, pois ouvir anjos é privilégio das estrelas, que param no meio do céu para ouvi-los.

E ainda não estamos no céu.

Estamos na avenida coronel Prates dos anos 50, e o coro dos anjos é a voz dos pequenos aprendizes de padre que saem em litania pelos portões da velha escola,e vem. Cantando.

Deixem que cantem.

Enquanto cantarem, e cantarão para sempre, nunca o velho prédio – açoitado por marretas e clavas, tratores até - nunca estas paredes cairão por completo e definitivo.

Elas se reerguem como as vozes da litania se erguem.

Não as derrubarão, é certo.

O Seminário de Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças jamais irá para o chão.

Permitam: ouçam o canto completo, e perdoem-me a eterna lembrança. A Saudade. Que sendo palavra nossa, não tem tradução em latim):


“Kyrie eleison.
Christe eleison.
Kyrie eleison.
Christe audi nos.
Christe exaudi nos.
Pater de cælis Deus,
miserere nobis.
Fili Redemptor mundi Deus,
miserere nobis.
Spiritus Sancte Deus, miserere nobis.
Sancta Trinitas unus Deus,
miserere nobis.

Sancta Maria, ora pro nobis.
Sancta Dei Genitrix, ora pro nobis.
Sancta Virgo virginum, ora pro nobis.
Mater Christi, ora pro nobis.
Mater divinæ gratiæ, ora pro nobis.
Mater purissima, ora pro nobis.
Mater castissima, ora pro nobis.
Mater inviolata, ora pro nobis.
Mater intemerata, ora pro nobis.
Mater amabilis, ora pro nobis.
Mater admirabilis, ora pro nobis.
Mater Creatoris, ora pro nobis.
Mater Salvatoris, ora pro nobis.
Virgo prudentissima, ora pro nobis.
Virgo veneranda, ora pro nobis.
Virgo prædicanda, ora pro nobis.
Virgo potens, ora pro nobis.
Virgo clemens, ora pro nobis.
Virgo fidelis, ora pro nobis.
Speculum justitiæ, ora pro nobis.
Sedes sapientiæ, ora pro nobis.
Causa nostræ lætitiæ, ora pro nobis.
Vas spirituale, ora pro nobis.
Vas honorabile, ora pro nobis.
Vas insigne devotionis, ora pro nobis.
Rosa mystica, ora pro nobis.
Turris Davidica, ora pro nobis.
Turris eburnea, ora pro nobis.
Domus aurea, ora pro nobis.
Fœderis arca, ora pro nobis.
Janua cæli, ora pro nobis.
Stella matutina, ora pro nobis.
Salus infirmorum, ora pro nobis.
Refugium peccatorum, ora pro nobis.
Consolatrix afflictorum, ora pro nobis.
Auxilium Christianorum, ora pro nobis.
Regina Angelorum, ora pro nobis.
Regina Patriarcharum, ora pro nobis.
Regina Prophetarum, ora pro nobis.
Regina Apostolorum, ora pro nobis.
Regina Martyrum, ora pro nobis.
Regina Confessorum, ora pro nobis.
Regina Virginum, ora pro nobis.
Regina Sanctorum omnium,
ora pro nobis.

Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, parce nobis Domine.
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, exaudi nos Domine.
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, miserere nobis

(Esta ladainha, cantada em latim, emocionou o mundo na morte de João Paulo II).

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Mensagem N°11635
De: Flavio Pinto Data: Sexta 17/3/2006 11:29:55
Cidade: Belo Horizonte-MG

DE UM GINÁSIO, LOYOLA & COMPANHIA


Não fui do tempo do Colégio Diocesano. Nunca estudei lá. Infelizmente.

Quando terminei o primário no D.João Pimenta, já o tinham transformado em seminário, quando então, radicalmente, transformou a nossa bucólica Rua da Fábrica num pequeno - assaz movimentado - Vaticano, como se fosse um verdadeiro e real filme de De Sica, onde, em dias de festa e procissão , entusiasmados aprendizes de padres passeavam em compenetrados grupos fingindo que não viam passar as lindas meninas do Imaculada.

Mas , como era perto de casa , sempre vi e participei de tudo por lá : os disputados jogos contra o Seminário (batinas brancas, lá do Melo) de Padre Pedro no campo de futebol e as peças e sketches teatrais, levados semanalmente no prédio anexo, chamado de Congregação Mariana , onde também se realizavam grêmios estudantis e incríveis sessões de cinema grátis.

Vagamente me lembro de, certa vez, uma acalorada disputa pela Presidência do Diretório de Estudantes de M.Claros (famoso DEMC, cuja sede era na Praça Cel.Ribeiro) que presenciei. Não me recordo quem ganhou ou perdeu, mas sei que meu nobre colega ( de letras e de Banco do Brasil) Wanderlino Arruda teve uma mexida qualquer na eleição.(Garanto que qualquer dia ele vai contar o que foi, na qualidade de mais novo nonagésimo-oitaviano da praça...)

Quando era festa do Ginásio, sob os vigilantes olhares dos Padres Agostinho e Gustavo(que depois virou Monsenhor e adorava bater o anel na cabeça dos meninos que pediam benção), as sessões sempre começavam com o hino : “Colégio Diocesano, oficina que trabalha” . Só me lembro deste começo.

Muitos filmes de cowboy, mudos, falados e registros particulares daquela fase da vida da cidade, estes maravilhosamente filmados em preto e branco ( 8 milímetros) pelo inesquecível Itajahy Borba, dono do Armazém Loyola que numa época sem os poderosos supermercados e chiques delikatessens de hoje, abastecia Montes Claros do que de melhor e finesse havia em comidas e bebidas das Oropa, França e Bahia, como diria Jair Silva.

Filmagens lindas e históricas do antigo Carnaval e futebol montesclarense.Rolos e mais rolos. Já vi alguns.Alô Secretaria da Cultura : até hoje, os filhos (relacionados abaixo ) conservam com carinho este acervo. Lances de jogos e gols de memoráveis Cassimiro e Ateneu, carnaval de rua e bailes nos salões do Clube Montes Claros. De arrasar.

Nos aniversários de Mazinho, Fuiu, Jaya, Vaguinho, Valdo, Fátima, Kátia e Ludmila, Seu Itajahy, com a maior vibração, sempre passava um filme novo ( foi ali que vi a Ilha do Tesouro, do primeiro pirata de olho de vidro e papagaio no ombro ), com direito à livre degustação de todos os sabores de sorvete Kibon - vinha de avião, do Rio, acondicionado em caixas de gelo seco – servido sem miséria em taças de prata. A meninada, literalmente, boquiaberta.

Tudo isso - ainda e sempre - com o maior dos sorrisos e gentilezas da adorável D.Hilda Loyola.

Aí vi a foto do ginásio, destelhado.As telhas na calçada e na chuva. Que tristeza.

Espero, pelo menos, que o supermercado seja tão bom e variado quanto foi o Armazém Loyola.


Abraços a todos.

Flavio Pinto

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Mensagem N°11614
De: Oswaldo Antunes Data: Quinta 16/3/2006 16:01:30
Cidade: Montes Claros

O CONFUSÓRIO

Oswaldo Antunes

Entre frases que demonstram a dificuldade de a gente escrever o que pensa, e
coletadas em provas vestibulares no Rio, vale reproduzir algumas como ponto
de partida para o comentário: "o Brasil é um País abastardo com um futuro
promissório parece que confusório e preocupatório também"; e, " precisamos
tirar as fendas dos olhos para enxergar com clareza o número de famigerados
que aumenta". As frases parecem mais absurdas do que realmente são, na
medida em que, além dos erros lingüísticos, denunciam uma incerteza que está
levando ao desentendimento quase generalizado, já que atinge a todos nós.
Com o respeito devido, vamos compara-las com outras, aparentemente bem
construídas, recentemente, ditas pelo Cardeal Presidente da CNBB. Mas,
antes, vale lembrar o que diz o brocado jurídico: ninguém pode possuir a
parte incerta de uma coisa. E está muito incerta no Brasil essa coisa que se
chama realidade.
Ao afirmar que pouco dinheiro não resolve o problema dos excluídos, que
precisam de emprego, o eminente Cardeal faz uma afirmação que parece certa a
principio, mas se torna incorreta em face da realidade. É certo que a ajuda
da bolsa família não resolve o problema de emprego, assim como o vestibular
não resolve o problema do ensino. Mas na realidade esse pouco dinheiro ajuda
a minorar a fome de milhões de pessoas. Posteriormente, desmentindo as
expressões "politicalha para garantir votos" e "governo mais submisso aos
banqueiros da história do País", o Cardeal colocou duas sentenças que, com a
devida vênia, também merecem exame: "-Reconheço que o Governo do Presidente
Luis Inácio Lula da Silva tem mostrado sensibilidade pelos mais pobres da
população, embora insistamos que a situação de desemprego estrutural no País
requer medidas também estruturais como condição para a sua estabilidade";
É acaciano que a correção do estrutural requer medidas estruturais, mesmo
quando há incerteza no conhecimento dessas estruturas. Mas pedir que medidas
venham estabilizar a situação de desemprego, na melhor das hipóteses é erro
de expressão. Além do que, do Governo, a grande estrutura, fazem parte os
três poderes, os meios de informação e a sociedade. A critica não deveria,
assim, ser dirigida, nominalmente ao Presidente da Republica. É erro de
entendimento.
Outra frase: "-Auguramos que o Bolsa Família, além de responder ao direito à
alimentação, como direito fundamental à vida, consiga solidificar as
mudanças qualitativas que favoreçam a uma real inclusão".
A bolsa família foi criada como tentativa de compensar a falta de
distribuição de renda e diminuir a fome de milhões de brasileiros sem
trabalho. E, evidentemente, não pode solidificar mudanças, nem de imediato,
como num passe de mágica, nem a médio prazo, porque as grandes mudanças
qualitativas, que devem vir para favorecer uma inclusão, serão fruto do
desenvolvimento. E fome não é fator de desenvolvimento.
Como se vê, os erros e acertos se interpelam. E os de baixo, que não têm
dono, respondem aos de cima. Sem dúvida, tudo muito confusório e
preocupatório, como diria Dadá Maravilha.

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Mensagem N°11493
De: Waldyr Senna Data: Sexta 10/3/2006 16:23:36
Cidade: Montes Claros

Na garupa de JK

Waldyr Senna Batista

Quando candidatos, os três últimos presidentes da República tentaram pegar a garupa de Juscelino Kubitscheck, citando-o em seus programas eleitorais. Neste ano, sob influência da minissérie televisiva, esse expediente vai ganhar espaços ainda maiores.
Os tempos são outros e outras as injunções. JK privilegiou investimentos que dinamizaram a economia, num estilo que, em alguns casos, se aproximavam da irresponsabilidade. Hoje, no mundo globalizado em que a simples digitação de uma tecla pode gerar o caos, esse estilo não teria mais lugar. Mas vale a referência a Brasília, uma loucura que dinamizou os setores produtivos e ampliou fronteiras, atraindo levas de trabalhadores para os canteiros de obras. E a indústria automobilística, que elevou o Brasil a novo patamar e até hoje gera empregos, numa escala que começa nas montadoras e se estende ao flanelinha que lava carros na rua. Sem esquecer hidrelétricas e rodovias, que o país não conhecia.
Depois dele vieram os militares, que implantaram obras importantes, mas lastreadas no endividamento externo, que na atualidade exige cruel sacrifício da sociedade para o pagamento de juros.
Sarney não foi eleito, mas presidiu o país seguindo o modelo que sempre manteve na administração do Maranhão, não por coincidência o Estado mais atrasado da federação. Aferrou-se à lei de reserva de mercado, que tolheu as importações de equipamentos de informática, ao que o país deve pelo menos vinte anos de atraso nesse setor.
Collor, cuja citação não é bem recebida, identificou o gargalo e abriu o país para a importação de computadores. Provocou, também, a modernização das nossas “carroças”, como ele denominou os automóveis aqui fabricados.
Fernando Henrique tem a seu favor a eliminação da inflação, a que deu início ainda quando ministro do governo de transição de Itamar. Mas ele se perdeu com sua política de privatizações, anunciada como destinada a reduzir o volume da dívida, o que não aconteceu, e ainda deixou rastros de suspeitas quanto à execução do programa.
Lula assumiu galopando a esperança de mudanças, que ainda não vieram. Apenas deu continuidade à política econômica de seu antecessor, com rigoroso controle da inflação e imposição de tributação que já supera os 40% do PIB. O país transformou-se no paraíso dos banqueiros, segundo a definição de quem deve entender de paraíso: os bispos da CNBB, os grandes responsáveis pela criação do mito.
O presidente da entidade, dom Geraldo Magela Agnelo, não usou de rodeios para golpear o principal programa social do governo: “O bolsa-família é assistencialismo, não é promoção humana. Em alguns casos, o programa estimula as pessoas a não fazerem nada em troca de R$ 60, R$ 90 por mês. O que nós ( a CNBB) queremos é trabalho e educação para todos.”
Está aí a grande diferença entre Juscelino e os que tentam se promover usando a imagem dele em vésperas de eleição: ele promoveu o crescimento econômico via investimentos, enquanto os outros estimulam o não-trabalho. Eles são incapazes de admitir que não há condições de crescimento nas condições atuais, em que todas as riquezas produzidas pelo país são incineradas no pagamento da rolagem da dívida que, só de juros, neste ano, exigirá desembolso de R$ 173 bilhões. Seguindo-se o pagamento de aposentados e pensionistas do INSS ( R$ 155 bilhões), transferências para estados e municípios ( R$ 112 bilhões) e folha de servidores civis e militares ( R$ 101 bilhões). Apesar das arrecadações recordes, sobram para investimentos irrisórios R$ 60 bilhões, que correspondem a 3,5% do orçamento.
Essa situação caótica não é culpa do atual governo, que apenas está dando sua contribuição, certamente com a melhor das intenções. Ela é fruto da irresponsabilidade, da incompetência e da desonestidade que vêm de longe, e não será superada apenas pela força de discursos mal alinhavados.
A propósito, o presidente da CNBB completa: “Este governo gosta de fazer comparações com outros administradores. Mas não existe na história um governo tão submisso às condições impostas pelos credores do que este governo.”

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Mensagem N°11447
De: Flavio Pinto Data: Quarta 8/3/2006 11:40:09
Cidade: Belo Horizonte-MG

PROMESSAS CUMPRIDAS, FINALMENTE

(MURAL -06/03/06 - 17h - Galinhas mutantes desenvolvem dentes semelhantes aos de crocodilo)

Eu e (certamente) toda uma geração de crédulos meninos do interior, montes-clarenses (quiçá mineiros e brasileiros), que acreditavam em aparição de lobisomem nas noites de lua cheia, saci pererê - que poderia ser apanhado com peneira - rodopiando no meio de redemoinhos, mula-sem-cabeça e outros bichos fantasmagóricos do imaginário popular, amanhecemos mais felizes neste início de semana, deliciando-nos com esta notícia publicada no Mural e em jornais do mundo inteiro.

É que , finalmente, vamos fazer jus a vários desejos reprimidos, possíveis dívidas impagáveis, e ainda, nos tornarmos aptos a receber mil recompensas prometidas naquele tempo por todos aqueles (e aquelas) insensatos que tudo ofereciam e, na hora de pagar, saíam-se pela tangente com o execrável e proverbial “no dia em que a galinha nascer dentes”.

Era bem assim que se dizia.

Certa vez, uma moça, bem mais velha do que eu, que me prometeu um beijo. Na boca, imaginem, a doidivanas. Não sei quando ou como, mas num certo dia ela prometeu. Com aquela voz melosa e sensual, aqueles dois olhos castanhos, os cabelos negros e esvoaçantes de Rita Hayworth em Gilda.

E, quando eu lhe cobrava - diariamente, ouso confessar, tamanha era a paixão – ao passar na porta de minha casa indo para o Colégio Imaculada, ela dizia a mesma coisa : “no dia em que a galinha nascer dentes”.

Foi assim, por um ano inteiro.

Até um dia em que ela - não sei, mas me pareceu cansada (e com razão) das apaixonadas cobranças - foi categórica, ao dizer, para tornar ainda mais cruel minha completa ruína sentimental.

Uma só e última vez :

- No Dia de São Nunca...de tarde !


Abraços a todos.


Flavio Pinto

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Mensagem N°11351
De: Wanderlino Arruda Data: Sábado 4/3/2006 11:48:07
Cidade: Montes Claros

Wanderlino Arruda

Deus te salve, Montes Claros,
Deus te ajude
no progresso,
no crescimento,
na poesia,
na seresta,
na alegria da hospitalidade,
que é a tua maior virtude.
És humana,
tens beleza,
sabes amar,
sabes sofrer, sabes esperar
por um futuro melhor.
Querida, admirada
e nunca esquecida,
és um lugar que marca saudade
no mais duro coração.
A tua luz, Montes Claros,
é vigor e é ternura,
como terno é o entardecer.
Na verdade, Montes Claros,
na verdade,
tu não és apenas uma cidade,
és uma declaração de amor!

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Mensagem N°11301
De: Flavio Pinto Data: Quinta 2/3/2006 16:04:14
Cidade: Montes Claros- MG

NOTÍCIAS MAIS LIDAS : (ANO DE 2057 D.C)

Bi-Centenário de Montes Claros

Já passados 10 anos do saneamento total do Rio Vieira , Montes Claros se prepara para as comemorações do Bi-Centenário, ocasião em que teremos uma semana de intensas festividades, culminando com uma etapa do Grande Circuito Internacional de Canoagem, nas azuis e caudalosas águas do Rio Vieira (vejam a linda foto noturna, clicada pelo fotógrafo da 98 FM, esta rádio que está com vocês há quase setenta anos).

Após a canoagem teremos o grande concurso de Pesca ao Dourado e Piau, que toda a população poderá participar ao longo da maravilhosa margem do rio, lindamente ajardinada e florida de perpétuas, jasmins e damas da noite, obra prima da Secretaria de Meio Ambiente.

O Festival do Pequi, esperado por todos, mais uma vez não poderá ser realizado, por absoluta falta do produto principal (de cor amarela, lembram-se) que não é mais achado de jeito nenhum (nem congelado) , uma vez que os três últimos pequizeiros do sertão norte-mineiro foram levados para o Museu do Cerrado Antigo, em Brasília, em 2032.


Abraços a todos.

Flavio Pinto


(A bela foto enviada pelo leitor Mauro Miranda Ferreira foi deliberadamente invertida pelo escritor Flávio Pinto)

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Mensagem N°11213
De: Flavio Pinto Data: Domingo 26/2/2006 12:22:16
Cidade: Belo Horizonte-MG

FAROFA DE TATU


Terra,América do Sul,Brasil, Minas Gerais, Montes Claros, Rua de Trás e Larguinho.

Se um disco voador tentasse me abduzir naquele início de década de 50, estas seriam as melhores coordenadas para o meu eventual e eficaz recolhimento espacial.
Mas, felizmente (ou infelizmente, poderão dizer os ovnistas militantes) tal peripécia nunca aconteceu comigo nem para o resto da turma, que fazia ali da Rua de Trás e Larguinho do Rosário seu ponto preferido para a toda espécie de brincadeiras, diurnas e noturnas.

Acho que só efetivamente aconteceu pra Zezinho Lagartixa que, apesar de não ser da turma do Larguinho, aparecia ali esporadicamente (talvez pelas freqüentes escapulidas para o espaço sideral), para participar das peladas vespertinas, e já tinha experimentado a inusitada aventura espacial por mais de uma vez.

Zezinho aparecia sempre com duas trouxinhas, uma em cada mão, com seus invariáveis óculos de vidro espelhado - última moda nos camelôs da Praça do Mercado - que anunciava , de longe, sua querida presença, pelos reflexos do sol que fazia questão de nos jogar nas vistas, dando sempre uma risadinha de lado.

Não se fazia de rogado e contava as aventuras sempre de tardinha, após a última pelada, os olhos escondidos atrás dos óculos - o que lhe dava um discreto ar professoral - com uma preciosidade de detalhes de fazer inveja a qualquer escritor de ficção científica.

O jeito dele – especial - de contar os casos fazia a diferença e nos tornava cativos ouvintes até a hora que resolvia ir embora, quando se lembrava de ter de levar a feira (as duas trouxinhas, lembram-se ?) para a mãe, que morava lá pras bandas do Rio do Melo. Bom filho, o Lagartixa.

Um dia, brindou-nos com um primor de criação artística : um carro de boi a jato, cujas turbinas ficavam grudadas no rabo do boi e somente ligavam quando o condutor gritava o nome do bicho : “Vai lá Pintado, vem cá Rochedo...” assim que o animal ouvia o nome, levantava o rabo e ligava o motor, alçando vôo rapidamente e atingindo em pouco segundos a velocidade de mil quilômetros por hora.

Se alguém da platéia iniciasse ou esboçasse qualquer movimento que pudesse significar ou transparecer alguma dúvida, ele logo se adiantava: “ Eu sei , parece mentira... mas é a pura verdade. A velocidade era tanta que os bois nem botavam a língua para fora...”..

Ante tal argumento, falar o quê ?

E lá voltava ele, na semana ou quinzena seguinte, com mais deliciosas estórias espaciais. Sempre um bicho conhecido de todos personificando um alienígena. Duro de agüentar, eu sei, mas nós agüentávamos, pelo bem da diversão gratuita.

Mas a do tatu hipnotizador...Essa foi difícil !

Imaginem que lá num dos benditos planetas onde ele esteve (foram vários) o povo morria de medo de um tal tatu hipnotizador que, ao simples olhar dominava as mentes dos habitantes e levava-os para o fundo da terra, para trabalhar como escravos, cavando buracos e deixando o maléfico e sua família na maior boa vida, folgados e desobrigados daquela histórica função, própria de qualquer de qualquer tatu que se preze.

Aí, Zezinho Lagartixa foi fundo.

- Mostrei pra eles estes óculos ( tirou os óculos e deixou-nos, pela primeira vez, tocá-los) e falei para fazerem milhares iguais para toda a população e sempre os usassem quando o disgramado do tatu aparecesse.... Foi a conta : o tatu olhava para os marcianinhos com os óculos espelhados e não acontecia mais nada. Ele foi ficando com medo e recuou, o povo invadiu os buracos, libertou os escravos e sabe o que fizeram com o hipnotizador ?

Um menino, atrás de mim, gritou : “Farofa de tatu”.

Zezinho pegou as trouxinhas, tomou os óculos e rachou fora, resmungando.

- Conto mais bosta nenhuma procês !



Abraços a todos.


Flavio Pinto

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Mensagem N°11021
De: Oswaldo Antunes Data: Sábado 18/2/2006 15:23:26
Cidade: Montes Claros - MG

O BANCO LATIFUNDIÁRIO

OSWALDO ANTUNES

Fizemos aqui referencia à agiotagem do Banco do Nordeste, que está tomando a terra dos produtores rurais, sob a alegação de que eles não pagam o empréstimo tomado. De Janaúba, um leitor que tem os argumentos de bancário bem remunerado e mal preparado, contestou essa verdade e tentou argumentar que, para reaver o dinheiro emprestado, somente restava ao BNB o seqüestro dos bens do devedor. Acrescenta que esses bens seqüestrados são leiloados para quitação dos débitos. São argumentos falsos e descabidos. Primeiro, porque o BNB não empresta seu dinheiro e não subsidia como antigamente para ajudar o homem do campo. Hoje apenas repassa, agencia e faz agiotagem com dinheiro de fundos, o do Nordeste, o de amparo ao trabalhador e outros. Em segundo lugar, porque o BNB não está cobrando o que emprestou e que seriajusto: está cobrando especulação para lucro seus e dos fundos, especulação mais usura, TJLP mais juros, depois juros sobre juros calculados mensalmente e incorporados ao valor inicial da dívida. E essas taxas engordam tanto a divida que ela chega a ser maior do que o valor dos bens seqüestrados. E sobre esse valor absurdo, ainda incidem taxas de manutenção do debito, honorários dos seus advogados, que recebem do Banco e recebem também dos clientes. Em qualquer país civilizado, isso seria chamado de ladroeira, em vez de empréstimo bancário. Seria caso de cadeia. Aqui não chega a ser, sequer, crime de colarinho branco.E ainda há outro argumento: quando o imovel vai a leilão geralmente acarreta prejuizo ao Banco e, nas mãos de outro proprietário continuará improdutivo se não houver a ajuda, sem usura, para a qual o Banco do Nordeste foi criado. É possível que haja alguns desviadores do dinheiro tomado, mas esses sãzo os grandões, que foram protegidos pelo próprio Manco. A grande maioria, noventa e nove por cento, principalmente na região do semi-árido de Minas, não paga porque a atividade agrícola ou pecuária não permite sobra de dinheiro para pagar o impagável. O Banco do Nordeste foi criado como banco de fomento: para ajudar o homem do campo no desenvolvimento do semi-árido. E a região do Polígono das Secas de Minas ajudou muito na criação do Banco para esse propósito. Vale ressaltar, ao final, a mensagem que recebemos de Astério Itabayana Filho:. "Aqui em Januária nas margens da BR- 0135, saída para Itacarambi, tem um exemplo. A divida cobrada é maior que o patrimônio em terras e equipamentos. Foi área algodoeeira e, posteriormente, produtora de tomates para industria. Na colheita do algodão não houve preço compatível ao pagamento. Na colheita do tomate havia atraso do transporte da industria, estrada de cascalho e isto ocasionava perdas. Resultado.A divida (?) do empréstimo não pôde ser paga e hoje a área esta LOTADA DE "SEM TERRA". Recuperassem o antigo proprietário e o imóvel estaria gerando produção e emprego". É isso aí, o BNB está dificultando o que devia ajudar: a produção e os empregos no campo.

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Mensagem N°10998
De: Waldyr Senna Data: Sexta 17/2/2006 12:02:33
Cidade: Montes Claros

As grandes pequenas obras

Waldyr Senna Batista

No seu artigo de duas semanas atrás, o sempre correto jornalista Jorge Silveira estranhou que a prefeitura tivesse promovido ruidosa festa para a inauguração do alargamento, sinalização e pavimentação de trecho de menos de 500 metros da avenida deputado Plínio Ribeiro. Na opinião dele, não se justificava a festança, com foguetório, fanfarra e discursos para tão pouca coisa.
Na verdade, a obra em questão tem especial significado político e eleitoral. Ela figurou como item importante na última campanha, por ter a comunidade vizinha se mobilizado para obter dos três candidatos a prefeito o compromisso de corrigir o problema gerado pelo perigoso cruzamento. Assim, qualquer que fosse o eleito, havia a garantia de implantação do melhoramento. Vitória da comunidade, que pode ter exagerado ao apelidar o local de “avenida da morte”, expressão que a administração está agora aproveitando para efeito publicitário. A reivindicação era procedente.
Sobre os reparos feitos pelo articulista, cabe frisar a subjetividade que às vezes envolve o conceito do que seja grande ou pequeno. Nem sempre se trata de simplesmente utilizar a trena, tudo varia segundo a utilidade e a premência das coisas sob exame ou de acordo com a visão de quem as observa. Exemplo: certo dia, em visita à cidade natal, o irreverente Darci Ribeiro chamou de “rego” o canal de concreto da avenida sanitária, então recém concluída. Causou mal-estar, pois, para a população nativa, a obra tinha outra dimensão. Acostumado a ver obras monumentais nas grandes cidades onde morou e com visão universalista, para o visitante o canal não passava de rego.
No caso do serviço realizado na avenida, para a atual administração municipal, aquela foi sua obra mais expressiva. Tanto assim é que, na edição de número 3 do boletim oficial “Nossa cidade”, ela encabeça a lista das 30 maiores obras da prefeitura em 2005, designada como “Humanização da avenida Plínio Ribeiro”. As outras referem-se a reparos em prédios escolares e centros de saúde, construção de passarelas, iniciativas ainda em andamento ou apenas cogitadas e asfaltamento de pequenos acessos em bairros periféricos. Todas iniciativas de reduzido volume, mas importantes para os usuários das áreas beneficiadas.
No início do ano passado, logo após a posse, registramos aqui que pessoa bem posicionada no mais alto escalão da prefeitura definiu assim as pretensões da gestão que se instalava: “Nossa administração será de pequenas obras”. E, pelo que se viu até agora, tomando-se por base o que tem sido alardeado como “as 30 maiores obras da prefeitura de Montes Claros em 2005”, como consta do boletim, assim será. Conquanto se deva levar em conta a ressalva contida no rodapé da publicação: “As ações divulgadas neste informativo são apenas uma amostragem de cada secretaria e autarquia. Todos estão fazendo muito mais. Nas próximas edições estaremos destacando novos feitos da administração popular que vai marcar a história de Montes Claros. Acesse o site da prefeitura de Montes Claros e conheça a lista completa das mais de 90 obras espalhadas por todos os bairros de nossa cidade”. Soou como se, concluído o trabalho, o redator intuísse que o balanço não fora há muito convincente...
O primeiro ano de qualquer administração costuma ser muito difícil e pouco produtivo. Mas o prefeito Athos Avelino certamente não irá fiar-se em recursos próprios do município para a realização até das pequenas obras, porque a arrecadação da prefeitura é insuficiente. Se gerenciada em regime de guerra, sem pretender vôos mais altos, dá para equilibrar a receita com os gastos de custeio e os serviços corriqueiros. Não é fácil pagar salários, ainda que irrisórios, a 7,5 mil funcionários. O pouco que sobra fica para o que se pode denominar de pequenas grandes obras – ou vice-versa.
O chefe do executivo está consciente disso, como deixou claro em entrevista concedida há dias, quando anunciou investimentos de R$ 200 milhões, com recursos que espera vir da Copasa e de secretarias de Belo Horizonte e ministérios de Brasília.
Tudo leva a crer que a frustração do nosso amigo Jorge Silveira só tende a aumentar nos próximos três anos...

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Mensagem N°10997
De: Oswaldo Antunes Data: Sexta 17/2/2006 12:01:47
Cidade: Montes Claros/MG

A REALIDADE E A SECA

Oswaldo Antunes

Recorro ao que já foi dito: existe uma verdade, que é a verdadeira, e outra de cada um, refletindo o modo de querer ou entender da pessoa que a expõe. Uma versão pode ser incorreta, sem ser mentirosa, quando mostra uma faceta da realidade por necessidade pessoal de criar ou recriar um fato. Psicologicamente, esse procedimento é natural no esforço de atuar dentro da limitação de cada um. Vi no jornal e transcrevo: "Embora reconheça que as medidas paliativas de combate aos efeitos da seca sejam necessárias, mas não resolvem o problema, o vereador Ildeu Maia, do PP, presidente da Câmara Municipal, criticou o governo federal pela falta de vontade política em adotar programa permanente para ensinar o povo a conviver com a falta de chuvas." Com o nome de tradicional família da região, e certamente bem intencionado, esse vereador chamou recentemente a atenção, pela iniciativa de construir uma nova sede para o Legislativo. Fala agora de uma realidade, a seca, depois de haver defendido uma faceta menos exata da realidade, a construção da nova sede para a nossa ativa vereança. O dois fatos dão oportunidade de avaliar o que seja verdadeiro e o menos exato. Começa pela contradição de medidas paliativas para os efeitos da seca. O que é paliativo, encobre com aparências. No caso, disfarçaria os fenômenos da natureza. A falta de chuvas é problema cíclico natural e verdadeiro. Sobre ele não influi a surrada vontade política. Se vontade política influísse, nos paises desenvolvidos não haveria terremotos, tufões e nevascas que causaram e vão ainda causar muitas mortes. O governo japonês ou norte-americano não conseguirá nunca ensinar o povo a conviver com os sismos. Para atender ao que o vereador sugeriu relativamente ao semi-árido do Nordeste, foi criada a Sudene. Via Departamento Nacional de Obras contra a Seca, esse órgão cumpria programa de reserva de águas pluviais e captação no subsolo, e ajudou no desenvolvimento. Mas foi corrompido com o mau emprego do dinheiro público, tal modo, que o Governo passado o extinguiu. O atual Governo prosseguiu na construção de poços, cisternas e reservatórios e está tentando reorganizar a Sudene para sua finalidade verdadeira. Como vontade política na Sudene, restou a agiotagem do Banco do Nordeste, que passou a cobrar o impagável e a tomar terras de quem deve, tornando-se o maior latifundiário improdutivo do País. O apelo do vereador devia ser para a correção desse abuso.

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Mensagem N°10941
De: Flavio Pinto Data: Quarta 15/2/2006 11:21:54
Cidade: Belo Horizonte

DE ROÇA MOLHADA E ONÇA PINTADA


Não sei se foi ontem, ou no ano passado, mas tenho certeza que foi num dia desses.

Estranho é que a gente se lembra com tanta saudade, que chega doer no coração , de leve, tipo medo de não se repetir jamais.

Naquela velha cozinha da fazenda, noite e madrugada se misturavam na beirada do aceso fogão de lenha que, além de aquecer o sereno da noite, era o grande responsável pelo tira-gosto à altura de velhos amigos que se reencontravam, agrupados à sua frente, em volta da centenária e ainda firme mesa de madeira, de três metros de comprimento e muita história pra contar.

Sentados nos bancos de aroeira os mais chegados se revezavam no ir e vir à chapa gigante de ferro batido, já preparada e completamente untada de gordura (da carne de sol) para receber aqueles bifes previamente cortados, que ficavam ali, graciosos em seus coloridos dois pelos e bem amontoados dentro de uma grande - e já corroída pelo tempo - gamela de pau .
À espera de serem fritos, mal ou bem passados, dependendo do gosto do freguês, eram pegos e levados ao fogo pelo grande garfo do capeta (poderoso tridente que em outros tempos já até servira para pescar incautas curimatãs que insistiam em ficar pitando no córrego do fundo do quintal) para logo serem levados à mesa e fatiados numa grande tábua, salpicada pelos quatro cantos de pimenta “malaguetinha” e farinha.

Lá de Morro Alto.

Mais aquele caldo de mandioca e arroz com pequi feitos com ciência durante toda à tarde pela cozinheira oficial da fazenda e deixados no borralho para sustentação da turma.
Pro mais adiante da noite. Que ia ser longa, ela já sabia.

Lá fora, a chuva não dava descanso. Graças a Deus, molhado cheiro de mato.

As mariposas, imprudentes como sempre, teimavam em procurar luzes dentro de casa e de vez em quando, uma ou outra, desvairada, caía na chapa quente. Imaginem vocês, quando era tanajura, tinha gente que até a misturava na farinha e...comia, onde já se viu!
Tonto, fazendo bonito, porém muito aplaudido.

Também, em cima da mesa, um garrafão de um “ex-vinho Cabeça de Touro”, atualizado até a tampa por uma deliciosa Viriatinha de 15 anos, confirmada e assinada a procedência e idade pelo dono, o grande cantador Beto Viriato.
Se bem me lembro tinha umas Canarinhas cantando, afinadas, e uma Santa Rosa rezando. Todas, dando conta do recado, direitinho.

Na grande mesa, um povo tomando vinho, outro povo arregaçando na cerveja, cujo ninho era o tanque de lavar roupa, com gelo e serragem até o tampo. As pingas só entravam nos intervalos da cerveja e do vinho. Povo sem termo!

As conversas já lá iam adiantadas, até chegar na preferida dessas ocasiões, sempre a mesma coisa naquele norte querido : conversa de onça, onça pintada, sem pintas, enfim, onça de todo e qualquer jeito. Nunca vi gente gostar tanto de uma mesma conversa. Todo mundo dá palpite, cada um conta um caso, do tio, do avô e dos perigos acontecidos por conta da presença da pintada. E cada ano os casos ficam melhores.

Até a hora que um tocador pega na viola e canta :

“ Um tocador, de violão, não pode tentar prosseguir quando lhe acusam de estar mentindo...”

Como diz o outro : aí pode largar...



Abraços a todos.


Flavio Pinto

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Mensagem N°10872
De: Flavio Pinto Data: Segunda 13/2/2006 11:45:49
Cidade: Belo Horizonte

PARA UMA VIDA MELHOR ?



Com o advento da Internet e seus novos e nomeados conselheiros (por quem?), a gente, hoje em dia, nem precisa ter o trabalho de pensar no que fazer para se obter a melhor das caminhadas, nesta curta - porém tortuosa - vida terrena.

Ou, melhor traduzindo, tentar ser feliz.

Consultores e assessores gratuitos para um melhor destino (se é que destino pode se mudar) se (auto) incumbem desta nobre missão e adentram nossos computadores, diariamente, em pausadas e irritantes parábolas sobre o bem estar que advirá do fiel cumprimento de suas espirituais mensagens.

Caso não as passemos pra frente, não as inocularmos de nossa fé e assinatura para familiares e tantos ou mais diletos amigos, estaremos alijados para sempre do bem-estar celestial, da serena calma e o manso navegar nas águas tranqüilas do mar da felicidade eterna.

Como nossas próprias idéias e deuses tupiniquins não se consolidam profundos - o suficiente - para alcançarem o espiritual valor pretendido, são invocados espíritos e pensamentos de terras longínquas, cujos autores, mortos e ressuscitados diariamente pelos oportunistas e plagiadores de plantão, devem se virar e desvirar – de desânimo - nos seus respectivos e sagrados túmulos.

Nobres pensadores que – coitados - num certo dia, há milhares de anos atrás, crentes que seus cânticos, frases e parábolas se eternizariam como fontes do bem e do saber, até pensaram merecer e querer um longo, calmo e profundo sono eterno.

Deus me perdoe, mas será que querem nos assombrar ?

Será?


Abraços a todos.


Flavio Pinto

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Mensagem N°10815
De: Waldyr Senna Data: Sexta 10/2/2006 15:21:11
Cidade: Montes Claros

Seca produz voto?

Waldyr Senna Batista

No discurso em que cobrou maior atuação do Dnocs no combate à seca no Norte de Minas, o presidente da Câmara municipal, Ildeu Maia, cometeu injustiça com o órgão federal que há 60 anos atua na região. Sua instalação em Montes Claros se deu pelo decreto-lei 9857, assinado em 03 de setembro de 1946 pelo presidente Eurico Gaspar Dutra, determinando que sua atuação se estenderia à faixa compreendida “entre as margens do rio São Francisco, desde Barra, no estado da Bahia, até Pirapora, no estado de Minas, e a linha Montes Claros-Amargoso, do estado da Bahia”.(fonte: Nelson Viana, em Efemérides Montes-clarenses).
Até o final dos anos 70, o Dnocs foi o principal órgão do governo federal na região, sendo responsável pela abertura de cerca de 5 mil poços tubulares, construção de inúmeras pequenas, médias e grandes barragens, implantação de sistemas de captação e distribuição de água em diversos municípios norte-mineiros e até implantação de rodovias.
A partir dos anos 80, com a criação da Codevasf, que passou a atuar na região com superposição de atividades, o Dnocs encolheu e, a partir daí, se tivesse sido extinto sem que disso se desse notícia na imprensa, ninguém perceberia. Mas o que ele realizou nos tempos áureos é inegável, podendo isso ser apontado como o mais importante trabalho para formação de estrutura de defesa contra os efeitos da seca. Não fosse esse acervo, possivelmente o Norte de Minas teria se transformado em deserto.
O vereador está cobrando do Dnocs o que o Dnocs construiu de forma inquestionável, que é exatamente a implantação de infra-estrutura para o enfrentamento das estiagens. E centra sua crítica num aspecto que se diria insignificante, ao declarar que o Dnocs “não tem adotado medidas para amenizar o quadro do município”. Ele se refere, certamente, a medidas emergenciais, paliativas, apontando o não emprego de verba de 300 mil reais prevista no orçamento federal para equipamento de poços tubulares na região, valor esse inexpressivo em relação à magnitude do problema da seca e quase nada se comparado ao gigantesco conjunto da obra do Dnocs em praticamente todos os municípios norte-mineiros. O papel do Dnocs não é propriamente sair por aí distribuindo água em carros-pipa e nem comandando frentes de trabalho para flagelados. Ele atua ( ou atuava ) em plano superior, estrutural.
Nesse ponto o presidente da Câmara errou. Mas acertou em cheio, no mesmo discurso, ao criticar o atual chefe do Dnocs, Paulo Guedes, de fazer uso do órgão para fins eleitorais. Pretenso candidato às próximas eleições, o dirigente tem sido acusado de privilegiar em suas ações municípios cujos prefeitos lhe prometem votos. Desde sua criação, é a primeira vez que o Dnocs é alvo desse tipo de acusação, justamente agora que seu atual chefe é também o primeiro político militante a ocupar a função. Seus antecessores, ao longo de 60 anos, sempre foram técnicos de carreira do funcionalismo público federal.
No entanto, não há o que estranhar quanto a esse procedimento, de uso para fim eleitoral de um órgão do serviço público federal. Se nomearam para o cargo pessoa envolvida na atividade política, foi por que certamente pretendiam capitalizar os dividendos desse trabalho. E o chefe do Dnocs, ao aceitar (ou pleitear) a função, sem dúvida via nela instrumento eficaz para colimar seus objetivos. E está agindo sem qualquer disfarce nessa direção, haja vista a publicação de ampla reportagem de capa da revista “Tempo”, editada em Montes Claros.
Não bastasse isso, pode-se citar também anúncio de quarto de página publicado no jornal “Burarama Notícias”, editado pela prefeitura de Capitão Enéas, edição de janeiro deste ano. Com foto do chefe do Dnocs, a mensagem diz: “Capitão Enéas chega aos 44 anos e o diretor superintendente do Dnocs faz parte desta história. Paulo Guedes. Estaremos liberando para o município de Capitão Enéas além da perfuração de poços artesianos, milhares de metros de tubos de irrigação que ajudarão a dezenas de pequenos produtores. Parabéns Capitão Enéas. Por estes 44 anos de pleno desenvolvimento. Paulo Guedes. Dnocs”.
No texto transcrito podem ser identificadas pelo menos duas graves infrações: publicação extemporânea de propaganda eleitoral que, em época certa, é limitada apenas 1/8 de página: e utilização indevida de cargo público para fins eleitorais. É o que se chama de gestão temerária.
Nisso a crítica do vereador Ildeu Maia foi perfeita e pode até ensejar procedimento de organismos como o Ministério público e o grupo informal constituído na cidade para denunciar crimes eleitorais. No Nordeste, a chamada “indústria da seca” sempre produziu votos.

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Mensagem N°10618
De: Waldyr Senna Data: Sexta 3/2/2006 13:08:21
Cidade: Montes Claros

Um olhar pela janela

Waldyr Senna Batista

Em outros tempos, instalar bar ou restaurante em Montes Claros era operação que exigia cômodo que comportasse balcões, prateleiras, mesas, cadeiras, refrigeradores, cozinha aparelhada, sem falar em estoques, o que demandava capital avultado. Era negócio ao alcance de poucos.
Na atualidade, não. Bastam cômodo diminuto com um freezer e um balcão, porque os espaços a serem utilizados são as ruas e as calçadas, onde se instalam as mesas, as cadeiras e até o fogareiro para o preparo do apreciado churrasquinho, tudo cedido sem ônus pelas distribuidoras de bebidas, que garantem também a reposição de cervejas ao longo do expediente. Não se exige mais estoque. Capital, quase nenhum. O imortal Castro Alves, ao ensinar que a praça é do povo como o ar é condor, jamais imaginou que sua expressão poética viesse a ser tão distorcida.
Esse tipo de atividade sempre existiu em cidades que contam com calçadões, principalmente a beira-mar, o que não é o caso de Montes Claros de ruas estreitas e passeios quase inexistentes. Mas a crise do desemprego e a total liberalidade das autoridades têm contribuído para a ampliação desse tipo de comércio quase informal. Basta uma pequena garagem, o que explica a informação há tempos divulgada pelo sindicato do setor, segundo a qual haveria mais de três mil bares em funcionamento na cidade. Esse número já deve ter sido ultrapassado em muito.
A prefeitura – e não é de hoje – faz vista grossa, não impõe seu poder de polícia para coibir a ocupação indevida. Essa frouxidão incentiva a prática ilegal, de início em bairros periféricos e, já agora, também nas ruas centrais.
Na avenida sanitária há exemplos de barzinhos que, desde o início da noite, interrompem o trânsito nas ruas laterais, onde o sonzão come solto até de madrugada. Terminada a farra, os passeios e as pistas ficam forrados de guardanapos de papel e copos descartáveis, à espera das varredeiras da prefeitura. Ou seja: usa-se o espaço público para exploração de um negócio, sem pagamento de impostos, e a prefeitura ainda é obrigada a fazer a limpeza do local indevidamente ocupado.
Essa leniência, que garante a impunidade, vem fazendo com que o abuso ganhe proporções alarmantes. Vários desses proprietários de bares já estão construindo coberturas de alvenaria sobre os passeios, o que tende a transformar o improvisado removível em obra definitiva. Em bairros afastados isso tornou-se comum, mas a irregularidade chega agora às ruas centrais, algumas a não mais de duzentos metros do prédio da prefeitura. A fiscalização e o próprio prefeito, a quem incumbe zelar pelo respeito à lei de ocupação e uso do solo, não podem agir como o presidente Lula da Silva, que sempre se desculpa pelo mal feito alegando que não sabia de nada.
Isso nos remete ao problema dos camelôs, que transformaram em mercado persa a principal praça da cidade, tomada por barracas de lona preta e papelão, para vergonha da população. A degradação da praça doutor Carlos e das ruas no entorno da praça de esportes começou com a permissão para instalação da primeira banca. Advertido logo no início do processo, o prefeito da época alegou que nada podia ser feito, pois se tratava de conseqüência do desemprego que crescia na cidade. Impedir o surgimento das bancas, dizia ele, geraria grave problema social.
E tinha razão, gerou. Mas gerou para a cidade, que teve de desembolsar elevada soma de dinheiro para se livrar do pesadelo, fruto do assistencialismo inspirado por maus políticos. O prefeito Jairo Ataíde conseguiu eliminar a anomalia, com fórmula criativa, benéfica para a cidade e para os próprios camelôs, hoje instalados, civilizadamente, no shopping popular por ele construído. Seus adversários podem até questionar os métodos utilizados para se chegar a esse resultado, mas não os efeitos produzidos, o que é outra história.
Levando-se em conta essa dolorosa experiência é que se pede ao prefeito Athos Avelino que atue com determinação para coibir o abuso em curso. É preciso agir enquanto é tempo. E, para avaliar a extensão da ameaça, ele não precisa nem sair do seu gabinete, basta chegar à janela e olhar. Não vale alegar, como equivocadamente fez seu antecessor de vinte e cinco anos atrás, que a aplicação da lei pode gerar problema social. Se gerar, que se busque solução. No caso, o interesse público deve ser colocado em plano superior.

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Mensagem N°10494
De: Oswaldo Antunes Data: Terça 31/1/2006 10:18:58
Cidade: Montes Claros

ESPIRITISMO E NOVELA

Oswaldo Antunes

Francisco Cândido Xavier foi a maior referência do Espiritismo nos últimos tempos. Autêntico em sua fé, convenceu pela pratica de duas virtudes muito próximas: bondade e caridade. E usou a publicação de suas obras com dois objetivos: difusão doutrinaria e renda para auxilio de pessoas carentes. Esteve dentro do cristianismo pela caridade, embora não tenha estado pela crença. Porque a comunicação entre espíritos, vivos e mortos, o desejo como força geradora do destino e a reencarnação, foram elaboradas de forma puramente humana. O astrofísico Alan Kardec, sem assistência filosófica ou teológica ao que parece, retomou o carma indiano para contabilizar os atos bons e maus praticados pelo homem. Em caso de saldo negativo o espírito fica obrigado a voltar à terra para aperfeiçoar-se em outro corpo.
Acredite-se ou não, o fato é que a mediunidade de Chico Xavier deixou um
enigma para os estudiosos: mais de quatrocentos volumes que escreveu e disse terem sido psicografados. Autodidata, tinha inegável cultura literária e um intelecto superdotado e criativo. Apesar do pequeno grau de aprendizado escolar, era ledor inveterado e obsessivo, a ponto de quase perder a visão nesse afã.
Nos livros que escreveu, fala do amor que habita o homem mas ultrapassa a dimensão do tempo para entrar no eterno. As pessoas não se sentem à vontade quando chamadas a refletir sobre eternidade por associa-la à idéia de morte. E nasce a questão: se uma parcela de eternidade, a que se acredita estar no espírito, habita a pessoa humana, a participação na divindade não existiria somente com a vida biológica, acompanharia o homem em novo nascimento após a morte.
E porque o homem, quando na vida terrena, necessita acreditar na continuação do seu intelecto, tende a crer também que voltará à sua origem eterna. Repetindo Leonardo Boff, a morte, em vez de ser ruptura, seria uma restauração da vida, a volta ao útero do grande Mistério que desafia a razão e a inteligência humana.
O homem inventou o tempo para marcar a duração das coisas e da vida biológica, mas a noção de espírito não em principio nem fim. O ser humano é condicionado às noções do "de onde vim, e para onde vou". Do nada para o nada? Ou do mistério para o mistério? Jesus Cristo - a única referência humana desse Deus cuja natureza desconhecemos - segundo o testemunho dos que escreveram a Bíblia afirmou sua divindade encarnada e a prevalência da vida sublimada após a morte. Quem acredita que Cristo voltou à essência de Deus depois de assumir a condição humana, deverá crer no regresso do homem ao estado anterior ao seu nascimento. E nessa crença poderia estar, inclusive, a noção do que possa ser o céu dos cristãos, o paraíso dos muçulmanos. Ao ensinar a oração do Pai Nosso, Jesus teria empregado o verbo ser onde a tradução e várias modificações colocaram o verbo estar. O certo seria "Pai nosso que és o céu", em vez de "Pai nosso que estás no céu".
O certo é que dentro desse Mistério vida e morte nasceu o desejo humano de entrar na eternidade ao sair do tempo. Chico Xavier teve essa noção de vida eterna. Embora sua crença negue a natureza divina do espírito ao sujeitá-lo, várias vezes, ao tempo e à matéria, o poder de convencimento desse homem singular está vivo ainda e a televisão está se aproveitando dele nas suas novelas. Embora as novelas sejam fonte de negação do amor, a única das virtudes teologais que acompanhará o ser humano na passagem do tempo para o eterno! E-mail:[email protected]

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Mensagem N°10407
De: Waldyr Senna Data: Sexta 27/1/2006 13:53:10
Cidade: Montes Claros

Território Cinzento

Waldyr Senna Batista

Este final de janeiro assinala o fim das retrospectivas que alguns veículos de comunicação ainda insistem em publicar e, também, encerra o ciclo de reuniões promovidas por órgãos públicos a título de prestação de contas que setores da imprensa apreciam e denominam de confraternização. A da prefeitura foi realizada na quarta-feira, 26.
Essas reuniões constituem peculiaridade local, havendo quem considere positivo que aconteçam, por ver nelas a preocupação dos dirigentes das entidades em mostrar que cumpriram a obrigação deles. Ainda não se realizou nenhuma dessas reuniões para exibir balanço negativo, depreendendo-se que as coisas por aqui desenvolvem-se às mil maravilhas.
Dnocs, Codevasf e Unimontes cumpriram o ritual, com farto material de divulgação, inclusive brindes, e minuciosa referência a planos, para os quais a imprensa oferece generosos espaços. Nesse material nem sempre prevalece a preocupação de se evitar o culto da personalidade, quando deveria limitar-se ao que representa interesse público.
Esse cuidado é recomendável, no caso específico das três entidades citadas, que têm dirigentes envolvidos em processo eleitoral. No Dnocs e na Codevasf, os atuais chefes são citados como pretensos candidatos nas próximas eleições. Eles são os primeiros políticos designados para as funções que exercem, anteriormente ocupadas por técnicos pertencentes aos quadros das organizações ou recrutados em repartições similares do governo.
O que não chega a surpreender, pois, ao assumir o poder, o PT cuidou de aparelhar os órgãos públicos. Aqui, um desses políticos, petista, exercia cargo eletivo em cidade da região, do qual se afastou, e o outro foi designado por influência de um deputado do PMDB, a quem poderá vir a suceder na chapa no caso de se confirmar a desistência do padrinho.
Na Unimontes, seu dirigente máximo cumpre o último ano do mandato, com direito a reeleição, devendo passar por processo de formação de lista tríplice mediante pleito direto nos quadros da entidade e designação por ato do governador do Estado. Tem tudo para figurar entre os três e chances ainda maiores de ser reconduzido, já que, pelo menos aparentemente, conseguiu neutralizar a raivosa oposição que encontrou ao assumir e está respaldado por deputados governistas.
Como nenhuma das três entidades disputa mercado, pois têm atividades definidas e recursos orçamentários garantidos, não haveria motivo para transformar as reuniões em publicidade ostensiva. Até porque a demanda pelos serviços que elas prestam é muito maior do que a oferta, ao ponto de, no caso da universidade, haver provas de seleção para o preenchimento de vagas. A Unimontes não necessita de publicar anúncios, bastando-lhe a divulgação institucional que os veículos de comunicação sempre lhe garantiram. Ela conta com uma espécie de usina para produção de releases, que funciona a todo o vapor, com textos em que a figura do reitor é sempre evidenciada.
O Dnocs e a Codevasf têm de ser vistos também sob esse prisma. Ambos, recentemente, estiveram ocupando capa e páginas em revista editada na cidade. As reportagens tiveram o escopo de divulgar as obras que os órgãos realizaram na região, publicidade essa que, ao que parece, foi custeada indiretamente por fornecedores e prefeituras. O que complica a avaliação do procedimento é que esse tipo de divulgação nunca havia sido feito por aqui, tornando-se difícil dissociá-la do posicionamento político e eleitoral dos atuais dirigentes.
Em face da grave crise que o país atravessa, em que o governo sofre intenso bombardeio da imprensa e da oposição, essas coisas devem ser conduzidas com cautela, ainda que os abalos provocados pelo tsuname que se registra em Brasília não tenham sido sentidos por estas bandas.
O certo é que essa proximidade da imprensa com o poder geralmente produz zonas cinzentas suscetíveis de interpretações incômodas, pelo que deve ser sempre cercada de maiores cuidados.
(Nota da Redação: o jornalista Waldyr Senna é o decano - "( "o mais antigo ou mais velho dos membros de uma classe, instituição ou corporação; deão") - dos repórteres politicos de Montes Claros, e o mais respeitado entre todos.
Milita no jornalismo desde o final dos anos 50 e foi durante décadas o autor da célebre coluna "Fatos & Personagens" do "O Jornal de Montes Claros".
É reverenciado por consagrados jornalistas que, entre outros méritos, reconhecem-lhe independência de análise, apurado "faro" de repórter e alta e exata capacidade de síntese. É, ao lado do jornalista Oswaldo Antunes, o totem do jornalismo montesclarense).

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Mensagem N°10342
De: Oswaldo Antunes Data: Quarta 25/1/2006 12:20:28
Cidade: Montes Claros

SALÁRIO E PESQUISA

Oswaldo Antunes

Pesquisa inicial de intenção de votos indica pequena melhora do apoio ao
atual Governo. Se continuar, essa tendência estaria indicando que a oposição
exagerou ao tentar demonstrar a incapacidade, ética e funcional, de um
governo que, bem ou mal, nasceu na base popular. A muita gente pareceu, e
está parecendo, que se tenta convencer o povo de que ele sempre toma a
decisão errada e melhor seria deixar o País e seus problemas sob o
controle da elite, mais letrada e experiente. A classe média se sentiria
representada - é assim em todos os governos porque ela comanda a burocracia
e lidera o pagamento e gasto dos tributos. O povo, mantendo-se ignorado e
ignorante, continuaria carregando as pedras de penitente.
A pesquisa ainda reflete, predominantemente, a crise do mensalão. Mesmo
assim, pela primeira vez, parece mostrar uma opinião que se organiza: 60%
das intenções originárias do salário mínimo. Na antecipada e contínua
campanha eleitoral, a oposição não considerou esse fator, que começou a
pesar na ultima eleição e permanece ativo. Os ataques, ao incluir ameaças
físicas à pessoa do Presidente, o Lulinha paz e amor, exageram. O operário
que está no Governo tem uma presença coletiva. Ao criticar a política social
e tratar como novidade praticas seculares, criou-se um bumerangue que
ameaça voltar. Parlamentares, antes ameaçados de cassação, assumiram o papel
da policia de costumes, em favor de seus partidos, sem pensar que estavam
ameaçando mais de trinta milhões de brasileiros que vivem do pequeno ganho
das bolsas. Ao desmoralizar o governo tido como popular, usaram uma carga
teatral cansativa em três CPIs repetitivas. As casas do Congresso foram
usadas com simulação de ética e, por isso, quando os ataques entraram em
recesso duplamente remunerado, voltou-se contra os próprios acusadores o
mau emprego do dinheiro publico.
Uma só pesquisa evidentemente não mostra tendência, nem prevê os frutos da
campanha que virá. Mas o percentual dos mal remunerados que querem a
reeleição do atual Presidente mostra que quem ganha o mínimo começa a agir
para influenciar no emprego do dinheiro arrecadado. Mesmo sem o plano
fantasioso, sempre pedido e nunca aplicado pela oposição quando governo.
O Plano de Nação, ninguém conhece ou sabe o que seja, sabendo-se apenas que
é impossivel com trinta milhões de pessoas marginalizadas

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Mensagem N°10279
De: Flavio Pinto Data: Segunda 23/1/2006 12:24:52
Cidade: Belo Horizonte

COLÉGIO IMACULADA


Ah! Apaixonado menino...Onde estará?

De lânguidos olhares à espera da amada, postado na sombra da árvore do canteiro do meio da Rua da Fábrica.

Todos os meios dias de todos os dias na frente do Imaculada, na saída do turno da manhã.

E aquela freira que olhava.

A mesma freira no portão - como se estivesse numa foto antiga na frente de medievais castelos – com uma grande chave de ferro amarrada a um grosso cordão branco preso na cintura, sempre fingindo um olhar sério, mas com um indecifrável sorriso da Gioconda, torcendo, imperceptivelmente, a favor do amor.

Um rápido beijo, livros e cadernos trocando de mãos e o caminhar juntos para casa, passos contados e sorrisos incontidos na alegria do apenas estar perto.

De noite, assobiando.

“Enluarada noite, de sete estrelas...”


Abraços a todos.


Flavio Pinto


Ps: Vi a Cel.Prates, de cima, ontem, amanheci assim, hoje, nesta bestagem, a saudade doendo.


( Nota da Redação: A pintura de Hélio (Patão) Guedes retrata a antiga fachada do Colégio Imaculada, o "colégio das freiras", prédio lamentavelmente demolido na década de 80; o casarão foi residência do coronel Francisco Ribeiro, que ao morrer deixou sólida fortuna para os seus descendentes - irmãos e sobrinhos - da família Ribeiro).

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Mensagem N°10241
De: Waldyr Senna Data: Sexta 20/1/2006 16:35:02
Cidade: Montes Claros

“Complexo de vira-latas”

Waldyr Senna Batista

Há quem atribua à grande imprensa o vezo de só abrir espaço para Montes Claros e Norte de Minas em geral quando se trata da divulgação de notícias negativas. Haveria predisposição nesse sentido, com o objetivo de denegrir a imagem da região.
De nossa parte, diríamos que quem assim pensa sofre do que popularmente se denomina mania de perseguição. E o dramaturgo Nélson Rodrigues, bem ao seu estilo irreverente, chamaria de “complexo de vira-latas”, que consiste em as pessoas se atribuírem a incapacidade para competir.
O que se pode dizer, quanto à imprensa, é que não há essa deliberação premeditada; e, quanto ao Norte de Minas, a realidade é que nem sempre é favorável, inclusive por culpa de suas próprias lideranças,que quase sempre se mostram apáticas e incompetentes.
Agora mesmo o jornal “Estado de Minas”, de Belo Horizonte, divulgou resultado de pesquisa realizada com 85 das maiores empresas do Estado, em que o Norte de Minas aparece como a região mineira mais propícia a receber investimentos. E Montes Claros, nesse levantamento, é considerada a cidade mais atrativa para novos empreendimentos.
Isso não é pouca coisa, especialmente se se considerar que se trata de pesquisa realizada por empresa de renome internacional – a Deloitte – a serviço da Fiemg (Federação das indústrias de Minas Gerais), entre outubro e dezembro do ano passado, e cujo objetivo era sondar as perspectivas do setor para 2006. De forma geral, os empresários consultados manifestam-se propensos a aumentar os investimentos no Estado, notadamente na modernização das linhas de produção, esperando lucros e faturamento maiores do que os do ano passado. O cenário prevê a contratação de mais empregados e o aumento dos gastos em programas sociais, principalmente os voltados para a educação.
As previsões são de que o PIB (produto interno bruto) mineiro vai superar o nacional neste ano (4% contra 3,5%), o que o presidente da Fiemg, Róbson Andrade, atribui ao diálogo da iniciativa privada com o governo do Estado: “Hoje, temos parceria e diálogo com o governo, o que cria no empresariado a sensação de apoio e gera ambiente para negócios”, afirma ele. No que é seguido pela diretora de marquetingue da consultoria Deloitte, Heloísa Montes, que destaca: “ O ambiente de negócios em Minas é bastante positivo, influenciado especialmente pela postura de diálogo do governo estadual”.
Esse otimismo revelado pela pesquisa chega a surpreender, a partir da recomendação de nada menos de 46% dos entrevistados para que a região Norte de Minas seja prioritária nos investimentos do governo do Estado neste ano. Montes Claros, a cidade-pólo, é apontada em primeiro plano para receber esses recursos.
Segundo o jornal, nem a Deloitte sabe explicar essa preferência da pesquisa. “Talvez seja por se tratar de uma região que pertence a uma área que recebe incentivos fiscais do governo federal”, sugere Heloísa Montes. E Róbson Andrade reforça: “o Norte de Minas tem grande potencial para setores como agroindústria, biotecnologia e gemas e jóias”. Mas ele cita como ponto negativo a precariedade das condições das estradas na região.
A reportagem do “Estado de Minas”, por seu turno, alinha outros aspectos favoráveis à região: “Montes Claros, por exemplo, tem a mais moderna unidade industrial da fabricante de tecidos Coteminas (...) e as unidades de biotecnologia da Biominas. Um pouco mais adiante, Janaúba aparece como grande produtor de bananas para (abastecer) Minas, Rio e São Paulo. Jaíba, por sua vez, concentra ambicioso projeto de irrigação, cuja segunda fase, que tira de cena o produtor individual para abrir espaço às empresas, foi recentemente inaugurada pelo governo. Pirapora, também na região, poderia tornar-se um pólo turístico vigoroso, às margens do rio São Francisco”.
Trata-se, como se vê, de divulgação das mais positivas, que em nada revela predisposição contrária aos interesses do Norte de Minas. Pelo contrário. Mas, que se saiba, a publicação do jornal belo-horizontino passou despercebida, aqui e na região. Ninguém se manifestou ou se dispôs a manter contato com o empresariado ligado à Fiemg para obter mais informações e mostrar interesse em dar seguimento à disposição de boa vontade contida na reportagem. No caso, as prefeituras da região, Montes Claros à frente, e a nossa sempre eficiente Associação Comercial e Industrial.

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Mensagem N°10202
De: Oswaldo Antunes Data: Quinta 19/1/2006 11:34:02
Cidade: Montes Claros

A VINGANÇA ATUALIZADA

Oswaldo Antunes

Depois de caracterizar-se como desforra, a criminologia pretendeu dar ao castigo prisional o sentido de reeducação e reparação da tranqüilidade social. O crime suscita medo de repetir-se quando não há intimidação. E a sociedade, apesar de sua omissão ou egoísmo procura defender-se. Na verdade, reeducação do delinqüente nunca existiu, a não ser em casos particularíssimos. Ao contrário, as cadeias sempre funcionaram como escolas de graduação criminal. Enquanto tudo evolui, o modo de corrigir delitos permanece na forma antiquada das desigualdades sociais. Com o aumento do procedimento delituoso, cresce também a revolta coletiva. E sem poder punir a organização criminosa, a agressividade geral volta-se contra a pessoa do criminoso. E acontece o linchamento legalizado que se vê nas prisões, outra espécie de crime. Do modo como é executada, a pena passou a ser vingança. Vingança lenta, ineficaz e prejudicial aos cofres públicos. O leitor possivelmente nunca viu de perto o suplicio, tortura e promiscuidade existentes nos presídios superlotados. A falta de espaço para movimentar-se, e até para respirar, em milhares de celas por esse País afora, é crime hediondo, maior por estar muito ligado à exclusão social. Pena de morte que difere da convencional somente pela crueldade que transforma em sadismo o que devia ser aplicação da Justiça. Segundo Gustavo Barroso, entre os colonos que vieram para o Brasil com Mem de Sá, estava Ana Roiz, mulher do rabino Heitor Antunes que, por insistir, aqui, na pratica de sua crença religiosa, a Inquisição levou para Portugal e condenou. Morreu durante o processo mas, para cumprimento da pena, teve os restos mortais desenterrados e queimados. Esse tipo de punição vingativa criou raízes. Se fizermos a comparação com fatos passados, nos carandirús de hoje a diferença está na legalização da tortura que a televisão mostra diariamente. Antes, por ignorância, se punia a religiosidade. Hoje, o individuo paga por quinhentos anos de hipocrisia social. E não somente aqui. Um americano cego, surdo e doente, ao 76 anos foi executado 23 anos após a condenação. Sofreu parada cardíaca e foi ressuscitado para morrer legalmente no cumprimento da sentença. Em nossas prisões, o corredor da morte é substituído pela tortura moral e física, vícios, sodomia e enfermidades, tudo passivamente aceito como forma de cumprimento da lei.

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Mensagem N°10146
De: Web Outros Data: Terça 17/1/2006 09:38:06
Cidade: Belo Horizonte/MG

As águas passadas

Manoel Hygino dos Santos (Jornal Hoje em Dia, 17/01/2006)

No último dia 5, comentei aqui o Lua Nova, bar no edifício Maletta, que foi por muitos anos ponto de encontro de jornalistas, escritores, artistas, professores, em Belo Horizonte. Agora, saiu um livro sobre aquela gente que fez da capital mineira um núcleo intelectual importante.
Para Luiz de Paula Ferreira, advogado, escritor e empresário em Montes Claros, o café ou boteco pode ser considerado uma instituição nacional e indispensável à comunidade, como sobre o Lua Nova se expressaram várias personalidades. Ao da capital ocorria, por exemplo, o médico e hoje pintor consagrado Konstantin Christoff, como conta o volume recém-editado.
Mas Luiz de Paula recorda um estabelecimento de seu tempo em nossa cidade. Revolvendo velhos papéis, motivado pela minha crônica, encontrou anotações sobre o Bar do Norte, o Bar de `seu` Tito, por sinal irmão de Cyro dos Anjos, autor de livros inesquecíveis e cujo centenário de nascimento se comemora neste 2006.
Quantos passaram pela esquina da Rua Governador Valadares com Simeão Ribeiro, na noite de 18 de setembro de 1966, depois das 20 horas e até alta madrugada, se surpreenderam com uma inusitada aglomeração.
Vou simplesmente repetir o que diz Luiz de Paula: Escrevia-se naquele dia e naquela hora uma página da história de Montes Claros. Fechava-se o bar de `seu` Tito, depois de a casa, tradicional e amiga, cumprir destino igual ao que, um dia, cumpriu no Rio de Janeiro o Café Nice, tradicional ponto de reunião da intelectualidade e da boemia da terra carioca.
Ali pontificaram Olavo Bilac, Raul Pederneiras, Emílio de Menezes, José do Patrocínio e muitos outros. Ali tão notáveis brasileiros marcavam encontros e ali deixavam recados. Ali também florescia a poesia do Brasil, antes que os modernistas em 1922 viessem revolucionar o legado de gerações.
Ao Bar do Norte afluía a geração da mais sadia boemia da cidade, gente de vária formação e profissões, movidos pelo mesmo interesse de devanear, conversar, espairecer, desligar-se dos cotidianos problemas ou sobre eles esmiuçar.
Era mescla de pensamento e doce contemplar das cousas. Nunca faltou platéia. Que páginas, que segredos, que presença de vida em cada noite daquele bar. Benjamim dos Anjos, José Luís Barbosa, Nélson Versiani, Antônio de `seu` Basílio, João de Paula, Vírgilio Pereira, João Botelho, Joaquim Abreu, Domingos Lopes, Olímpio Abreu, Luiz de Paula, João Mió, João Estrelinha, Juquinha Catinga Limpa, Isidório das Vertentes, Augusto-Cadê-a-Chuva, Abdias Marceneiro, Dr. Olegário dos Anjos, Dr. Henrique Chaves, o poeta Geraldo Freire, João Capivara, José de Chico Doce, Domingos de Timóteo, Benedito Maciel, José Paraíso, Augusto Guimarães, Juca Barbosa, Telé Guimarães, Dr. Alfredo Coutinho, Demerval Pena, Ernesto Moles, Hermes Pimenta, Paraguayto, Odilon da Força e Luz, Quinca Malveira, Vavá Alfaiate e tantos e tantos outros.
Com tantos bares, cafés, confeitarias, botecos do Brasil, viu encerrada a carreira, descendo inexoravelmente as portas sobre um tempo que não volta mais; sobre gente que sabia e precisava passar sobranceiramente os dias, aproveitando a cálida presença dos amigos.
Assim como inúmeros estabelecimentos de Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro, de cidades espalhadas pelo imenso território, o Bar de seu Tito, depois de participar da vida de sua comunidade, pagou tributo à transitoriedade dos homens e de suas cousas. Cessou ali o ambiente propício ao debate franco das idéias da busca abstrata das soluções. Os que sobrevivem àquela época sabem-no perfeitamente.
Divido com Luiz de Paula as reminiscências deste escrito, tão marcado pelo calor humano. Sic transit gloria mundi.

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Mensagem N°10141
De: Waldyr Senna Data: Segunda 16/1/2006 21:03:52
Cidade: Montes Claros

Tema para Reivaldo Canela

Waldyr Senna Batista

Rubens França de Sá, cidadão prestimoso, está estabelecido na avenida Sanitária com pequena indústria de serralheria. Ali ele ganha o sustento de sua família, mas também dedica boa parte do tempo a atender os amigos em trabalhos comunitários e de natureza pessoal. Sente prazer em ser prestativo, o que faz dele uma das pessoas mais ativas do Rotary Clube.
Um dia, há sete anos, assaltou-o a idéia de arborizar o canal do rio Vieira, em frente ao seu estabelecimento. Adquiriu mudas de oitis, que multiplicou nos fundos de sua indústria. Plantou algumas, entregou outras a vizinhos, e logo o canal poluído do córrego adquiriu visual novo, no trecho que começa na ponte da avenida João XXIII e vai até a confluência da avenida Sidney Chaves, no ponto popularmente conhecido como conjunto das castanheiras (que curiosamente não tem castanheiras...).As mudas por ele plantadas prosperaram mais do que as que ele confiou aos vizinhos, porque ele as regou assiduamente com água da torneira.
Seu exemplo foi seguido por alguns habitantes das imediações, como Édson Soares e um seu vizinho, que fizeram a arborização a partir das “castanheiras” até o final da avenida Sidney Chaves usando mudas de árvores frutíferas ( manga, caju, acerola e outras ), molhadas com água de cisterna transportada em regadores. Elas estão uma beleza.
A prefeitura, na administração passada, ao que se informa compelida por decisão judicial, também fez o plantio de dezenas de árvores, a montante do riacho, até a antiga ponte da Vila Brasília. E, mais recentemente, a empresa Monvep, de consórcio de veículos, ao “adotar” o trecho da avenida, realizou plantio, daquele ponto, até a ponte em frente ao restaurante Lumas. Somando tudo, são quase quatrocentas árvores em franco desenvolvimento, a maior parte como resultado do trabalho de Rubens França de Sá, que se orgulha de haver inspirado essa obra de cunho comunitário. Um tema de que melhor cuidaria o nosso amigo Reivaldo Canela, ecologista por devoção.
Pois, na semana passada, quando se dirigia a sua oficina, Rubens foi tomado de estupefação, ao deparar-se com operários da prefeitura roçando o mato que vem tomando conta dos aterros (“gabiões”) da avenida Sanitária e, ao mesmo tempo, foice em punho, decepando árvores. Não se conteve: aos gritos, protestou, ordenou que cessassem a destruição e, como não foi obedecido, quis saber de quem partira a ordem absurda. Os assustados operários citaram o nome de Carmino Silveira, chefe da divisão de parques e jardins da prefeitura, esclarecendo mais que a derrubada se estenderia a todo o canal, até as proximidades do distrito industrial. Nesse percurso, e em outros pontos da cidade, serão plantadas palmeiras, disseram eles. Àquela altura, já haviam sido ceifadas umas trinta árvores.
O barulhento e obstinado Rubens, ali mesmo, disparou telefonemas para o prefeito Athos Avelino, para o secretário Paulo Ribeiro ( meio ambiente ) e para o chefe de divisão autor da ordem destruidora, mas não conseguiu falar com nenhum deles. Apelou então para o Ministério Público, onde estava o promotor Daniel Batista Mendes, que conseguiu sustar o corte até que o alto comando da administração retorne à cidade. Mas, mesmo assim,o indignado Rubens continuou agindo: falou em reunião de alguns clubes rotários, apelou a órgãos da imprensa e se diz disposto a tudo para preservar as árvores. Contesta o argumento de que elas teriam de ser substituídas para preservar o canal cimentado do rio, pois ele está cinco ou seis metros abaixo das raízes.
O episódio é ilustrativo (no pior sentido) do que constantemente ocorre quando da mudança de administração, nos três níveis: quem assume imagina que a história só começa a partir de sua chegada. Alguns precisam se afirmar e mostrar serviço, o que os leva a cometer absurdos como esse crime ecológico de que estamos falando. Nada recomenda a substituição de oitis e frutíferas por palmeiras, até porque estas podem não vingar, enquanto as outras têm até sete anos de idade. E quem garante que, com as alternâncias futuras, não surgirá outro administrador munido de motosserra deitando abaixo as palmeiras?
O exemplo de Rubens França de Sá, em vez de desmerecido, precisa ser apoiado e recomendado. Principalmente no momento em que se festeja a criação do parque da Lapa grande, que visa, exatamente, a preservação da natureza. Uma contradição.

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Mensagem N°10133
De: Oswaldo Antunes Data: Segunda 16/1/2006 11:37:03
Cidade: Montes Claros

A PALAVRA NO SILENCIO

Oswaldo Antunes

É de Jacques Maritain a afirmação surpreendente: o amor possui uma só palavra e, dizendo-a sempre, nunca a repete. Pode-se imaginar não ser essa palavra, a comum expressão gramatical e sim a manifestação intuitiva do silencio que fecunda. A comunicação pelos sons, que nasceu com no tempo e a evolução silenciosa, fez-se necessária, mas não necessariamente indispensável. Por ser arranjo verbal, costuma deturpar a essência do pensamento e seu efeito simbólico pode ser esquecido ou deletado. Só a comunicação feita dentro do silencio com a fonte da criação se preserva além dos limites do tempo. Em parte dependemos da emissão dos sons para transmitir imagens mentais e nos alegramos ou entristecemos com seus efeitos. Mas quem vive e trabalha na formulação das palavras, sabe que elas nem sempre são a essência dos sentimentos. Cecília Meireles se referia ao temor humano pela incapacidade de mostrar que nos acabamos todos os dias na tristeza, na dúvida, até no amor; assim como nos renovamos nos sentimentos. Para ser outro, somos sempre o mesmo e morremos por idades imensas, até perder o medo de morrer. As verdades imutáveis, as que independem de vocábulos, causam medo. Embora o ser humano se aproxime pela voz, é no silencio que se doa e é sempre verdadeiro. Na passagem em que Pilatos perguntou a Cristo o que é a Verdade, Ele permaneceu calado mostrando a inutilidade do que poderia ser dito. Assim também, na criação do mundo, o principio se confundiu com o nada, só o espírito pairou sobre as águas onde o verbo silencioso criou. Imaginemos então que assim tudo pode ter sido feito e assim poderá vir a ser com tudo e cada. E veremos que vale a intuição do que existe e não pode ser dito na mudez das coisas. Na predição silenciosa em que as flores se perpetuam e não se repetem. No movimento das águas, rios que sobem e nuvens que descem para os rios. Na mudez das pedras que permanecem enquanto as palavras passam. Muitas vezes nos vexamos por conversar quando estamos sós. Quando ouvimos o inaudível e dialogamos com o inconsciente. E nos incomodamos porque uma palavra inexata deu a essa manifestação do silencio um significado patológico. Mas foi dialogando assim consigo mesmo, intuitivamente, que Albert Einstein descobriu as leis elementares que mudaram o mundo. Para chegar ao imensurável a palavra não é necessária.

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Mensagem N°10106
De: Flavio Pinto Data: Sexta 13/1/2006 21:00:15
Cidade: Belo Horizonte-MG

PORCOS E PRATOS VERDES



Um prato que sempre gostei - aliás todo mineiro que se preze e não tenha problemas com colesterol e estas coisitas à toa que levam o cidadão, devagarzinho, ao
cemitério, gosta – é um leitãozinho à pururuca.
Prato obrigatório no Natal , mas que nós, mineiros adoramos comer e repetir o ano inteiro.
Mas, vocês me desculpem a franqueza, porco verde eu não como não, e nunca comerei, já vou adiantando para o pessoal de Taiwan.
Até que comprar um relógio baratinho à prova d’água - que não agüenta nem cheiro de neblina - posso, até. Mas é só.
Embora confesse, deixando na trilha da imaginação a veia culinária me levar, me passasse levemente pela cabeça que uma leitoa verde com arroz branco e pequi poderia até ser um belo de um prato patriótico, digno de reis e presidentes estrangeiros em Brasília.
E o azul ? Perguntarão logo os mais afoitos, e eu lhes direi : o pequi é lá de Campo Azul !
E está morta Inês.
Eu vi no Mural um alerta sobre essa modificação genética, que parece estar em moda por este mundo afora onde o povo não tem mais o que inventar.
Mutatis, mutandis, lembro de já ter me ocorrido vontades e necessidades de promover eventuais mutações genéticas, como a querer consertar certas coisas para a felicidade do bem comum.
Na política também, onde existe o vermelho vergonha de trair o voto recebido e o amarelo burro fugido de não cumprir as promessas feitas antes da eleição.
Mas isso é outra coisa...
Das que eu, pseudocientista de fundo de quintal, já pensara em mudar a original coloração, tentando fazer parte desta modernidade pré-apocalíptica, uma, com toda a certeza, seria passar o abacate para outra cor que não fosse o verde. Inclusive a própria casca.
Mas não passou da simples idéia.
E explico : meus filhos, quando pequenos, nunca o comiam porque não gostavam de nada verde, aí incluído todo e qualquer tipo de verdura ou legumes levemente esverdeados.
Era quando eu, preocupado e antiquado pai, lhes apresentava, então, com ares de vitória, cenouras e beterrabas e, do mesmo jeito, sem nenhuma alegação plausível, eles também os rejeitavam, apesar do colorido diferente.
Acho que foi aí que minha carreira de futuro cientista louco transformador genético se encerrou.
Quanto ao abacate, anos mais tarde vim prová-lo com sal e temperos, o famoso “guacamole” item obrigatório do cardápio da comida típica mexicana e não detestei de todo, desde que acompanhado de alguma carne, permanecendo a verde coloração com sucesso.
Desde que você o prepare e sirva logo, senão escurece.
O petisco mexicano, não o céu.

Abraços a todos.

Flavio Pinto

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Mensagem N°10026
De: Oswaldo Antunes Data: Terça 10/1/2006 11:48:25
Cidade: Montes Claros

O POVO CONTRA O POVO

Oswaldo Antunes

Somos um país com desigualdade social e racial gritante, injusta e antiga, mas aceita e tida como inevitável. Pretos, pardos, mulatos, índios e pobres, na vida pratica, não são iguais aos outros. Essa desigualdade é explorada nas campanhas eleitorais, quando se busca o poder, não para mudar, mas para mantê-la. Brancos e ricos podem usar Caixa 2; mestiços e pobres, não. O Presidente do Superior Tribunal Eleitoral está confirmando a impossibilidade de acabar com o Caixa 2, que sempre existiu nas eleições. A desigualdade de tratamento é um tipo de violência que não usa força física, vale-se de uma convenção falsa de liberdade. Suas vitimas não reclamam, chegam até a formar opinião a favor do opressor. Mas quem está fora do País, vê. O filosofo italiano Antonio Negri, 72,professor titular da Universidade de Pádua e professor de filosofia do Colégio Internacional de Paris, escreveu recentemente: "Há vários meses, com doses a cada vez renovadas de hipocrisia e cinismo, o governo Lula está sendo praticamente linchado por toda a grande imprensa nacional. Em um país como o Brasil, a "criminalização" de apenas "dois anos" do único governo não oriundo elites, seria hilária se não fosse trágica. Apenas o preconceito de classe e até racial pode explicar tão leviana adesão a uma "verdade do poder" que - no Brasil - tem a mesma cara e a mesma violência da desigualdade social e racial da qual ela é uma triste representação." Já dissemos que a onda formada pela imprensa partidária está impedindo nossa primeira administração popular, que, aprendendo, acerta em muitos setores e erra muito politicamente. Essa onda, puramente eleitoral, prejudica, inclusive, a atuação dos bons jornalistas. Há poucos dias o jornalista Waldir Senna Batista, com imparcialidade e competência, criticou o modo darecepção ao Presidente em Montes Claros e disse que ele fez aqui campanha política. Quando há reeleição, como agora, o mal é esse: o que se faz em um período é tido como propaganda para o outro. E gera radicalização: da oposição e dos que defendem o governo. Sair hoje em defesa de um governo popular é ato de coragem. Porque a imprensa orienta a opinião púbica a negar o que está acontecendo de bom. Na economia, por exemplo. O projeto de criação de uma renda universal como a bolsa família, que o mundo vê com otimismo, o radicalismo classifica de demagogia. O aumento constatado da renda rural não interessa. Os recordes da balança comercial, a queda da inflação, o aumento do emprego formal, o menor risco Brasil de todos os tempos, tudo é esquecido. Lembra-se apenas, há quase dois anos, o deprimente episódio Delúbio-Marcus Valério. Cadê os confiscos do Plano Cruzado, a engabelação dos fiscais de Sarney com a hipócrita congelação de preços que acabou no dia seguinte à eleição? E as privatizações sub valorizadas do governo passado, o dinheiro publico para banqueiros, a compra da reeleição de FhC? Nada disso parece ter sido errado, simplesmente porque foi bem feito pela elite. A radicalização, até certo ponto, é necessária como conseqüência. Os que entendem que a imprensa já não é guardiã da verdade e alardeia o falso, não vêem outro caminho, senão o gueto ou a trincheira, para guardar o que é verdadeiro. E somente uma minoria, hoje, está vendo a tisuname da hipocrisia jogar o povo contra o povo.

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Mensagem N°10011
De: Waldyr Senna Data: Segunda 9/1/2006 16:29:46
Cidade: Montes Claros

Mais uma operação tapa-buracos

Waldyr Senna Batista

O que Lula falou aqui sobre estradas não foi exatamente o que, em Brasília, ele já havia mandado executar. Aqui, ele fez apenas o anúncio das medidas, dizendo que iria mandar recuperar a rodovia que liga Montes Claros a Curvelo. Mas quem ouviu entendeu, por conveniência própria, que o presidente estava atendendo o pedido que lhe foi entregue naquele momento e que ele não lera ainda, para a reconstrução da estrada. Rigorosamente, o que ele informava é que seria executada mais uma operação tapa-buracos, das quase uma dezena realizadas no trecho e que a cada ano, sistematicamente, foram levadas pelas enxurradas. É que o anseio dos ouvintes, de solução do problema, era tão grande, que houve recepção inadequada da mensagem. Na verdade, o chefe do governo nem se referia ao trecho crítico que tanto prejudica e preocupa a região, mas, sim, falava da operação emergencial constante de medida provisória, que já assinara e que abrange 26,1 mil quilômetros de estradas em 25 estados ao custo de R$ 440 milhões. Uma migalha em relação ao volume do estrago que transformou quase toda a malha rodoviária do país em imenso pesadelo, que o presidente precisou de exatos três anos de mandato para perceber. E ainda bem que percebeu. Mas como o pessoal havia preparado os ouvidos para a melhor notícia, acabou entendendo mal, ao ponto de alguns políticos, inclusive deputados paraquedistas, cuidarem de assumir a paternidade da criança, quando na realidade tratava-se de repetição da velha fórmula, que nada mais é do que desperdiçar dinheiro público. Com a agravante de que, desta vez, na maior parte da área conflagrada, as chuvas vão continuar intensas, o que impedirá a realização das obras no tempo de sangria desatada que o presidente deseja e precisa. Mas ninguém iria querer desapontá-lo, recusando o presente, mesmo sabendo que a buraqueira vai reaparecer em curto espaço de tempo. E Lula tem pressa, pois a campanha eleitoral já está na rua e ele não quer dar a entender que está mandando executar o serviço em praticamente todo o território nacional só porque vai ser candidato à reeleição. Todo o mundo está convencido de que ele ainda não decidiu ser candidato, e até torce para que venha a ser, pois, se sem ser ele é capaz de tanta generosidade, imagine se vier a entrar na disputa, aí então é que será aquela maravilha. De forma que aquele discurso de Lula anunciando asfalto e criticando os governadores que desviaram para outra finalidade os recursos federais enviados especificamente para o conserto das estradas, não foi assim tão de improviso. Ele falou de caso pensado. O palanque foi adrede armado para isso, embora muita gente tenha considerado que o presidente exagerou ao incluir na visita inauguração de farmácia sem medicamentos e de restaurante popular sem comida. É verdade que entregou quatro ambulâncias para o programa denominado de SAMU e que já haviam sido trazidas pelo ministro da saúde, Saraiva Felipe. Bastaria limitar sua fala às estradas e à definição da instalação na cidade da usina de produção de biodiesel, o que não é pouca coisa. O ministro é que acabou sendo o grande beneficiado pela vinda do presidente, em termos eleitorais, aproveitando bem sua meteórica passagem pelo ministério, pois consta que já estaria limpando as gavetas para entrar na campanha para sua própria reeleição. O que não se pode negar é que a vinda de Lula à cidade foi benéfica e vai marcar época, noves fora os contratempos protocolares e de excesso de segurança, o que é mais do que natural nos dias que vivemos, e a decepção dos eternos aproveitadores, que aí estão tentando demonstrar, sem acanhamento,que fizerem e aconteceram e que, por isso, merecem ter seus mandatos renovados. O povo sabe, o povo decidirá.

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Mensagem N°9999
De: Flavio Pinto Data: Segunda 9/1/2006 10:49:31
Cidade: Belo Horizonte

PRAGA DE NORTE-MINEIRO

Para todos aqueles que nos proporcionaram e contribuíram para a sublime
desventura e vergonha de chegarmos a este ponto, de ter que nos sujeitarmos
ao pagamento de um espúrio pedágio para ir além dessa placa , nesta outrora
linda estrada asfaltada (que já foi nosso orgulho) conseguida a duras penas
e pedida até em versos pela nossa fina flor musical...

...Para todos esses que esconderam e desviaram as verbas de
manutenção/conservação da nossa estrada, agindo tal e como desequilibradas -
e foras de moda - primas donas , em longas e particulares saias-justas de
prejuízo completo ao bem público de nossa comunidade norte- mineira...

...Para todos eles, que o povo sabe muito bem quem são : eu, modesto
escrevinhador deste Mural, vendo impedido - não pelos ínfimos dez contos em
si, mas pela simbologia histórica que representa - o meu livre caminhar, o
meu ir e vir normal de toda a vida para a minha terra, para o meu sagrado
canto no mundo, que eu tanto amo;

Para aqueles, para esses e para eles, eu dedico estas palavras de Dante
Alighieri ( e o lugar também ), da sua imortal obra "A Divina Comédia":

"CANTO XXI -Vala dos corruptos - Malebranche (demônios)

De cima de outra ponte paramos para ver a próxima fissura de Malebolge, que
era incrivelmente escura. Lá embaixo um grosso breu fervia. Eu olhava mas
nada via a não ser as bolhas de piche que a fervura levantava. Enquanto meus
olhos procuravam alguma coisa naquela escuridão, meu guia gritou:
- Cuidado, cuidado! - e logo me arrancou do lugar de onde eu estava.
Voltei-me e vi logo atrás um diabo preto que corria em nossa direção. Ai,
mas como ele tinha um aspecto feroz! Com suas asas abertas ele corria
ligeiro com os pés. Levava um pecador no seu ombro pontiagudo, que pelos
tendões dos pés tinha seguro. Parou diante da pez fervente, e gritou:
- Ó Malebranche, aqui está mais um daqueles anciões devotos de Santa Zita.
Cuida dele pois eu vou buscar outros. Quase todos naquela terra são
corruptos, exceto, é claro, Bonturo! Lá, com dinheiro, qualquer não vira um
sim.
Depois que falou, soltou o pecador das alturas, que submergiu no líquido
espesso. O diabo voltou correndo pelos recifes e sumiu na escuridão. O
pecador ainda tentou ressurgir na superfície, mas vários demônios que
estavam sob a ponte saíram e o perfuraram com mais de cem garfos, levando-o
a outra vez submergir".


Abraços a todos, menos estes ...

Flavio Pinto

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Mensagem N°9893
De: Oswaldo Antunes Data: Quarta 4/1/2006 11:28:16
Cidade: Montes Claros

A VIDA LEVE
Oswaldo Antunes

No ultimo dia do ano, o amigo, sobrevivente como eu, Konstantin Christoff, telefonou direto para a mesa em que escrevo. Insiste em que devo escrever crônicas mais leves. Usar isopor em vez de martelo. Depois, mandou-me um livro de Millôr Fernandes que ironiza outros dois: o empolado "Dependência e Desenvolvimento da América Latina", de Fernando Henrique Cardoso, e o intrincado "Brejal dos Javas", de José Sarney. Competir com Millôr ou imita-lo não convém. Culto e inteligente, ele escreve para quem tem o mínimo de entendimento do que seja a ironia, o elogio com segundo sentido. Mas o jornalista tem obrigação de se fazer entender por todos. Concordo que a crônica deve ser agradável e não estressante. Não obrigatoriamente humorística. Fazer a abordagem do cotidiano com um mínimo de poesia é bom caminho para o entendimento geral, porque poesia de verdade quem não entende sente. O que faz lembrar duas mulheres especiais: Cecília Meireles, que parece mediária entre o divino e o humano, e Cora Coralina, a poetisa da simplicidade. Conhecida pelo pseudônimo, Cora se chamava Ana Lins do Guimarães Peixoto Brêtas. Viveu no anonimato, e, já idosa, Carlos Drummond de Andrade leu suas crônicas e publicou esse recado: "Cora Coralina. Não tendo o seu endereço, lanço estas palavras ao vento, na esperança de que ele as deposite em suas mãos. Admiro e amo você como a alguém que vive em estado de graça com a poesia. Seu lirismo tem a força e a delicadeza das coisas naturais". Bastou essa fala simples do poeta federal para colocar na visão do Brasil todo a mulher que era tantas outras ao transformar em beleza o cotidiano. Moça, ela conheceu um advogado divorciado, fugiu, casou e teve seis filhos de sangue. Os outros filhos, seus livros, pouca gente conhece. Como desconhece o sensível e imaginário "Flor de Poemas" de Cecília. Reencontrei "Estórias da Casa Velha da Ponte", de Cora, em um sebo, na véspera do Natal. Tem o carimbo da biblioteca da Escola Estadual Dom Aristides Porto, mas foi parar na pechincha, a custo de vintém. Ao reler, revivi a emoção de Drummond: "Minha querida amiga Cora Coralina: ... sua poesia é das mais diretas e comunicativas que já tenho lido e amado. Que riqueza de experiência humana, que sensibilidade especial e que lirismo identificado com as fontes da vida!" A vida fica mais leve se, para começar o ano, o leitor sentir na própria experiência, nos momentos discordantes de tristeza e alegria, a poesia que ajuda a cavalgar até a origem do Mistério. Se toda gente cantar, porque o instante existe e a vida está completa. Se irmão das coisas fugidias, não ser alegre nem triste, ser poeta. Aceitar as noites, os dias, o vento. Cantar antes que venha o sono.

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